segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Bilhete

Edson Mendes
Edson Mendes

Fui ao lançamento de Nivaldo, na Livraria da Jaqueira. Vi muita gente, revi alguns amigos. Lá fora as pessoas riam, conversavam, cantavam. Ninguém parecia preocupado com a vida. Talvez porque a vida seja isso mesmo: conversar e cantar. Só que não é. Também tem choro, sofrimento, dor. Mas é preciso conversar e cantar para continuar vivendo, né? Penso que em casa todos deixaram as angústias particulares e, guardados no armário, certo segredos universais. Como, por exemplo, a vontade de ser feliz. De amar e ser amado. Perdoar e ser perdoado. Acertar no cuidado com os filhos, os pais, os vizinhos, os amigos, os amores. De ser gentil, sempre, de ser alegre quase sempre. Todos têm, cada um a seu modo, essas preocupações, mas o mundo gira e o tempo é tão pouco para tantas coisas... Todo mundo tem, queira ou não queira, essas dores, essas angústias, mas tudo isso faz parte da condição humana, não é? Cada um de nós é todo mundo, e todo mundo é ninguém. Em cada face eu vi, ali na livraria, sua face, minha face, todas as faces. A sua face, que me vê, e também a sua, que me lê. Você que me lê também me vê, porque o coração tem razões que a própria razão desconhece – lembra? Voltei pra casa e aqui da varanda, a lua no céu, ouço Summertime. E, enquanto penso, penso que mesmo assim, e apesar de tudo, rindo ou chorando – sempre há lágrimas! - todos lutam, porque viver é lutar. Viver  não é vencer, mas enfrentar a cada dia que nasce a vida que se finda. O que importa mesmo é aprender. A amar, perdoar, compreender. E lutar, lutar, lutar. Nenhuma alma nunca será pequena, porque maior será sempre a vida. A que vivemos e a outra, aquela que nos pede apenas coragem, como disse o Rosa. E que por ser tão breve, e leve, e fugaz, é que me faz escrever este bilhete para dizer que te amo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jesus Cristo

João Marques* | Garanhuns Jesus, no seu tempo, era conhecido ou reconhecido por poucos. Não eram todos que acreditavam em suas palavras. As ...