sexta-feira, 14 de junho de 2024

Luiz Souto Dourado

Luiz Souto Dourado

Dr. José Francisco de Souza*

Sintonizar as emoções e passar a viver com intensidade as mutações do tempo, é um estado de Espírito altamente compreensivo. Forma de entendimento situada na  esfera da sabedoria do silêncio. Recolhimento ao mundo interior, onde os problemas não constituem um desafio. Perdem a sua força à facilidade de suas soluções. Deixam de existir quando não somos a sua causa. Implica em se afirmar que o nosso comportamento é responsável pela manifestação desse problema. Assim os conflitos sociais, políticos, educacionais, e econômicos, não existem fora do nosso mundo.

Souto Dourado manteve com justiça os princípios fundamentais dessa temática. Foi um líder intelectual e convencia pela substância do verbo. Formação cristã de um homem temente a Deus, sem  temer os homens. O respeito era para todos, a coragem moral de auto afirmar-se era o patrimônio seu. Inclinado a aceitar que as funções de educador são proporcionais à capacidade de objetivar meios suficientes a ponto de suprir as deficiências do aluno, em usar a liberdade consoante seu entendimento. Que o ser humano não devia ser multiplicado apenas, como estatística da miséria. Por isso em todas circunstâncias sempre teve a postura convencional para disputar qualquer eleição. Dai seu prestígio sempre crescente em todos os níveis com ou sem a outorga do mandato.

Souto Dourado tinha a postura psicológica de gentleman, era filho de Garanhuns, sabia representar com dignidade de invulgar, a centenária cidade dos seus avós, intérprete fiel de sua vida política e cultural. Tipo dinâmico e intensamente móvel de cultura humanística muito sólida dos profundos conhecimentos jurídicos e dos segredos de sua profissão de advogado. De simplicidade sábia e comovente, não gostava de acrescentar letras no  seu nome: Luiz Souto Dourado, ou apenas Souto Dourado. Estava assim conjugado o valor de sua própria capacidade de  agir livremente. Com forma de saber e sentir o homem tem que superar o seu meio, sem hostilizá-lo. Sem atacar, nem agredir. Superior ao sem tempo presente. A liberdade era como o ensino uma espécie de  amizade. Forma de fazer amigos e um método de descobrir no aluno as suas tendências. Na consagração de suas ideias havia algo de realismo. O pacto social era  admitido se não existisse qualquer exigência prévia. Ideia preconcebida é antecipação eliminatória. Democracia é prática permanente em todos os níveis. As necessidades são velhas, cujas soluções devem ser  novas. Sempre respeitou o hábito de se pensar de maneira diferente de seu modo de pensar e agir.

Filho da Terra do Magano, fonte de inspiração de vários poetas destacando-se o nosso professor e amigo Arthur Maia. Nosso amigo de lutas memoráveis. Jornalista de escol, seu estilo é claro, lúcido, o jornalismo deveria ser chamado como gostaria o seu amigo Anibal Fernandes: "escritor público". "Sobre o Título Artesão de Sonhos" ele escreve: "Um mundo de lembranças me ocorreu ao assistir à posse do  Waldimir Maia Leite na Academia Pernambucana de Letras. É que somos da mesma  cidade, onde nossos avós foram prefeitos, nosso pais foram compadres, estudamos no mesmo colégio e começamos a escrever no mesmo jornalzinho". Sugeriu a Luís Jardim, que se candidatasse à Academia Brasileira de letras, que por sinal já havia premiado alguns de seus livros. Encontrei-o pouco desejoso dessa glória literária "Queria mesmo era para Garanhuns".

Souto Dourado, nasceu na terra das flores, estudou no então Ginásio Diocesano, bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, logo cedo ingressou na política, foi deputado estadual em duas legislaturas. Amigo do mestre Dr. Antônio de Brito Alves. E muitos outros luminares das letras jurídicas. Estava no Diário de Pernambuco quando o estudante Demócrito tombou assassinado em nome da liberdade. Como deputado nunca esqueceu as suas raízes, a sua atuação no desenvolvimento de Garanhuns teve repercussão na imprensa do Estado: Rodovias - (São Caetano - Garanhuns), Catende - Garanhuns. Fábricas: Fábrica de leite em pó (Gisa), Fábrica de Relógios (Hora Norte), Caixa de Crédito Mobiliário, Banco Econômico da Bahia, Sede do Banco do Brasil em Garanhuns, Hotel Monte Sinai, Garanhuns Mapa Turístico do Brasil, Centro Cultural de Garanhuns, Teatro Jovem, educação e  muitos outros empreendimentos como deputado. Foi prefeito entre 1969 e 1973. Sua  eleição foi a mais expressiva vitória de sua carreira política, construiu a praça Tiradentes. Desmonte da antiga Rotunda, conclusão do Fórum Eraldo Gueiros, Praça Guadalajara, Estação Rodoviária Aloísio Souto Pinto, Av. Caruaru, Praça Elpídio Branco. Centro Cultural de Garanhuns - consciência artística de Garanhuns. Escritor com  dois livros publicados "Garanhuns Ano 100" e "Os Combatentes da Liberdade" prefaciado pelo mestre acadêmico Barbosa Lima. Ás páginas 13 e 14 de Garanhuns Ano 100 encontra-se uma crônica nossa à guisa do prefeito. Ex-secretário do Interior e Justiça do governo de Arraes, ex-deputado estadual, faleceu no dia 26 de dezembro, na capital, onde residia. Seu corpo foi sepultado no cemitério "Santo Amaro". Era nosso amigo de todas as horas, sempre nos visitava. O Universo Intelectual de Garanhuns ficou mais pobre, Souto Dourado, um dos vultos da nossa cidade.

*Advogado, jornalista, cronista e historiador / Garanhuns, 10 de janeiro de 1987.

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