segunda-feira, 14 de agosto de 2023

João Zacarias de Oliveira

João Zacarias de Oliveira

Em 1902, nascia nos domínios do Pajeú, em Afogados da Ingazeira - PE, João Zacarias de Oliveira. Cedinho entrou na lida. Conheceu a dureza do campo, praticando a agricultura em uma região inóspita, cheia de armadilhas climáticas, que destruíam os sonhos do povo sertanejo. A aridez da região, ao invés de abater o ânimo dessa gente, a estimula a ir em frente. A luta desigual do agricultor com a natureza hostil, apura o censo do homem, que não se curva, não se desola, não se acovarda, não se abale.

Assim aconteceu com João Zacarias de Oliveira. Bastaram dois invernos bons, depois de alternar a lavoura com os estudos, para juntar uns trocados, fazer a trouxa, arribar no mundo, com o destino traçado: fazer agricultura em terras mais generosas, onde o sol não cresta o chão, não abrasa o corpo, mas ajuda a lavoura e o homem, a produzir alimentos as terras grávidas e produtivas deste brasilzão tão cheio de contradições.

João Zacarias, entre os fins dos anos 20 e comecinho dos anos 30, deu com os  costados em terras garanhuenses, especificamente, Serrinha, hoje Paranatama. Ali, o verde dos campos lhe encheu a vista. O sopro dos ventos alísios retorcendo as copas das árvores, e o orvalho das noites frias, mesmo sem ser inverno, regando os seus lerões. De novo, de enxada em punho, João Zacarias incorporou-se à legião dos que buscam na lavoura o seu sustento. E, comovidamente, assistiu a compensação dos seus esforços transformados em lucros gerados por colheitas gordas e generosas. Homem simples e até tímido, conheceu Dona Júlia Leite, que  em pouco tempo passou a ser Júlia Leite de Oliveira, (sob as bênçãos e sacramentos da igreja católica), com quem casou e formou prole.

Seus dois primeiros rebentos, Juarez e Minerva, morreram com poucos dias de nascidos. Vieram a seguir: Luciano, Liliana, Juraci e Paulo. Meninos crescendo, a necessidade de uma educação mais esmerada, fizeram com que  João Zacarias e dona Júlia, afivelassem as malas a se transferissem para a rua grande. Trocou a enxada e o campo, o canto dos pássaros e o cacarejo dos galináceos, pelo balcão e pelos ruídos do tráfego de uma cidade em ascendente crescimento, onde o café ditava o  fastígio do nosso desenvolvimento e deu uma nova visão do mundo aos filhos. Foram 24 anos de mercearia na Barão do Rio Branco, embrulhando sabão, enchendo garrafas de querosene, vendendo "talagadas" de Suleira com iscas de charque como tira-gosto  ou pedacinhos de bacalhau, além de cuias de farinha e feijão e quartas de café e arroz. Com ele, os filhos ajudando, aprendendo que só com trabalho se chega ao cume do sucesso. 

Depois de 24 anos de mercearia, João Zacarias, acompanhando as mudanças dos tempos modernos, instala o primeiro supermercado de Garanhuns da economia privada. Supermercado Dular. Um rede forte no comércio de Garanhuns. Graças aos ensinamentos de um homem feito no eito, incansável o obstinado, pleno de confiança nas suas potencialidades de vontade e da dignidade de um homem, que ergueu um império graças a saga e a raça do sertanejo, que viabilizou um futuro sólido para os filhos, que, aqui em Garanhuns, e em Palmeira dos Índios, Alagoas, seguiram as lições de João Zacarias, uma figura ética moldada na bigorna da vida que também contribuiu, sem alardes, com a grandeza de nossa terra, tornando-se diretor presidente da rede de Supermercados DULAR.

Faleceu em uma manhã de quarta-feira,  11 de junho de 1980, sendo sepultado no cemitério de São Miguel. 

Foto: João Zacarias de Oliveira.

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