terça-feira, 1 de agosto de 2023

João de Assis Moreno

Da esquerda para a direita: Fausto Souto Maior, Murilo Marques Amorim, Amílcar da Mota Valença, Antônio de Andrade Melo, Dr. Uzzae Canuto, João de Assis Moreno e João Bezerra Sobrinho. No segundo plano: Pedro de Souza Lima, Francisco Epaminondas de Barros, Luiz Pereira Júnior, Aloísio Souto Pinto e o Dr.  Raimundo Atanásio de Moraes

Dão, apelido familiar, comercial e político, que superou em vida o próprio nome recebido na pia batismal e na certidão de nascimento. João de Assis Moreno - patriarca do antigo distrito e atual município de São João periférico das terras de Garanhuns, a quem ele devotou toda existência.

Nesta crônica da série 'Remember' quero evocar a figura inesquecível do amigo, do antigo correligionário, dedicado a dona Alzira as simples palavras do  teor desta homenagem, extensivas também a todos seus  familiares, dentre os quais Antônio Alves Pedrosa Filho  - o Pedrosinha -, meu contemporâneo no velho Ginásio e da sábia boêmia do bar 'Sbisa', onde demos vazão à nossa alegria de viver, na velha Garanhuns dos meus tempos, com tantas 'espadas d'água' já desaparecidas...

A simplicidade de Dão, o amor ao trabalho e o devotamento à causa pública, somaram-se positivamente às qualidades inegáveis de chefe de família exemplar, atributos mediante os quais chegou à culminância de uma bem sucedida vida comercial e carreira política. Na eleição de 1947 foi o marechal de uma grande vitória, o vereador que mais votos obteve na legenda do PSD, que consolidou ascensão de Dr. Luís da Silva Guerra, e contribuiu  inexoravelmente para que Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho viesse a ser governador do Estado, após a 'batalha judiciária' empreendida no Superior Tribunal Eleitoral, que destacou Nehemias Gueiros, pelas Oposições Coligadas, e Oswaldo Lima, padrinho de casamento do meu pai, pelo Partido Social Democrático. Se Oswaldo Lima foi o marechal da vitória, durante o tempo pessedista, Dão foi o eterno marechal de todas as vitórias do PSD em Garanhuns.

Lembro-me bem da visita que Barbosa Lima, já empossado governador de Pernambuco, fez a São João, então distrito de Garanhuns, para agradecer pessoalmente e Dão os votos decisivos e a solidariedade na campanha. Foi o único chefe político distrital a receber tamanha deferência. Na época, este modesto cronista engajado na política do PSD, coordenou por delegação de Dão, os festejos da visita governamental, que foi um acontecimento sem precedentes na vida política e social de São João. Tenho até hoje uma foto histórica, onde aparecem em confraternização, o Dr. Barbosa Lima. João de Assis Moreno, o deputado Elpídio Branco, Fausto Souto Maior, Dr. Luís da Silva Guerra, dentre outros importantes próceres do PSD pernambucano. Inclusive a maioria do secretariado do governo do Estado. O que evidenciou o grande prestígio de Dão, como o reconhecimento público do Dr. Barbosa Lima.

A UDN - da eterna vigilância e do brigadeiro Eduardo Gomes - chefiada em Garanhuns pelo coronel Francisco Figueira e pelo deputado Mário Lira, fizera na eleição de 1947 o vice-prefeito Abdias Branco e a maioria dos 9 vereadores à câmara municipal. A bancada minoritária do PSD, de apenas 4 vereadores, que apoiava o Dr. Luís Guerra e o deputado Elpídio Branco, por indicação de Dão elegeu meu pai líder no legislativo garanhuense, que manteve, sob a presidência do venerável Ernesto Dourado, inesquecíveis entreveros democráticos com o líder majoritário, Dr. Othoniel Gueiros. Na segunda legislatura, em 1951, a posição invertera-se: o PSD foi majoritário, pela  cisão dos dissidentes, chefiados por meu pai, e a união da UDN em trono da chapa Celso Galvão - Francisco Figueira, registrada como 'Aliança Democrática de Garanhuns', abençoada pelo estadista Agamenon Magalhães. Dão ficou com a ala ortodoxa do PSD de Elpídio, mas não perdeu a eleição em São João nem a amizade e o respeito de Fausto Souto Maior, presidente da Câmara. Em campos opostos na política, nunca deixaram de ser amigos, nunca deixaram de ser autênticos pessedistas.

A partir daí trabalhou pela emancipação política de São João, em cuja empreitada teve o incondicional apoio do deputado Elpídio Branco - o 'gigante do parlamento pernambucano' -, e já na próxima eleição sagrara-se primeiro prefeito do novo município, fazendo uma profícua administração, sem qualquer revanchismo aos seus opositores udenistas, capitaneados por Pedro de Souza Lima.

Este o Dão que conheci, cuja memória reverendo como amigo da família, e admirador, sobretudo, das suas inegáveis qualificações de líder político da comunidade sanjoanense, seu autêntico e verdadeiro patriarca.

*Rinaldo Souto Maior / Jornalista e historiador / São Paulo, 5 de Maio de 1984.

Foto: Da esquerda para a direita: Fausto Souto Maior, Murilo Marques Amorim, Amílcar da Mota Valença, Antônio de Andrade Melo, Dr. Uzzae Canuto, João de Assis Moreno e João Bezerra Sobrinho. No segundo plano: Pedro de Souza Lima, Francisco Epaminondas de Barros, Luiz Pereira Júnior, Aloísio Souto Pinto e o Dr.  Raimundo Atanásio de Moraes. Dr. Celso Galvão foi eleito prefeito e Francisco Figueira  o vice-prefeito (1952-1955)

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