terça-feira, 1 de agosto de 2023

Dois dedos de prosa com o Ígor Cardoso

PROFESSOR CLÁUDIO GONÇALVES ENTREVISTA O ESCRITOR ÍGOR CARDOSO

Escritor, pesquisador e historiador, autor da obra Fernand Jouteux: O Maestro de Chapéu de Couro e sua Bela Aliança, Igor Cardoso é um estudioso da nossa História, um dos destaques da nova geração de escritores de Garanhuns. Simplicidade, entusiasmo, dedicação e disciplina são marcas de Ígor Cardoso, que vem se revelando um pesquisador competente e escritor-historiador dotado de vários dons e talentos. Nesta entrevista, Ígor Cardoso nos revela alguns fatos da sua trajetória literária, o amor pela literatura e a paixão pela memória de seu município, a qual esse respeitado e admirado escritor garanhuense tem contribuído para sua divulgação, preservação e produção.

1) Você nasceu em Garanhuns? Como foi a sua infância?

Amigo Cláudio, agradeço-lhe pela consideração e pela oportunidade. Sou natural de Garanhuns, e nasci na Av. Simoa Gomes, defronte para o Parque dos Eucaliptos, na invernal noite do dia 04 de agosto de 1987, mais precisamente na antiga Casa de Saúde Santa Terezinha. Filho de servidores públicos estaduais, constantemente removidos, minha juventude se dividiu entre a terra natal, onde meus avós e a grande família, sobretudo a materna, sempre moraram; e outros municípios do Sertão e Agreste de Pernambuco. Assim, também residi em Floresta, Sertânia, Arcoverde e Caruaru, onde concluí o Ensino Médio. Em todo caso, sempre voltava para a casa de nossa família na Av. Caruaru, uma via acostumada a testemunhar idas e vindas. Era por ela que passava o trem, e a rodoviária ainda se acha por lá – as duas, aliás, a antiga e a nova. Minha vida tem sido toda assim: indo e vindo, com minhas atenções, meu coração e minha inspiração arraigados em Garanhuns.

2) Como surgiu a sua paixão pela literatura?

Foi ainda na infância, quando morávamos em Sertânia. Surgiu como desdobramento de um olhar eminentemente estético. Desenvolvi muito cedo o gosto pelo desenho, e, de modo espontâneo, meu traço sempre se deixou inspirar pela arquitetura e pelo urbanismo da paisagem interiorana onde me criei. Pelos idos de 1997, passei a fotografar as cidades que tinha oportunidade de conhecer, organizando as imagens em três grandes álbuns que ainda conservo, e que me serviam de modelo para desenhos a grafite. Da curiosidade pelo ambiente edificado, decorreu o interesse pela história local.

3) Voltando um pouco no tempo, quando foi que o escritor Ígor Cardoso olhou para um livro e disse: é isso mesmo que eu quero ser, um escritor?

Foi justamente nessa época, por volta dos 10, 11 anos. De posse desses desenhos, resolvi enfeixá-los em livro, sob o título de “Iconografia de Sertânia”, para o que contei com o irrestrito apoio de meus pais. A ideia era reunir informações sobre o município e ilustrar a obra com minha arte infantil. As visitas à Biblioteca Pública e, principalmente, ao Museu Histórico e Artístico local – este último, por sinal, tragicamente desaparecido após o falecimento de seu mentor, o sr. José Ramos, de quem guardo as mais gratas memórias; o contato, enfim, com esse encantador e vastíssimo manancial de recordações, despertou-me o fascínio pelo passado e o definitivo interesse pela pesquisa histórica. Tanto que, se, na “Iconografia”, editada em 1998, o texto ainda dividia espaço equivalente ao dos desenhos; na posterior monografia “Arcoverde: o Portal do Sertão”, de 2000, a pesquisa acabaria roubando completamente a cena.

4) Qual desses gêneros você gosta de escrever: romances, contos, crônicas, poesias ou ensaios? Como define o seu estilo de escrita?

Embora poeta esporádico, é na prosa que realmente me encontro, em particular na narrativa histórica, não-ficcional; na prosa informativa, mas também argumentativa e contemplativa. Tenho predileção pelos anais e cronologias, pelas crônicas de época e memórias, pela historiografia latu sensu, enfim, e também pelas biografias. Não descarto, contudo, alguma produção ficcional futura, talvez no gênero do romance histórico. Quanto ao estilo, nossa saudosa amiga em comum, Luzinette Laporte, descreveu-o como um “português puro e simples, correto”. Eterno apaixonado pela nossa língua e por suas múltiplas possibilidades expressivas, inclino-me sempre para a norma culta, buscando escrever em linguagem elegante e sóbria, porém procurando evitar excessos de linguagem que possam embaraçar a compreensão.

5) Quais os escritores que foram referência no início da sua produção literária?

Acredito que, para todos nós, que nos dedicamos à preservação da memória garanhuense, Alfredo Leite Cavalcanti é a grande inspiração e referência. A “História de Garanhuns” foi meu livro de cabeceira durante toda a juventude, e, ainda hoje, ocupa lugar de destaque em minha biblioteca. A seriedade da pesquisa levada a cabo por ele, e a qualidade das fontes, constituem um verdadeiro divisor d’águas para a produção historiográfica de nosso interior. Em momento mais recente, todavia, mais especificamente quando retomei as pesquisas sobre o passado de nossa terra, em 2010, foi a obra de Mário Márcio de Almeida Santos, “Anatomia de uma Tragédia: a Hecatombe de Garanhuns”, que me causou a mais profunda impressão, tanto pela precisão da narrativa, em admirável estilo, quanto pela profundidade da pesquisa, análise e interpretação das informações. Eles são, sem dúvida, minhas duas grandes referências.

6) Existe algum ideal de escrita que você persiga?

Em termos mais gerais, de conteúdo, tenho o grande ideal de resgatar episódios e personagens de nossa história que julgo injustamente desprestigiados ou esquecidos. Em se tratando de Garanhuns, você bem sabe, isso se traduz em uma missão verdadeiramente colossal, mas não tenho pretensões de dar conta de tudo sozinho, nem de maneira exaustiva ou terminativa. Penso que as sementes que, modestamente, conseguirmos plantar, serão devidamente colhidas e, mais cedo ou mais tarde, germinarão e frutificarão. Quanto à forma, ou ao método, persigo uma escrita lúcida, fiel às fontes, porém esmerada mais em analisá-las e interpretá-las que em simplesmente as elencar; isto é, que não resulte em um mero repositório acrítico e desconexo de informações, mas procure desvendar suas nuances e sentidos.

7) O livro “Fernand Jouteux: o Maestro de Chapéu de Couro” surpreendeu os leitores pelo seu talento literário e pelo escritor-pesquisador, que resgatou a história desse grande nome da música erudita nacional e que residiu em Garanhuns. O que levou o escritor Ígor Cardoso a escrever essa belíssima obra?

A princípio, Cláudio, muito obrigado pela atenta leitura e pelos cumprimentos, que muito me lisonjeiam. Sabe, certa feita, o biógrafo de Clarice Lispector, Benjamin Moser, afirmou: “Se você anda aborrecido com a sua vida, escreva uma biografia, porque você nunca sabe aonde ela vai te levar, e não só geograficamente”. Foi bem por aí... Em minhas pesquisas, Garanhuns, via de regra, costuma ser o ponto de partida – e, por vezes, também o de chegada –, porém o mais surpreendente é para onde cada episódio histórico, cada personagem, acaba me levando. Eu já havia lido algo, em um livro de memórias sobre nossa terra, acerca da presença dos franceses Fernand e Magdeleine Jouteux na zona rural do antigo município, compondo música erudita e cultivando café em sua fazenda “Bela Aliança”, em Brejão, no início do século passado. A referência ficou guardada, e acabou reaparecendo quando, ao pesquisar sobre a atuação de Ruber van der Linden e Augusto Calheiros como pioneiros do rádio, descobri que o maestro havia sido regente, na banda de música local, do famoso cantor. Decidi, então, aprofundar-me a respeito da passagem dos Jouteux por Garanhuns, e a biografia do maestro – inicialmente planejada para ser um singelo artigo –, levou-me, intelectualmente, à França, à Amazônia e a uma turnê de Norte a Sul pelo Brasil; e, fisicamente, às Minas Gerais, mais precisamente à barroca Tiradentes, onde ele passou seus últimos anos. A acidentada saga de Fernand, no afã de montar sua ópera “O Sertão”, inspirada na tragédia de Canudos, tem ares de ficção. Flagrei-o “contracenando” com Valdemar de Oliveira, Lampião, padre Cícero, Villa-Lobos, JK. Em verdade, a luta dele não é outra, senão a de todos nós, que temos sonhos e os perseguimos até a última gota de nosso suor, em um país que não valoriza, como deveria, a arte e a cultura. Uma trajetória assim, inspiradora e memorável, não poderia continuar no esquecimento, nem caberia em um artigo: merecia ser contada em detalhes.

8) Você é um dos sócios fundadores do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns (IHGCG). Como surgiu a ideia da criação da instituição? Qual o sentimento de ter contribuído para esse ideal tornar-se realidade?

Nosso querido Instituto é fruto da criativa e engajada mente do confrade Audálio Filho, que o imaginou como um instrumento capaz de remediar o preocupante descaso para com a memória de nossa terra, o qual se fizera sentir de maneira mais preocupante naquele ano de 2011, ante a desoladora indiferença demonstrada por ocasião do bicentenário da conquista de nossa autonomia política municipal, nos termos da Carta Régia de 10 de março de 1811. A relevantíssima efeméride transcorrera sem qualquer menção, oficial ou não, à exceção de um artigo veiculado no Blog do Ronaldo César, de autoria do próprio Audálio, já anunciando a iniciativa de criação do sodalício, com vistas à preservação da memória material e imaterial do município. Conheci Audálio naquele mesmo ano – ambos, ele e eu, em busca dos “Almanaques de Garanhuns” organizados por Ruber van der Linden, o qual, inclusive, era considerado, em vida, uma verdadeira personificação do ainda inexistente Instituto Arqueológico local –, e logo fui arregimentado para a causa. Participei a reunião de fundação, ocorrida no inesquecível dia 22 de dezembro de 2012, na sede da Academia de Letras de Garanhuns, nossa instituição-anfitriã, ocasião em que foi debatido e aprovado o estatuto, e eleita a primeira diretoria, tendo você à testa. Ter concorrido para a fundação de nosso IHGCG é um dos grandes orgulhos que trago na vida. O Instituto nasceu tímido, porém a nobreza de seus ideais logo se fez sentir, cativando uma sociedade garanhuense cada vez mais mobilizada para a preservação de sua memória.

9) Atualmente você é um dos imortais da Academia de Letras de Garanhuns (ALG). Conte-nos como foi ser convidado para ocupar a cadeira do memorável escritor Mário Márcio de Almeida Santos.

Foi uma honra imensa, e outro de meus grandes orgulhos. É curioso porque, desde pequeno, eu achava lindo o edifício-sede de nossa Academia. Sempre que, no trajeto da casa de nossa família para o centro, nós passávamos defronte à ALG, a edificação capturava minha atenção; quando meu pai me explicou o que ela era, então, passei a “paquerá-la” com mais intensidade. É bem verdade que imaginava que talvez tardasse um pouco mais para, um dia, tentar acesso a seus quadros, mas, àquela altura, já me interessava muito pela nossa cidade, por sua história. Tempos depois, descobri que meus tios Raimundo e Humberto de Moraes haviam participado processo de fundação, instalação e consolidação do sodalício, e desenvolvi uma espécie de ligação espiritual com a instituição. Passei a me sentir parte da proposta; a guardar, desde antes mesmo de ingressar, uma espécie de compromisso espiritual para com ela. A oportunidade de ocupar a cadeira patronal de Mário Márcio – escritor cuja obra, em boa parte, ou é inspirada, ou está ambientada em Garanhuns –, foi a chave-de-ouro, e decorreu de duas palestras que eu havia realizado sobre ele no ano de 2017, por ocasião do Centenário da Hecatombe – evento tão bem coordenado por você. A trágica partida de Mário Márcio, em 2015, seguida de um incômodo silêncio em Garanhuns, e a oportunidade única do centenário, levaram-me a querer trazê-lo, de alguma forma, para as solenidades. Estávamos muito bem representados por você e pelos demais confrades, porém, quando me foi feito o convite para falar na Bienal Internacional do Livro do Agreste, escolhi justamente discorrer sobre ele. E me aprofundei na obra; encontrei-me com uma das filhas dele, Maria Letícia, que me transmitiu muitas informações. Ministrei a palestra na Bienal e, logo depois, no Festival de Inverno, na programação do Instituto. E foi sob o impacto desse resgate que fui convidado a integrar os quadros de nossa decana Academia, a mais antiga do interior de Pernambuco, em cadeira especialmente criada para ele, e da qual tenho a felicidade de ser o primeiro ocupante.

10) Você faz parte de outras instituições de preservação da memória?

Sim. A primeira instituição à qual me vinculei foi ao Centro de Estudos de História Municipal (CEHM), da Agência CONDEPE-FIDEM do Governo de Pernambuco, ainda na pré-adolescência. É que, quando nós íamos passar as férias escolares no Recife, eu sempre pedia a meu pai para me levar lá, a fim de adquirir os livros do vasto programa editorial do CEHM, mantido desde 1976, todos sobre a memória de nossos municípios pernambucanos – inclusive, quatro importantes obras para a historiografia garanhuense: a edição em tomo único da “História de Garanhuns”, de Alfredo Leite Cavalcanti; “Garanhuns do Meu Tempo”, de Alfredo Vieira; “Os Aldeões de Garanhuns”, de Alberto da Silva Rêgo; e, mais recentemente, “Fatos de Miracica”, de Hugo Pereira e Osmar Paulino. Faço parte do CEHM desde os treze anos de idade. Mais recentemente, fui convidado a integrar os quadros do decano Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), que é o mais antigo entre os congêneres estaduais, fundado em 1862; e também do Instituto Histórico de Olinda (IHO), que é de 1951, e do qual Mário Márcio também fez parte.

11) Sempre existe uma curiosidade dos leitores a respeito do processo de criação dos escritores. Você poderia nos contar como é o processo criativo de seus livros?

Acho que, para nós, que lidamos com narrativas históricas, o enredo acaba se desenhando ao longo da pesquisa. Em se tratando de biografias, como no caso do “Fernand Jouteux”, embora a narração seja cronológica, tampouco deixa de ser organizada por temas: optei por acompanhar a existência do maestro em suas etapas sucessivas, mas antecipei, em alguns capítulos, alguns desdobramentos futuros, dada a pertinência temática. Também preferi narrar os fatos em capítulos curtos, conquanto densos, com vistas a proporcionar fluidez ao leitor. Nos últimos anos, por outro lado, tenho trabalhado na biografia de um poeta garanhuense, e, justamente por se tratar de um trovador, penso em ancorar os capítulos em versos de seus poemas, bastante sugestivos de sua personalidade e de sua visão de mundo. Será uma “biografia poética”, como gosto de chamá-la.

12) Na sua trajetória literária, qual o momento marcante vivido pelo escritor Ígor Cardoso?

Coleciono alguns. Um deles foi a oportunidade de entrevistar quatro dos filhos de Ruber van der Linden – dos quais, infelizmente, três já nos deixaram –, que residiam em Estados diferentes do Brasil: Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro. Eu acabaria voltando a Minas para outro momento muito marcante: concluir a pesquisa sobre o maestro, ocasião em que fui recebido com todas as honras no Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT), onde me foi franqueado pleno acesso à documentação ali depositada. Mais recentemente, vivi uma situação inusitada: a pesquisa me levou ao arquivo do Hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira. Nunca havia estado em um hospital psiquiátrico antes. Depois disso, passei a dar ainda mais razão a Moser: A gente nunca sabe por que caminhos uma biografia irá nos levar...

13) Você tem realizado muitas palestras e trabalhos divulgando a História de Garanhuns, como a “Revista Ruber”, que você organizou e foi lançada pelo Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns. A história de Garanhuns e seus personagens é uma das maiores inspirações para seus livros?

Sim. Embora eu me interesse pela História de Pernambuco como um todo, e, em particular, pela dos municípios do interior, minha grande fonte de inspiração é a terrinha. Certa vez, um grande amigo até me disse: “Garanhuns é, para você, uma espécie de laboratório do mundo inteiro, onde você experimenta todos os temas e teorias que tocam a sua sensibilidade, e o melhor é que a cidade tem fôlego para corresponder a isso”. A “Revista Ruber”, por exemplo, surgiu da necessidade de o Instituto ter um órgão oficial de divulgação de suas atividades e da produção intelectual de seus sócios. A única exigência era a de que a matéria tratada abordasse a memória de Garanhuns, o que de fato ocorreu, porém chama atenção a variedade dos assuntos tratados: desde recordações pessoais a temas universais, que, em muito, superam as fronteiras municipais, a exemplo das repercussões da Segunda Guerra Mundial. Já dizia o grande escritor russo Liev Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

14) Você é um grande estudioso dos personagens históricos de Garanhuns. Poderia destacar alguns deles?

Garanhuns sempre foi pródiga em reunir filhos, naturais ou adotivos, dignos de louvor. E, felizmente, também parece, quase sempre, ter sabido honrá-los nas designações de seus equipamentos urbanos e logradouros, perpetuando-lhes, assim, a memória. Sob o ponto de vista político, o rol de ilustres personagens históricos já se inicia pela fundadora Simoa Gomes; seguindo pelo governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro e pelo ouvidor José Marques da Costa; pelo capitão-mor Luiz Tenório de Albuquerque; pelo Barão de Nazaré; pelos chefes políticos das famílias Cavalcanti de Albuquerque, Melo Peixoto, Correia Brasil, Souto, Jardim, Gueiros; chegando aos grandes prefeitos Euclides Dourado, Celso Galvão, Luiz Souto Dourado, Ivo Amaral, apenas para citar. Para além do espectro político, encontramos figuras do porte do cientista Ruber van der Linden, a quem Garanhuns tanto deve; do empreendedor dr. Tavares Correia, e de sua filha, a jornalista Cristina Tavares; dos literatos Celso Vieira, Luís Jardim, Luzilá Gonçalves Ferreira, Luzinette Laporte, Waldimir Maia Leite; dos poetas Arthur Brasiliense Maia, Belarmino Dourado, Cecília Rodrigues, Jerônimo Gueiros, Luiz Brasil, Narcisa Coelho e Paulo Gervais; dos intelectuais Raimundo e Humberto de Moraes; do historiógrafo Alfredo Leite Cavalcanti; do cantor Augusto Calheiros e do mestre sanfoneiro Dominguinhos. E essa lista não para... A propósito, contribuição bastante valiosa a esse respeito foi a prestada por Alberto Rêgo, em seu clássico “Os Aldeões de Garanhuns”.

15) Como você avalia a literatura em Garanhuns e de nossa região?

É fortíssima: além de tradição, tem enorme qualidade. Garanhuns sempre se percebeu como uma cidade distinta das de seu entorno, e não apenas pelas condições geográficas privilegiadas, senão pelo que, na década de 1930, motivaria o juiz Edmundo Jordão a escrever o artigo intitulado “O Primado da Inteligência Garanhuense”, identificando nos três colégios, hoje centenários, a principal fonte do filão de garanhuenses notáveis nos mais diversos campos do saber. Reputando-se “culta e civilizada”, a cidade chegou a ter uma das imprensas matutas mais ativas de Pernambuco, com jornal diário e periódicos voltados apenas à divulgação literária, a exemplo de “O Bibliófilo”. A excelência de nossa literatura tampouco passou despercebida além-fronteiras, não sendo de surpreender que escritores como Luís Jardim, Luzilá Gonçalves e Luzinette Laporte tenham arrebatado praticamente todos os prêmios aos quais concorreram – alguns deles, inclusive, concedidos pela prestigiosa Academia Brasileira de Letras (ABL). O fato de, nos últimos anos, escritores da envergadura de Amâncio Siqueira, Helder Herik, Ivonete Batista Xavier, Jodeval Duarte, Manoel Neto Teixeira, Marcílio Reinaux, Mário Rodrigues, Nivaldo Tenório, Paulo Gervais, Wagner Marques, virem granjeando diversas premiações estaduais e nacionais, apenas evidencia o histórico primado de nossa literatura.

16) Quais os planos literários para o futuro? Já está trabalhando em alguma nova obra?

Sim. Para este ano, é esperada a “Bibliografia Municipal Pernambucana”, obra em coautoria com o professor José Luiz Delgado, fundador do CEHM, na qual procuramos, ao longo dos últimos três anos, inventariar toda a produção bibliográfica relativa aos municípios de nosso Estado. Para o futuro, estou trabalhando em uma série histórica sobre a poesia garanhuense, em três tomos, ademais de outros projetos.

17) Para quem pretende escrever seu primeiro livro, o que você recomendaria?

É plausível que todos nós, em nossas unicidades, tenhamos algo a dizer, a acrescentar à experiência humana, a partir de nossa ímpar leitura do mundo. Escrever é transformar isso em um enredo, que tem de contar uma história ao leitor, com início, meio e fim. A escrita tanto é conteúdo quanto forma, e demanda algum preparo prévio. Aos que se interessam por ficção, recomendaria a leitura de clássicos literários; aos historiógrafos, a leitura de obras de referência, com as respectivas revisões críticas, em cotejo com uma pesquisa sólida. Escrever também demanda disciplina. Recomendaria reservar um horário diário para isso, de modo a criar uma rotina de investimento mínimo de tempo, porém sem exageros, pois nosso cérebro também precisa descansar para poder render seu melhor.

18) Uma mensagem para os seus leitores e admiradores.

“Ad Altiora Tendere”: tendamos sempre às alturas, seguindo o magnífico exemplo de Simoa Gomes! Um forte abraço a todos!

Agradeço por conceder essa entrevista, um momento de muito conhecimento.

Eu que lhe agradeço, meu amigo.

*José Cláudio Gonçalves de Lima, Garanhuense, professor, Pós-graduado em História, Pesquisador, escritor e Sócio fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns.

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