segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Poesia à Garanhuns


Nelson Fernandes*

Na vasta região inculta, adusta,

Em meio às serranias do Nordeste,

A bela Garanhuns desponta augusta!

Oásis que nasceu em pleno agreste.


Sua bela rica, encantadora,

Já pintaram em cores os estetas;

Sua magia viva, sedutora,

Já cantaram, também, grandes poetas.


Talvez enfeitiçado ou delirante,

Fui tentado a cantá-la e no entanto

Como os outros também pequei sonhando...

Não resisti ao seu enorme encanto.


O belo quadro com que me deparo,

Quero esboça-lo, mas... não tenho rima

Para traçar este modelo raro

Que a natureza fez a obra prima!


Se pego a palheta, falta a tinta

Que da mais colorida e mais relevo.

E a inspiração parece extinta

Para exaltar-lhe o requintado enlevo.


Quisera que, no mundo fantasista,

Por um momento apenas, eu vivesse...

E na orgia do soberbo artista,

Um turbilhão de ideias eu tivesse!


Embalde firo a lira como meus dedos!...

Os sons procuro - qual louco maestro

Que conhece da música os segredos...

Porém, na hora exata foge o estro!


Ó musa! Vem a mim neste momento,

Suprema inspiradora e mãe do verso!

Acende o facho! Dá-me alento!

Quero roubar mais luz ao universo!


Quero beber na fonte cristalina

Da imaginação a pura linfa...

E através da embriaguez divina,

Cantar iluminado pela ninfa!


Foi um dia... vagando nos espaços,

Tonto de luz - o gênio da bondade,

Deixou cair dos seus potentes braços

Um pedaço do céu - como cidade.


Pois, quando nas colinas verdejantes

O astro rei levanta a fronte acesa,

Seus raios formam chuva de brilhantes

Vem banhar-lhe o corpo de Princesa!


Nas tardes invernosas de agosto,

As nuvens vêm descendo lá do céu,

Para beijar-lhe ternamente o rosto...

Formando fino e rendoso véu.


A neblina caindo sobre o monte,

Vai serenando levemente o fralda...

E a luz crepuscular, com o horizonte,

Formam no céu dourado uma grinalda!


Depois, ao envolver-lhe a noite escura,

Fica sonhando até novo arrebol...

Noiva feliz de perenal ventura,

Por ter um dia despontado o sol!


Mais tarde vem a luz e sobre ela

Estende o seu lençol bordado a prata...

E dorme Garanhuns - Serrana bela -

Ao som de maviosa serenata!


Assim vive a cidade embalada

Na harmonia que no seio abriga.

E para o sonho - ideal morada

Como parmosa o foi, na Grécia Antiga.


E as deusas emigrante do Oriente.

Novo Éden fundaram nesta terra;

Por isso a poesia está presente

Desde as campinas aos grotões da serra.


Foi cantando esta grande ostentação,

Que fez cair no divinal pecado

"Não tendo suportado a tentação

Um pobre peregrino d'outro estado".


Que aqui chegando como mais um filho

Foi acolhido neste novo teto,

Hoje não sabe se está preso ao brilho

Ou se cativo ao seu grande afeto.


Esse filho sou eu - que nesta casa

A chama dos meus versos vi nascer!

É esta inspiração que me abrasa

Neste momento - um dia vi crescer!


Para dizer tudo que sinto agora

No devaneio que esta terra inspira...

Mesmo que sendo uma voz de fora,

Ao tom saudoso de modesta lira.


Se meu poema não revela tudo

Que representas com real beleza,

Perdoa Garanhuns... - só quis, contudo

No meu delírio decantar riqueza!


Se aqui viver ao decorrer dos anos,

Cantarei sempre - porque tu existe

Serás meus derradeiros desaganos...

O meu consôlo para os dias tristes...


E, ao terminar a minha pobre vida,

Sentindo o frio do feral inverno,

Que tu sejas a última guarida,

Para que eu viva neste sonho eterno.

Garanhuns, Fevereiro de 1959.

Nelson Fernandes do Nascimento - Natural do Estado do Ceará, este mimoso poeta para aqui foi removido como funcionário dos Correios e Telégrafos. Amante da Cultura, das letras completou o curso secundário no Colégio Diocesano de Garanhuns, e não se limitando a isso, matriculou-se na Faculdade de Direito de Caruaru, para onde conseguiu sua transferência. Ali reuniu grande parte das suas produções em  versos e, impresso na Tipografia Tavares - Editora, publicou um livro - Aurora da Redenção - que, não obstante apelos dos seus colegas dali, em mais uma demonstração de amor à cidade que cantou, preferiu fazer o seu lançamento na sede do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, aqui em 11 de outubro de 1963.

Nelson Fernandes do Nascimento é aqui elemento de grande destaque no meio cultural principalmente como sólio do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, onde sempre empolgou-o consócios e visitantes, declamando que é exímio poemas, tanto de sua autoria como de outros poetas. (Foi mantida a grafia da época) Fonte: História de Garanhuns / Volume II / Alfredo Leite Cavalcanti.

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