segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A História da Família Gueiros | Parte III

Eraldo Gueiros Leite
David Gueiros Vieira*

Manoel Dias da Silva provavelmente não era um camponês, do tipo descrito por Gilberto Freyre. No entanto, é de se duvidar que ele tenha sido parente de Francisco Garcia Dias d'Ávila, de cujas terras aparentemente ele procedia. De qualquer maneira, suas ligações familiares em Pernambuco foram das melhores, tanto as dele quanto as de seus descendentes. Seu filho, Manoel da Silva Gueiros, como será visto adiante, adquiriu dos herdeiros de Bernardo Vieira de Mello uma propriedade na região de Buíque. Um filho de Manoel, chamado Antônio da Silva Gueiros foi também dono de terras na região da Serra do Comunati. Os dois já mencionados filhos de  Antônio da Silva Gueiros, de nome Francisco e Laurentino da Silva Gueiros, casaram-se respectivamente com as irmãs Rita Francisca Barbosa da Silva e Tereza Barbosa da Silva, de Águas Belas, tetranetas de João Rodrigues Cardoso, cidadão este que, em 1700, obtivera do governador de Pernambuco a missão de "pacificar e cristianizar" os índios carnijós, hoje denominados fulniôs, na região das Águas Belas. Do lado materno, conforme nos informa Sanelva de Vasconcelos, Rita Francisca e Tereza eram bisnetas de Lourenço Barbosa de Vasconcelos. Informa-nos Sanelva que este Vasconcelos era descendente de uma dama da Corte portuguesa, chamada Brites Mendes de Vasconcelos, cuja vida será abaixo estudada (Vasconcelos, 1961).

João Rodrigues Cardoso, de Águas Belas, tetravô de Francisca Barbosa da Silva e Tereza Barbosa da Silva, por sua vez, era quinqueneto, ou sexneto, do primeiro ouvidor-geral da capitania de Pernambuco, Simão Rodrigues Cardoso. Este foi governador interino da capitania, no impedimento de Jerônimo de Albuquerque, de 1580 a 1583, afirma Sanelva de Vasconcelos.

Como se sabe, Jerônimo de Albuquerque, "o torto" - por ser cego de um olho - era irmão de Brites de Albuquerque, mulher do donatário Duarte Coelho Pereira, cujo filho Jorge de Albuquerque Coelho herdara a capitania com a morte do pai. O governo da capitania então passara interinamente para as mãos de seu tio, Jerônimo de Albuquerque, até que o sobrinho retornasse de Coimbra onde estudava.

De Coimbra, Jorge de Albuquerque, em 1568, enviara o advogado Simão Rodrigues Cardoso, formado em Direito por aquela Universidade, como ouvidor-geral da capitania, tendo esse eventual e interinamente governado a dita capitania, no impedimento de Jerônimo de Albuquerque. Simão Rodrigues Cardoso é também mencionado  em outra Nobiliarchia Pernambucana, escrita no século dezenove, de autoria de Francisco Augusto Pereira da Costa (Vasconcelos, 1962).

Através de seu descendente João Rodrigues Cardoso, de Águas Belas, o ouvidor-geral Simão Rodrigues Cardoso tornou-se ancestral de vários governadores e vice-governadores no Brasil, todos eles de uma maneira ou de outra pertencentes ao clã dos Cardosos de Águas Belas, a saber: Galdino Teixeira Lins de Barros Loreto, quinqueneto de João Rodrigues Cardoso, membro da Junta Governativa na revolta de Floriano Peixoto (1891), deputado federal pelo Espírito Santo em três legislaturas (1894-1896, 1897-1899, 1900-1902), e vice-governador do mesmo Estado; Sérgio Teixeira Lins de Barros Loreto (quinqueneto), irmão de Galdino, deputado federal por Pernambuco (1927-1930), e presidente - ou seja, governador  de Pernambuco na Primeira República (1922-1926); Etelvino Lins de Albuquerque (sexneto), chefe de polícia de Pernambuco, no período do Estado Novo (1937-1945), deputado federal (1959-1963, 1971-1975), interventor do mesmo estado (1945), governador eleito de Pernambuco (1952-1955), e senador da República (1946-1952); Jerocílio da Silva Gueiros (sexneto), quinto governador do antigo Território do Rio Branco, hoje Estado de Roraima (1944-1945), e deputado federal por Roraima (1951-1955); Antônio Teixeira Gueiros (quinqueneto), deputado estadual no Pará (1947-1951), deputado federal (1952-1955 e 1955-1959, presidente da Assembleia Legislativa do Pará e vice-governador do mesmo Estado, tendo assumido a governança estadual interinamente várias vezes; Eraldo Gueiros Leite (sexneto), Ministro do Supremo Tribunal Militar (1966-1968) e governador de Pernambuco (1968-1974); Hélio Mota Gueiros (sexneto), deputado federal pelo Pará em três legislaturas (1962-1964, 1965-1966, 1967-1968), senador da República (1983-1991), governador do Estado do Pará (1990-1994) e prefeito de Belém (1992-1996); e last but not least, Hélio Mota Gueiros Filho (septeneto), vice-governador do Pará, (1994-1998). Todos os acima eram/são parentes e "primos" entre si, ainda que, em muitos casos, tal relacionamento não tenha sido do conhecimento dos mesmos (Vasconcelos, 1962).

Fonte da Pesquisa: Livro Trajetória de uma Família "A História da Família Gueiros" de David Gueiros Vieira / Editora Nossa Livraria - Primeira Edição - Julho de 2008.

Foto: Eraldo Gueiros Leite.

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