domingo, 2 de junho de 2024

José Francisco dos Santos


José Francisco dos Santos 'Zé de Né', foi o motorista que levou Luiz Inácio Lula da Silva  de pau de arara para São Paulo em dezembro de 1952.

A VIAGEM

A viagem começou às 5 horas da manhã de um dia de calor de 13 de dezembro de  1952 e durou para mais de dez dias. O menino Lula quase ficou para trás.

Logo que peguei a estrada, pediram para ir ao banheiro. Parei uns vinte minutos depois, disseram que todo mundo já estava no pau-de-arara. Como eram mais de 40 pessoas, não tinha condição de contar. Perguntei de novo se estava todo mundo lá. Disseram que sim. Já tinha rodado uns 40 metros quando uma mulher gritou: "Meus filhos ficaram". Parei e vi dois moleques chorando e correndo atrás do caminhão. Um dia desses, o Vavá (Genival Inácio da Silva) me contou que eram ele e Lula. 

Deles, eu não cobrei nada. Não tinham de onde tirar. Estavam passando necessidade. Um político amigo meu me explicou a situação e pediu que eu não cobrasse. O político me disse que eram oito pessoas. Quando eu cheguei, onze me esperavam. Como cada passagem custava 250 cruzeiros, deixei de ganhar 2 750 cruzeiros. Eles não foram os únicos que vieram de graça. Eu trouxe mais de 100 000 pessoas para São Paulo. Não teve viagem em que não viesse alguém sem pagar. 

Em entrevista a revista "O Caminhoneiro edição 188", Zé de Né relatou que a viagem não teria sido de graça e que transportou a família a pedido do vereador Hermínio Sampaio de Melo que relatara a ele a situação econômica daquela família, e que a mãe tinha a intenção de ir para São Paulo ao encontro do marido . Na entrevista o Sr. Zé de Né também fala que parte da despesa com as passagens foram custeadas pelo também vereador Amílcar da Mota Valença que tomou conhecimento da realidade da família pelo compadre Hermínio Sampaio. 

Naquela época era um ótimo negócio carregar passageiros. Cheguei a ter quatro caminhões para trazer o povão do Nordeste para São Paulo. Juntei bastante dinheiro. Acabei perdendo quase tudo quando entrei na política. Em 1962, eu me elegi vereador em Garanhuns. Tive um mandato de seis anos. Foi no partido do governo militar, a Arena (Aliança Renovadora Nacional). Gosto muito de política, mas, naquele tempo, tinha de ter dinheiro para entrar nela. Os eleitores exigiam muito. Cobravam pelo voto. Queriam sapato, roupa, passagem, consulta médica... 

José Francisco dos Santos 'Zé de Né' tornou-se um personagem importante na história do Agreste Pernambucano e do Brasil, pois foi o homem que levou para São Paulo, em seu caminhão, o menino Luiz Inácio da Silva, irmãos e sua mãe, Dona Lindu. De retirante, operário e sindicalista, Lula tornou-se o presidente mais popular da nossa história e governou o Brasil por 8 anos.  Faleceu Zé de Né em 2013 em seu sítio em Caetés, aos 86 anos.

ZÉ DE NÉ VEREADOR - Eleições realizadas em agosto de 1963, foram eleitos para o Poder Executivo os cidadãos, Amílcar da Mota Valença, para o cargo de Prefeito e o Dr. Everardo Ribeiro Gueiros, para o de Vice-prefeito. Para o Poder Legislativo, foram eleitos os seguintes vereadores: Professor Levino Epaminondas de França, com 775 votos, Ivo Tinô do Amaral, 745 votos e Elias da Silva Barros, 575 votos, do Partido Social Democrático; José Francisco dos Santos com 414 votos, José Rodrigues, 311 votos, e Paulo Faustino de Albuquerque, 211 votos, do Partido Democrata Cristão; Hermínio Sampaio de Melo, com 701 votos, Reverendo Jaime Alves Pinheiro, 391 votos, José Guilherme da Rocha 355 votos e Álvaro Brasileiro Vila Nova, 334 votos, do Partido Trabalhista Brasileiro; João Bezerra Sobrinho, com 564 votos e Rafael Brasil Pereira, 459 votos, ambos de União Democrática Nacional.

Fonte: Entrevista de José Francisco dos Santos à Revista Veja em 2008. História de Garanhuns / Alfredo Leite Cavalcanti / Volume II / Fevereiro de 1973. Créditos da foto: Revista Veja.

Neste vídeo abaixo da década de 1950 o motorista do pau de arara é o Sr. José Francisco dos santos 'Zé de Né" - Um minuto e 13 segundos no vídeo, o guarda para o pau de arara, no Posto Policial de Fiscalização.

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