- Essa referida fazenda, como também dissemos no capítulo V, já mencionado, tinha sido, em 22 de janeiro de 1783, comprada pelo referido capitão, aos perfilhados e herdeiros do capitão Antônio Vieira de Melo e Alexandre Muniz de Melo pelo preço de trezentos e oitenta e cinco mil réis.
- Depois de instalados na sua Fazenda das Panelas, o capitão Francisco Rodrigues de Melo cuidou da construção da capela que pretendeu erigir em Garanhuns, o que fez "taipa", com setenta palmos de comprimento e vinte e oito de largura, toda forrada de madeiras e a capela-mor toda untada e dourada", e sob o orago do Bom Jesus dos Remédios.
- Em 20 de setembro de 1804, o casal do capitão Francisco Rodrigues de Melo, separou um trecho das terras da sua fazenda "no lugar da lagoa nova que confrontara na forma seguinte. Pegara no boqueirão da serra lisa pela estrada abaixo até onde estourou a grandeza e daí buscara a parte do poente pelas quebradas da serra da Grandeza até confrontar com a ponta da serra lisa e daí buscara a mesma serra lisa e daí buscara a mesma serra lisa e vira sempre por cima da serra de onde principiou o primeiro rumo..." e deles fez doação para patrimônio da referida capela.
- Enquanto viveu, o capitão Francisco Rodrigues de Melo, administrou os bens da capela e com o seu falecimento o seu filho José de Miranda Santiago, assumiu este cargo e, em 4 de março de 1815, inventariou o seu acervo e constatou a existência dos seguintes: Imagens - "A do Senhor Bom Jesus dos Remédios orago da dita capela com sete palmo e meio de altura com sua cruz de madeira prateada e envernizada com seu resplendor de prata com uma ametista grande no meio, cravos e título tudo de prata com as quatro letras e outros tantos postos tudo de ouro. A imagem de Nossa Senhora da Soledade feita de roca com cinco palmos e meio de altura com seu diadema da prata com estrelas de ouro. Uma imagem de São João Evangelista com cinco palmos e meio de altura dourada e estufada com seu diadema de prata. Um crucifixo grande que está na banqueta do altar com resplendor e bandeira e cravos de prata. Um Senhor Menino Deus sobre penha dourada resplendor e bandeira de prata comum cristal engastado em ouro atado no seu sinteiro e tem um palmo de altura. Uma imagem de Nossa Senhora do Carmo com três palmos e meio de altura dourado e estufados com coroa de prata e o Senhor Menino também como coroa de prata e bentinhos bordados com galões de ouro. A imagem da Senhora Santa Ana com seis palmos dourada e estufada com seu resplendor de prata e tão bem coroa de prata da Senhora Menina e cada uma destas imagens colocadas em seus ninchos ambos dourados - Utensílios - um relicário de prata para levar o Santíssimo viático aos enfermos. Uma lâmpada de prata nova em folha feita à Romana com trinta e um marcos e 54/8as de prata faltando-lhe ainda as três correntinhas e colo que sustentam o vidro que tudo já se mandou fazer em Pernambuco. Já se usa dela. Um turibulo inavita com sua colher tudo de prata. Um cálice patena e colherinha tudo de prata e dourado por dentro. Paramentos para todas as solenidades. Um sino de bronze com seis arroubas menos cinco libras com todos os seus acessórios de porca e mais ferragens. Uma matraca com seus ferros que serve na Semana Santa. Um caixão em que esteve depositado o Senhor Bom Jesus enquanto não fez sua capela. Duas campainhas do altar. Uma dita grande em cabo vasado do mesmo metal para as missas conventuais" etc... etc... Este inventário foi visado em 13 de julho de 1819, pelo padre visitador Manoel Jácome Bezerra de Meneses. José de Miranda Santiago, foi o digno sucessor do seu pai na administração da capela das Panelas. O seu irmão João Crisóstomo de Melo, casou-se com uma das filhas do Sargento-Mor Paulo Caetano Tenório, passando a residir em Águas Belas e no final do ano de 1820 veio a Panelas e retirou da capela a imagem do Menino Deus com o fim a possuir com lembrança da sua mãe, conforme declarou depois. Verificando a falta da referida imagem e cientificado pelo Sacristão, Francisco Ferreira Maciel "antigo escravo da família" que veio o Senhor João Cristino de Mello do Panema e tirou de dentro da capela a da imagem estando ausente em Garanhuns e meu Sr. José de Miranda Santiago", apressou-se este em cobra-la amigavelmente do seu irmão. Desatendido, mediante uma ação de notificação, em 22 de janeiro de 1821, recorreu à justiça, perante a qual, o sogro do réu comprometeu-se a entregar, no prazo de seis meses, outra imagem em tudo igual a que foi, pelo seu genro, retirada da capela, condição aceita pelo Juiz Ordinário João José Soares de Mendonça, que assim fez julgar por sentença.
- Não se conformando com a substituição da imagem, mesmo por outra em tudo igual, José de Miranda Santiago apelou para o Ouvidor e Corregedor da Comarca do Sertão, que então era o Doutor Tomás Antônio Maciel Monteiro e este, por sentença de 26 de Novembro de 1821, condenou o réu à devolução da legítima imagem e ao pagamento das custas.
- Era a capela das Panelas filial da Matriz da Freguesia de Santo Antônio de Garanhuns, e a povoação que se formou em torno dela foi sede de um dos distritos do Município de Garanhuns até o ano de 1839, quando foi criado o Município de Bonito a quem passou a pertencer e do qual foi desmembrado para fazer parte do de Caruaru e, finalmente, em 12 de outubro de 1870, dele se desmembrou para formar o seu próprio Município.
- No território que compôs o Município das Panelas, entre outras povoações nele localizadas, são hoje as cidades: Quipapá, Lagoa dos Gatos, Jurema e Cupira.
- Devido a influência de José de Miranda Santiago, a povoação das Panelas mesmo depois de ter passado de categoria de Vila para a Cidade, era vulgarmente chamada Panelas de Miranda e assim, por muitos é mencionada.
*Fonte: História de Garanhuns / Alfredo Leite Cavalcanti (foto) / Volume II / Fevereiro de 1973. Acervo: Memorial Ulisses Viana de Barros Neto. Foi mantida a grafia da época.
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