quarta-feira, 23 de agosto de 2023

A campanha de Petrônio Fernandes em Garanhuns

Anchieta Gueiros - História de Garanhuns e do Agreste

Foi nos anos 60 quando eu estava passando férias regulamentares na minha cidade, que eclodiu o movimento cívico pelo qual o presidente Petrônio Fernandes, da Câmara Municipal, udenista de quatro-costados fiel à política orientada por Aloísio Pinto, foi  feito candidato para disputar o mandato de prefeito.

Lembro-me bem como se fosse hoje. Ao chegar na casa dos meus pais no número 485 da avenida Santo Antônio, à sombra das duas "Palmeiras Imperiais", vizinha à direita do prédio da Associação Comercial e do Fórum e, à esquerda, da residência senhorial de dona Julinha, irmã de Sátiro Ivo e viúva do português Antônio Pereira, o velho Fausto foi logo chamando-me à sala de visitas e me deu um carão daqueles que somente ele sabia dar.

"Você não tem juízo mesmo. Vir de tão longe, gastando dinheiro em passagens de avião, para passar férias aqui, justamente numa época em que a política de Garanhuns esta fervendo. Veja lá se não vai criar-me aborrecimentos. Bastam os que Rildo e Roberto estão dando, metidos a comunistas com esse tal de Arraes".

Meu pai conhecia bem todos os filhos, as tendências de cada um e, à época estava inconsolável com a perda da sua filha mais querida, Miriam. Conhecia como poucos os meandros da política local. O calor esfuziante das campanhas, e aquela que se prenunciava era das brabas. De um lado, Amílcar Valença, seu antigo liderado na bancada do PSD, do outro lado, o jovem Petrônio Fernandes apoiado por Aloísio Pinto que, na UDN houvera trabalhado muito para fazer o velho Fausto candidato de consenso, na campanha de dez anos antes.

E o carão teve prosseguimento quando ele chamou minha mulher, a paulista Maria Oliva a quem considerava como nora predileta e, no seu entendimento sagaz, muito mais ajuizada do que eu. "Vê se bota freios em seu marido, com bridão e tudo mais, não o deixe meter-se no que não foi chamado. Passem aqui férias tranquilas e prenda Rinaldo, porque esse moço é danado para intrometer-se em assuntos que não lhe dizem respeito como, por exemplo, essa política de Garanhuns e de Pernambuco".

Não valeram o carão nem os freios que minha mulher tentou colocar-me, porque  uma semana depois estava eu intrometendo-me naquilo que não fui chamado. Em lugar de descansar nas férias, usufruindo as delícias do clima serrano da cidade, e os passeios a sítios de lazer como os do Pau Pombo, jardins floridos e os do Parque Euclides Dourado, dentre tantos outros que adoro em Garanhuns, fui procurar saber o clima político em que se desenvolveria a campanha de Amílcar e de Petrônio. A coisa estava braba mesmo, como houvera advertindo-me  meu pai. Todo município estava pegando fogo pela política.

Falei com Othoniel e seu filho Everardo; tirei meu irmão Rogério do comitê estudantil de Amílcar e passei frequentar reuniões e comícios nos bairros da cidade e nos distritos. Estava novamente acesa a chama que um dia o deputado Elpídio Branco, discípulo-maior do grande Souto Filho, despertara em mim para os caminhos da política. Que dividendos de qualquer espécie me deram até hoje.

Reencontrei-me com José Cardoso que apresentou-me um neto de Sátiro Ivo, o jovem funcionário do Banco do Nordeste. Airton Diógenes que postulava a vereança. Fiquei conhecendo outro jovem, estudante de medicina no Recife, sobrinho de Petrônio, de nome Pedro Hugo Maranhão Fernandes que, à época, dizia-se admirador do que escrevia para os jornais, mesmo que ele discordasse de alguns pontos de vista, sobretudo aqueles de fidelidade às minhas raízes "elpidianas" quanto pessedistas.

Meu saudoso Antônio Fininho - Antônio Florentino de Almeida Filho - que fez comigo a campanha de Agamenon contra João Cleofas, que ajudou-me tanto a organizar a Ala-Jovem do PSD de Garanhuns sob a orientação de Elpídio, ficou bastante aborrecido pelo fato de eu estar desfraldando a bandeira de um udenista. Ponderei-lhe que Amílcar não havia apoiado meu pai, seu antigo líder na Câmara, enquanto os udenistas Francisco Figueira, Abdias Branco, Aloísio Pinto, Othoniel Gueiros, e Deusdedit Maia, dentre outras importantes figuras do partido do Brigadeiro, precursores de Petrônio Fernandes, tinham sido simpáticos à candidatura do velho Fausto quando Agamenon decidira patrociná-la para pacificar Garanhuns. Candidatura que deu com os "burros n'água" que não vingou mesmo com o apoio do governador do Estado.

*Rinaldo Souto Maior / Jornalista, cronista e historiador / São Paulo, 17 de Janeiro de 1987.

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