terça-feira, 1 de agosto de 2023

Dr. Sátiro Ivo da Silva Júnior

Dr. Ivo Júnior realizando uma palestra para diretores do Banco do Brasil na Capital Pernambucana.

Ulisses Peixoto Pinto*

Com certo orgulho, escrevo esta crônica em homenagem ao querido e admirável garanhuense Ivo Júnior, que na sua longa vida de estudante, jornalista, bacharel, poeta e servidor do Banco do Brasil neste Estado, foi fonte de perenes exemplos de virtude, de grandeza dentro da sua simplicidade.

Escolhi, pois falar de Sátiro Ivo da Silva Júnior, forjado nas lides estudantis, jurídicas e do mundo da imprensa. Da imprensa livre da minha e da sua Garanhuns, terra de Simôa Gomes de Azevedo, a fundadora deste torrão natal.

Democrata sincero e leal, foi um batalhador pelos humildes, no Fórum, nos jornais e como orador vibrante imbuído de grandes propósitos. De defender o povo.

O "Dr. Ivinho" como era chamado, nasceu a 13 de setembro de 1906. Era de baixa estatura, olhos verdes claros. Mas, muito grande em virtude, em inteligência quando chegou a galgar a função de emérito Consultor Jurídico do Banco do Brasil.

Filho de tradicional família garanhuense, o Dr. Ivo Júnior muito sofreu quando garoto em ver seu pai, o comerciante morto juntamente com outras figuras na "Hecatombe de Garanhuns", em 17 de janeiro de 1917 por bandidos da época.

O "Dr. Ivinho", era filho do casal Sátiro Ivo e Clotilde Ivo, casal que era ornamento de primeira grandeza aqui na terra "onde o nordeste garoa".

Na revolução de outubro de 1930, de laço vermelho abaixo do queixo, tomou parte ativa na tomada de Maceió, integrando a "falada" "Coluna Louca", comandada por Mário Sarmento Pereira de Lyra, homem de valor e que mais tarde seria um ótimo prefeito de Garanhuns. A tal coluna era  composta de elementos do Tiro de Guerra nº 45 e de outros jovens idealistas de várias classes sociais.

Naqueles tempos escrevia em jornais da "Santa Terrinha" e mais tarde terminava seu curso de Direito no Recife. Direito este que ele defendia com altivez, abnegação e  conhecimento, sem esquecer vez por outra de "meter a ripa" nos poderosos, nos politiqueiros. Era assim, o "Dr. Ivinho" depois de vitoriosa a arrancada de Getúlio Vargas.

Disse o Dr. João Calado Borba, figura culta desta cidade "que Ivo Júnior, como teórico do Direito foi um jurista; como advogado, um mestre de muitos saberes. No Tribunal do Júri, acusando ou defendendo, foi um galo de esporão de ouro e um "boxeur" de luvas de pelica. No Cível defendia os direitos dos seus constituintes com maestria e com uma argumentação contundente, fundamentada no espírito das leis e da jurisprudência".

Fez um trabalho no Banco do Brasil denominado "O Cheque Cruzado" que foi elogiado além de fronteiras deste Estado.

Pertenceu a Loja Maçônica Mensageiros do Bem, demonstrando sabedoria e amor. A Mensageiros do Bem, continua fazendo o bem.

Era figura de relevo, em todas as sociedades que passou, inclusive na Associação Garanhuense de Atletismo (AGA), no "América", no "Grêmio Polimático". Presidiu a primeira diretoria da Sociedade Mortuária de Amor e Caridade. Pertenceu a Sociedade de Cultura de Garanhuns.

Seria enfadonho dizer nesta crônica sincera e de muitas saudades, a trilha brilhante do perfilado Ivo Júnior, homem de valor e que em todos os quadrantes de sua terra - Garanhuns, soube ser digno e honesto em suas atitudes.

Tinha um verdadeiro amor pelo Diário de Garanhuns, como cronista, secretário, redator-chefe e posteriormente Diretor.

Após seu falecimento na capital do Estado em fevereiro de 1991, o advogado e ex-companheiro de Júnior na imprensa e no Fórum, José Francisco de Souza, escreveu no O Monitor, desta cidade, na sua antiga seção "Vultos da Cidade" entre outras coisas o seguinte: "Sátiro Ivo Júnior - conquistou em todos os setores de sua vida do advogado, a consagração do melhor profissional do seu tempo. Na tribuna do Juri foi uma revelação. Grande Orador, cuja palavra era a mensagem de alta sabedoria".

Por ocasião do sepultamento do seu antigo professor Arthur Maia e grande poeta de Garanhuns, no cemitério São Miguel, em 1931, falou o Dr. Ivinho, historiando sua vida arrancando lágrimas da multidão presente naquele ato. Era a gratidão de Ivo Júnior ao seu querido mestre, o grande Arthur Brasiliense Maia.

No poema intitulado "Natal da Saudade", publicado no terceiro nº da Revista de Garanhuns, eis o começo do seu trabalho:

Natal da Saudade

"Eu me recordo com saudades do Natal quando era  bem menino.

Esperando com ansiedade...

Cheio de sensações...

A rua da igreja onde havia uma porção de barraquinhas verdes de palhas verdes, verdes como as nossas esperanças daqueles tempos, ficava cheia de gente.

Gente sem maldade... sem ostentação..."

 (Ivo Júnior - Dezembro 1930).

Esse poema de saudades, demonstra a sensibilidade e a alma sonhadora, límpida, simples de Ivo Júnior, como simples era naqueles tempos as "barraquinhas verdes".

A última vez que falei com o "Dr. Ivinho" foi na rua do Imperador Pedro II, no Recife. Uns dois minutos apenas. Naquela tarde o meu amigo estava triste e não alegre como antes. Li isto nos seus olhos. Mas disse pra mim: "Como vai Garanhuns? Tenho muitas saudades daquela gente. A uma pergunta, respondeu: "Não sei quando posso aparecer por lá". confesso que fiquei triste com a sua tristeza. Talvez, fosse a saudade que bulia com ele naquele instante de abraçar um garanhuense!

Ivo Júnior, foi o primado da grandeza eivada de simplicidade, dos verdadeiros grandes homens. A História de Garanhuns, marca o brilho e a tenacidade de um cidadão que deixou muitos exemplos. Exemplos de dignidade e honradez.

*Jornalista e historiador.

Foto: Dr. Ivo Júnior realizando uma palestra para diretores do Banco do Brasil na Capital Pernambucana.

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