sexta-feira, 18 de agosto de 2023

De Glicério a Garanhuns

Antiga Estação Ferroviária de Garanhuns na década de 1940

Marcílio Reinaux*

Queremos juntar a nossa, às vozes do Deputado Ivo Tinô do Amaral e a do povo de Garanhuns, a Cidade mais importante do Agreste Meridional do Estado, no pleito feito ao Ministro dos Transportes, Cloraldino Severo e aos Senhores Presidente da Rede Ferroviária Federal e Superintendente da Rede Ferroviária do Nordeste. O apelo é feito àquelas autoridades no sentido de adotarem providências para a reativação da linha férrea de 50 quilômetros que liga Paquevira a Garanhuns, desativada em 1967, o que  acarretou sérios prejuízos neste espaço de tempo à Região, definhando a economia, ou no mínimo, contribuindo para a sua estagnação.

No nosso tempo de menino em Garanhuns, era um espetáculo emociante ver o trem chegar pela tardinha, com a "Maria Fumaça", resfolegando, bufando nos trilhos, apitando um silvo saudoso, anunciando a sua chegada puxando um comboio. Paquevira chamava-se Glicério, importante tronco de interligação das linhas férreas que partiam de Recife, Maceió e Garanhuns, interligando o Agreste Meridional, com 36 Cidades com aquelas Capitais. As ligações ferroviárias ensejavam assim, um fluxo permanente de escoamento da produção agropecuária daquelas Cidades para as Capitais, maiores centros de consumo. Os fretes baixos justificavam sempre o uso do trem, quando uma única composição transportava centenas de toneladas de carga. Frutas, verduras, cereais, pequenos animais e uma infinidade de produtos, além de passageiros que eram transportados pelos trens.

Em contrapartida, o trem que chegava em Garanhuns, à tarde e às vezes, à noite, trazia o progresso. Trazia com ele, vistosos passageiros das capitais, a negócio ou a passeio, além, é claro, de trazerem gêneros alimentícios, eletrodomésticos, ferragens, cargas pesadas e outros produtos comercializados, permitindo um intenso intercâmbio mercantil na região. Em Paquevira, os três trens se encontravam, transformando a pequena Estação, numa Meca de vendedores ambulantes com os seus tabuleiros de lanches e frutas. A junção dos trens chamava-se "baldeação", ou seja, a troca de passageiros, cargas, vagões, maquinistas, operadores e uma infinidade de mudanças de tudo e todos. Da redistribuição surgiam outros trens com seus novos destinos, atingindo a cada dia, os três pontos básicos dessa malha ferroviária: recife, Garanhuns a Maceió.

Garanhuns, tinha no trem uma grande dependência econômica, como de resto dele, também, dependiam as Cidades de Canhotinho, São João e Angelim, diretamente ligados no trecho referido, as quais foram igualmente prejudicadas. As poucas chances de crescerem foram interceptadas com a supressão do trem. As cidades próximas a estas, também sofreram essa defasagem: Calçado, Lajedo, Jurema, São Bento do Una, Jupi, Cachoeirinha, Tacaratu, Saloá, Correntes, Brejão e muitas outras. Todas, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, na época dos trens, recebiam grandes benefícios de várias formas. Um transporte mais barato e em termos de carga com possibilidade de transportar várias toneladas de mercadorias.

No dia 28 de setembro de 1887, festivamente era inaugurado o trem para Garanhuns, que durante 80 anos ininterruptos levou o progresso à Região. No dia 18 de novembro de 1967, essa benesse foi interrompida. No dizer de Ivo Tinô do Amaral, em seu discurso da Tribuna da Assembleia Legislativa "Um tecnocrata desinformado, alegou que o ramal Paquevira - Garanhuns, estava dando prejuízo..." (Diário de Pernambuco, de 20.04.83), o que ainda completa aquele Parlamentar, "foi um lamentável equivoco".

*Marcílio Lins Reinaux é escritor, jornalista, professor e palestrante. Crônica de 07 de Maio de 1983 / Jornal O Monitor.

Foto: Antiga Estação Ferroviária de Garanhuns na década de 1940.

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