domingo, 27 de agosto de 2023

Festa de rua em Garanhuns

Anchieta Gueiros | História de Garanhuns e do Agreste

Texto de Ailton Guerra

[Garanhuns] - Nos tempos de agora, a festa de rua se encontra em  processos de extinção. As cadeiras já não vão mais para as calçadas e nas cúbicas salas dos lares modernos, esperam o momento de serem leiloadas.

São as transformações do  tempo. Mas ainda guardo na  lembrança a voz de AUGUSTO CALHEIROS no alto falante da praça. Era dia de festa. A cidade cheia de graça e  beleza, esperava sua gente. No coreto da BANDA vestida com o branco da paz e os reluzentes botões de ouro, guardava a hora da retreta.

Na multidão os "moleques da rua" faziam das suas  com  os matutos viajantes de léguas mil. No carrossel, os cavalinhos no sobe e desce, guardavam as crianças, enquanto na roda-gigante as  moças vestidas com seus  vestidos largos, cobriam o sexo para tristeza de uma infinita plateia. O pastoril, de público mais requintado, dividia a preferência no  encarnado e azul e o VELHO, divisor de rendas e de safadeza, carregava para si o IBOP festivo.

Do serviço de som vinha a declaração de amor em pública forma: Alô, Alô você que está vestida de azul, assim como as rosas abrem suas pétalas para receber o orvalho da manhã, abra seu  coração para receber esta melodia de quem muito  te ama, assinado você sabe quem é". Incontinenti o setenta e oito rotações espalhava pela avenida o vozeirão do cantor e o ROMEU, sem dar bolas para Mister SHAKESPEARE, misturava-se na multidão à procura de sua JULIETA.

Festa de rua, promotora de romances e momentos felizes, a hora está próxima e o teu ocaso começa a surgir como uma verdadeira inconteste.

As consciências formadas na tua época de ouro, ainda hoje, apesar das condicionantes da sociedade moderna, conseguem transmitir aos mais jovens lições de amor, de simplicidade e de  humanismo.

Nas imagens simbólicas de teu contexto, ainda ouço, como o Velho Realejo de CUSTÓDIO MESQUITA, um som acalentador de múltiplas gerações.

Perdido na avenida atual, poluída de gases letais, sinto que o amor, sendo uma questão de foro íntimo, sofreu apenas transformação superficial pois a essência permaneceu imune às injunções dos cibernéticos tempos.

Garanhuns | 18 de Junho de 1977.

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