quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Carta do Padre Hosana de Siqueira ao Papa João Paulo II

Padre Hosana de Siqueira e Silva

Padre Hosana de Siqueira e Silva (foto), assassinou o Bispo da Diocese de Garanhuns, Dom Expedito Lopes em 02 de julho de 1957. Padre Hosana foi assassinado em 07/11/1997 em seu sítio no município de Correntes - PE.

"Correntes, aos 6.1.1995

Beatíssimo Padre João Paulo II

"Glória a Deus nas alturas"

Com  esta maravilhosa saudação os Santos Anjos saudaram a vinda de nosso Divino Salvador, O Menino Deus e nosso Salvador.

O mundo se encheu de  santa alegria. Os corações fiéis jubilaram com tamanha harmonia.

Foi no dia 31 do mês findo e ano também que chegou às minhas mãos a felicíssima notícia de que V. Santidade atendeu ao pedido deste servo em Xto. e sacerdote de Deus, levado por  S. Excia. o Sr. Bispo dos Palmares e meu antigo companheiro de trabalho na Diocese de Garanhuns, o d. Acácio Alves.

Foi ele quem veio até minha residência no dia 28 de setembro do ano findo e, com grande surpresa para mim, comunicou-me que aqui veio para tratarmos da solução do Caso da Diocese de Garanhuns, já tão conhecida de nós dois. Recebi-o fraternalmente e com a maior satisfação iniciamos a  conversa sobre o assunto. Veio depois ainda e então pedi que nós marcássemos o  Mosteiro de São Bento, em Garanhuns, para início de  nossas conversas, pois era um local mais propício para tal assunto; ficou assim determinado que no dia dezessete de outubro, véspera de  aniversário de minha ordenação sacerdotal, nós iniciássemos nos trabalhos.

Realmente para o Mosteiro de S. Bento, velho e saudoso recanto de tantas saudades, pois, alí era meu ponto de parada nas minhas viagens a Garanhuns e depois porque evitei que fosse aquele pequeno paradeiro de minhas viagens fechado, como ia acontecer, quando uma série crise entre alguns sacerdotes e religiosos se gerou em Garanhuns por atritos pequenos, que poderiam ser desfeitos com um certo clima de caridade fraternal; eu  mesmo fui convidado por um dos monjes para advogar o não fechamento do Mosteiro, coisa que veio o  snr. d. Abade da Bahia.

Com a minha modesta cooperação ficou suspenso o ato do snr. d. Abade que me disse: "Tu és um advogado grande e o Mosteiro não será fechado". Hoje Beatíssimo Padre João Paulo II, depois de trinta e sete anos de  ausência dalí, voltava eu para um assunto tão sério e de  tanta felicidade para mim, caso fosse resolvido o assunto de nosso trabalho; note V. Santidade como os designios do Pai Celeste são admiráveis. Na noite do dia  primeiro de julho de mil novecentos e cinquenta e sete, subia eu a escadaria daquele prédio para me amparar ou melhor dizendo, para pedir compaixão de meu divino Mestre, o Bom Jesus, em noite tão angustiosa e triste; deu-se o fato triste e doloroso de Garanhuns poucas horas antes e eu acabava de subir a escadaria como quem sobe ao Calvário; meu Deus, misericórdia!

Hoje porém, se tratava de resolver o tão lastimoso caso com uma petição ao Vaticano para ser concedida a minha misericórdia, o perdão de Deus, que jamais deixará quem n'Ele confia mesmo quando tudo faltou no devido tempo para se evitar tal calamidade.

Veio, beatíssimo Padre, o remédio de tão salutares efeitos que somente o bom Deus poderia conceder por suas mãos caridosas. Mil graças sejam dadas a Misericórdia Divina, que jamais desampara os seus.

E à V. Santidade que,  compreendendo uma via tão dolorosa, soube remediar com uma graça especial, o Indulto ao fórum eclesiástico, que tudo resolveu, meu cordial obrigado. Mil graças ao bom Deus, cuja infinita misericórdia jamais desampara a quantos se valem d'Ela para resolver suas penas ou mesmo seu martírio. Mil  graças, pois ao bom Deus.

No ano findo de mil novecentos e noventa e quatro e no início de noventa e cinco, depois da festa no Natal e na véspera do Ano Novo, tempo tão festivo para a alma cristã, faltando apenas dez minutos para o meio dia do fim do ano,  recebo eu na estrada que leva a Correntes, à minha modesta vivenda, das mãos benfazejas de D. Acácio Alves, meu antigo colega paroquiano e hoje, bispo diocesano de Palmares, a mensagem de que V. Santidade havia concedido o postulado de minha causa, o Indulto Canônico.

No versículo primeiro do  salmo oitenta e um diz o autor inspirado: "Misericórdia Domini in Aeternun cantabo, cantarei eternamente as misericórdias do Senhor." Sim! Deve ser este o hino tão apropriado para eu poder cantar o meu agradecimento ao bom Deus que permitiu fosse V. Santidade o dispensador de  tão grande benefício; não tenho palavras melhores do que as de cima para momento tão propício de ação de graças. Se o bom Deus permitir sairá brevemente trabalho escrito por este sacerdote em que V. Santidade de tudo saberá para sua meditação.

Quando o Santo Padre Paulo VI, em discurso proferido na Sede das Nações Unidas falou aos assistentes, disse as seguintes palavras: "Nunca mais a guerra. Nunca mais."

Permita o bom Deus, Beatíssimo Padre, que seu espírito de pacificação trazido para o mundo dos nossos dias, coisas que vem causando a maior admiração na sociedade e sobretudo no meio sacerdotal seja ouvido; e  a igreja de Deus bate palma e deve procurar seguir exemplos tão agradáveis ao Coração de Nosso Divino Redentor e de tantas benemerências para as almas.

Eu não desejo prolongar-me em meu hino de agradecimento à V. Santidade, pois, seria meu desejo jamais esquecer-me de tão bela atitude, seu hino eterno de ação de graças ao bom Deus e à V. Santidade. Que o bom Deus retribua tanta bondade e guarde sua pessoa por muito tempo à frente de sua Igreja imortal. Mil graças, pois, ao bom Deus e ao seu coração de verdadeiro Pai nesta hora de tão grande graça, a quem tanto sofreu, passando por um caminho de verdadeira cruz. "Glória a Deus nas  alturas e paz na terra aos homens de boa vontade", foi o hino dos Anjos no Natal de nosso divino Salvador que também canto com eles, agradecendo a maravilha recebida de suas mãos abençoadas de Deus.

Minha eterna gratidão, Beatíssimo Padre João Paulo II.

Atenciosamente 

a) Pe. Hosana de Siqueira e Silva."

Fonte: Jornal O Monitor / Jornalista Ulisses Peixoto Pinto / 1995.

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