terça-feira, 25 de julho de 2023

Ruben da Silva Gueiros

Ruben da Silva Gueiros
Quarto filho do casal Jerônimo da Silva Gueiros e Cecília Frias Gueiros, Ruben da Silva Gueiros nasceu em Garanhuns, Pernambuco, a 11 de novembro de 1908.

Naquela época, a família encontrava-se em Garanhuns, para tratamento de saúde de Jerônimo Gueiros, então pastor da Igreja Presbiteriana de Natal, Rio Grande do Norte.

Juntamente com os irmãos Esdras e Nehemias, Ruben estudou na escola paroquial da Igreja Presbiteriana de Natal, escola esta criada pelo pai, em conjunto com o missionário norte-americano William Calvin Porter. Nesse educandário, foi colega de João Café Filho, cujo pai era presbítero da igreja. Como é de conhecimento de todos, Café Filho, vice-presidente de Getúlio Vargas, eventualmente assumiu a presidência do Brasil (1954-1955) após o suicídio do presidente Vargas. No presente trabalho, o nome de Ruben da Silva Gueiros será sempre mencionado por completo, para evitar confusões com o outro Ruben, seu primo, cujo nome é Ruben Furtado Gueiros. 

A julgar pelo dinamismo que demonstrou, até o último momento em que esteve em Brasília, Ruben da Silva Gueiros deve ter sido uma criança muito irrequieta. Até seu último dia de trabalho, já com 81 anos de idade, ele se movimentava na capital federal como se fosse um jovem, correndo de um ministério ao outro em defesa da indústria automobilística no Congresso Nacional. Poucos jovens teriam condições de acompanhá-lo naquele redemoinho de atividades, tão díspares e tão intensas.

Buscando escrever e descrever os eventos da sua vida, utilizei manuscrito de um seu esboço autobiográfico; de um livreto de Waldemar Lopes, intitulado Ruben Gueiros, O São João Batista da "Mística Ibegeana"; do trabalho do jornalista Cronje da Silveira, Um Pouco de História do IBGE; das memórias de Juracy Magalhães, intitulados O Último Tenente; do livro de Glauco Carneiro, História das Revoluções Brasileiras, bem como de entrevistas pessoais e de vários documentos supridos pelo próprio biografado.

Aos pés de seu pai e mestre, o pastor Jerônimo Gueiros, na escola presbiteriana de Natal, bem como no Colégio Americano Batista, no Recife, Ruben da Silva Gueiros bebeu e assimilou conceitos calvinistas de ética do trabalho, que ensinam que o homem é apenas um mordomo do Senhor, e tudo o que fizer deve ser feito pela glória de Deus. Esta, sem dúvida, foi a chave de seu sucesso na vida.

Com o regresso da família ao Recife, Ruben da Silva Gueiros ingressou no Colégio Americano Batista, onde terminou o curso Ginasial, em 1924, aos 16 anos de idade. Fez também o curso de datilografia, ministrado pela Associação Cristã de Moços, dirigida pelo pastor Jerônimo Gueiros. Tornou-se exímio datilógrafo, habilidade que poucos possuíam no Brasil de então, sendo logo requisitado pelas repartições públicas. Assim, quando ainda tinha apenas 13 anos de idade, foi convidado a trabalhar como datilógrafo do Departamento de Obras Públicas do Estado de Pernambuco. Subsequentemente, com a criação da Diretoria de Estatística Pernambucana, foi requisitado para a mesma, sendo nomeado para as funções de "apurador" e chefe da Seção de Estatística Agrícola de novo órgão, então dirigido por Rafael Xavier.

Estudante ainda pertenceu ao Tiro de Guerra 333, do Recife, tendo participado da tomada do quartel do 21 BC, na Revolução de 1930, conforme já descrito em capítulo acima, intitulado "A Família na Revolução de 1930". promovido ao posto de sargento, serviu no quartel-general da Coluna Revolucionária do Norte, sob comando do major Juarez Távora. Sua atuação, nesta revolução, é citada no livro de Gláucio Carneiro, História das Revoluções Brasileiras, e nas memórias de Juracy Magalhães, publicadas com o título de O Último Tenente, ambos já acima citados. Ruben da Silva Gueiros tinha então 22 anos de idade.

Não participou da marcha da coluna em direção ao Sul, porque estava de casamento marcado para janeiro de 1931, tendo então desposado a prima Elizabeth Gueiros Nunes, filha do coronel João Nunes. Deste matrimônio teve nove filhos: João Gilberto, Elizabete,  Rubem Murilo, Isa Noêmi, Mário Flavio, Jerônimo Augusto, Cecília Amélia, Rafael, e Luci.

Neste período de sua vida, e ainda recém-casado, passou pelo drama, já descrito em capítulo acima, de tentar salvar a vida do sogro, o coronel João Nunes.  Este fora aprisionado pelo bandido Lampião, que exigia um resgate de 15:000$000 (quinze contos de réis), pela sua vida. Juntamente com a prima a cunhada Abigail Gueiros Nunes, Ruben da Silva Gueiros saiu pelo sertão afora, em busca do cangaceiro, sem nunca lograr encontrá-lo. Como descrito por Nertan Macedo, o coronel João foi eventualmente salvo pelo cangaceiro João "Baiano", que, impressionado com a bravura do  oficial da polícia pernambucana, propôs solta-lo, a fim de que o mesmo ficasse "pra semente".

Elizabeth Nunes, a primeira esposa de Ruben da Silva Gueiros,  era filha de Amélia (Amelinha) Gueiros, filha de Laurentino Gueiros, tio do pastor Jerônimo Gueiros. Coronel João Nunes, que fora forçado a se aposentar da polícia pernambucana, pela revolução liberal de 1930, se recolhera à sua fazenda, chamada "Sueca" na Serra do Comunati, em Águas Belas, Pernambuco.

Vitoriosa a revolução liberal, Juarez Távora foi nomeado ministro da Agricultura, em 1931, levando consigo, como auxiliar imediato, o estatístico Rafael Xavier, incumbido de criar a Diretoria de Estatística do novo ministério. Este, por sua vez, convocou Ruben da Silva Gueiros para integrar o quadro de estatísticos do novo órgão, localizado no Rio de Janeiro. Algum tempo depois, Ruben Gueiros foi transferido para o recém-criado Ministério da Educação, e lotado na Diretoria de Estatística desse ministério, da qual era diretor Mário Augusto Teixeira de Freitas.

Em 1934, o ministro Juarez Távora, aceitando as sugestões de Teixeira de Freitas, sugeriu ao presidente Getúlio Vargas consolidar todos os esforços estatísticos dos vários ministérios em uma única instituição, propondo então a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Aceita a proposta, o novo órgão foi organizado por Teixeira de Freitas e Rafael Xavier, sob a coordenação de Luiz Simão Lopes, na ocasião chefe da Casa Civil da Presidência da República. Nesta etapa de sua vida, Ruben Gueiros fez parte integrante da equipe de técnicos selecionados para o quadro do IBGE, ocupando as funções de Inspetor Geral de Estatística, para todo o Brasil. Dentre outros eventos realizados, reorganizou os departamentos estaduais de estatística, consoante as normas do IBGE, como veremos abaixo.

Designado, em 1938, para reorganizar a Diretoria Geral de Estatística de Alagoas, foi nomeado diretor da mesma, pelo então Interventor Federal Osman Loureiro. Executou a tarefa em termos modelares, sendo a repartição estatística alagoana a primeira a ter seu regulamento ajustado aos compromissos e normas técnicas de acordo com a Convenção Nacional de Estatística, tornando-se um padrão para os demais estados.

Instituída a delegacia geral do IBGE no Norte do país, com sede em Salvador da Bahia, foi Ruben da Silva Gueiros então nomeado seu titular, com o cargo de inspetor dos órgãos regionais do sistema estatístico nacional. Logo em seguida, e com grande eficiência, dirigiu na Bahia o recenseamento geral de 1940.

Concluídos os trabalhos censitários, foi requisitado ao IBGE por Landulfo Alves, Interventor Federal na Bahia, para dirigir o chamado Departamento de Municipalidades, daquele Estado. Nessa capacidade, deu assistência técnica e administrativa a 150  municípios baianos. Subsequentemente, designado pelo IBGE para organizar  tecnicamente o serviço de estatística da secretaria de segurança pública da Bahia, mais uma vez, e com grande êxito, assumiu a liderança daquele órgão, no desempenho dessa função. Fez então parte da equipe do gabinete do Secretário de Segurança Pública da Bahia, o major Hoche Pulcherio.

Terminada sua missão na Secretaria de Segurança Pública da Bahia, reassumiu a posição de Inspetor Geral do IBGE, com sede em Salvador, inspecionando delegacias e agências municipais de estatística de todo o Brasil, e auxiliando na formação dos departamentos de estatística dos estados em todo o território nacional. Foi nesta ocasião em que encontrou, no então Território do Acre, um prendado e esforçado funcionário do IBGE, chamado Said Farrah, a quem levou para o Rio de Janeiro, como seu auxiliar. Mais tarde, esse ex-funcionário do IBGE seria importante personalidade na política brasileira, e ministro do governo do general João Figueiredo. Said Farrah agradecido a Ruben Gueiros pelo que este fizera, enviou-lhe uma  carinhosa carta, em seu nome e de sua família, reconhecendo o  papel que Ruben desempenhara em sua vida, tirando-o dos confins do Acre e levando-o para a capital do país.

No período de 1945 a 1950, Ruben da Silva Gueiros foi também representante do Território do Rio Branco na capital federal. Rio Branco era então governado pelo Interventor Federal Jerocílio da Silva Gueiros, também funcionário do IBGE, e irmão de Ruben Gueiros.

Em 1951, um novo presidente do IBGE, o general Poly Coelho provocou uma crise institucional, que veio a ser conhecido como "A Crise do IBGE'. O general fazia uma série de acusações a antigos funcionários da casa, aparentemente com a intenção e esvaziá-la, e preencher os cargos com pessoas de sua escolha pessoal. Como resultado desta "crise", Ruben Gueiros pediu exoneração, em caráter irrevogável, não apenas do cargo de Inspetor Geral, mas também do próprio órgão federal. Instituído inquérito, pelo  Procurador Geral da República, para solucionar dita "crise", o general Poly Coelho foi destituído da presidência daquele órgão, tendo, no entanto, já provocado a debandada de um bom número dos melhores quadros do IBGE.

O jornalista Cronje da Silveira, em seu livro, intitulado Um Pouco de História do IBGE, coloca Ruben Gueiros em quinto lugar na hierarquia daqueles a quem o autor chamou de "Paradigmas", ou seja, os principais artífices daquele órgão de estatística, tendo qualificado-o como "brilhante e operoso garimpeiro de valores nos meios governantes e privados". Esta atuação de Ruben Gueiros no IBGE era algo raro, nos meios governamentais de então, pois sempre procurava os melhores cérebros para compor sua equipe, sem medo de que alguns dos mesmos lhe viessem "fazer sombra". Rompia assim com a prática, em geral adotada em vários órgãos do governo, de se escolherem pessoas de nível inferior, que pudessem ser dominadas e "lordeadas" pelos poderosos chefes e políticos que as selecionavam.

Em suas atividades de estatístico, Ruben da Silva Gueiros cooperou na execução do censo dos funcionários da polícia civil do Rio de Janeiro. Fez também parte da equipe que organizou e dirigiu o censo dos funcionários da Caixa de Aposentados e Pensões e do Instituto dos Marítimos, realizado pelo Ministério do Trabalho.

Abandonando o serviço público federal, em 1951, entrou para a iniciativa privada, assumindo a gerência da Ford Motor Company, no Rio de Janeiro, então capital da república. Na condição de procurador daquele companhia americana, foi eleito, em assembleia geral, primeiro vice-presidente da ANFAVEA, o famoso órgão representante da indústria automobilística do Brasil.

Em suas atividades na iniciativa privada, foi também sócio fundador da tradicional empresa de transportes coletivos Evanil, que até os dias de hoje permanece no mercado, realizando transporte na rota Nova Iguaçu-Praça Mauá, no Rio de Janeiro, e operando também a linha interestadual Rio de Janeiro-São Lourenço, em Minas Gerais. Durante uma década pertenceu ao conselho fiscal da Transbrasil, companhia de transportes aéreos. Na Transbrasil, participou de viagens a vários partes do mundo, como membro de uma comitiva encarregada de negócios da companhia.

Em 1958 assumiu a gerência do escritório da Mercedes Benz do Brasil, no Rio de Janeiro, cargo esse ocupou durante seis anos. Por um tempo, exerceu também as funções de gerente de vendas da Mercedes Benz, em São Bernardo dos Campos, SP, tendo em seguida retornado a seu posto no Rio de Janeiro. Durante seis anos, foi diretor da Tudauto, concessionária exclusiva da Mercedes Benz no Brasil.

No ano de 1973, aos 65 anos de idade, com dez anos de casa, e de acordo com as regras da própria companhia, foi forçado a se  aposentar da Mercedes Benz. No entanto, como essa companhia não encontrava quem o substituísse, sua diretoria criou o artifício de contratá-lo como "Assessor da Presidência" da Mercedes Benz brasileira, e diretor da mesma companhia na Alemanha. Nessa capacidade, passou a representar essa montadora em Brasília, tendo permanecido no cargo por 17 anos, até 1990, quando finalmente se  aposentou, aos 82 anos de idade. Como recompensa pelo seu bom desempenho, recebeu convites especiais da  empresa para visitar países da Europa, e os Estados Unidos da América. Recebeu também o prêmio "Estrela de Prata das Três Pontas", da Mercedes Benz, que exprime o reconhecimento daquela companhia aos colaboradores que dão perfeito desempenho da Mercedes Benz, em Brasília, tornou-se pessoa conhecidíssima nos ministérios, no Congresso Nacional, e até mesmo no Palácio do Planalto, pelo seu charme e cavalheirismo. Fez amizades por ronde passou. Disso posso pessoalmente testemunhar, pois fui beneficiário do clima de boa vontade que criou ao redor de sua pessoa, em toda a capital federal. A pergunta: "o senhor é parente de Ruben Gueiros?" sempre antecedia todo tipo de gentileza que me faziam os funcionários do Palácio do Planalto e dos ministérios, quando descobriam que eu era seu parente.

Suas atividades compreendiam outras áreas, além da diretoria da Mercedes Benz. Colaborou diretamente com alta direção da Associação dos Municípios, entidade de que foi um dos fundadores. No governo de Jânio Quadros (1961), chefiou o Gabinete da Presidência do IBGE, da qual era titular o estatístico Rafael Xavier.

Destacou-se no meio social de Teresópolis, RJ, como organizador, em 1963, da Escola Jerônimo Gueiros, destinada a alfabetização de crianças carentes do Parque da Varginha, no distrito de Canoas. Pessoalmente manteve esta escola até 1993, quando doou suas salas de aula à prefeitura municipal. Foi também fundador e, por muito tempo, presidente do Sayonara Country Clube, de Teresópolis.

Organizou e manteve por vários anos, em Canoas, Teresópolis, o Ambulatório Álvaro Gueiros. Esse ambulatório, com o apoio e colaboração da prefeitura municipal, prestava eficiente assistência médica e odontológica, e fornecia medicamentos à comunidade carente da Varginha. Nessa localidade, também por iniciativa sua, as ruas e praças passaram a ter os nomes dos tradicionais e modestos trabalhadores da comunidade local, como Sr. Nico, Sr. Dongo, Sr. Inacinho, e de proprietários locais, como Eraldo Gueiros, Suzana Gueiros Leite e Cecília Gueiros, entre outros. Por sua atuação na área social de Teresópolis, a câmara de vereadores daquela cidade, por unanimidade, e com o apoio de todos os partidos nela representados, concedeu-lhe, em julho de 1993, o título de "Cidadão Honorário de Teresópolis".

Como evangélico, sua atuação na igreja começou desde jovem, tendo sido eleito diácono da 2ª Igreja Presbiteriana do Recife. Quando trabalhava na Bahia, foi eleito presbítero da Igreja Presbiteriana de Salvador. Em Teresópolis, no distrito de Varginha, organizou e viabilizou o funcionamento de uma igreja evangélica. Construiu também um tempo, que doou à Igreja Renovada Cristã Maranata. Foi também sócio benfeitor do Abrigo Presbiteriano, do Rio de Janeiro, RJ.

Após a morte da primeira esposa Elizabeth Nunes, casou-se em  segundas núpcias com Nair da Rocha, filha do pastor batista Joaquim Correia da Rocha. Mesmo depois de aposentado, e descansando dos labores de uma longa vida, Ruben da Silva Gueiros, com 89 anos de idade, manteve-se ocupado em sua residência, em Copacabana, Rio de Janeiro, colecionando notícias sobre a família e "publicando-as" via Xérox, através do que chamava de Fuzy Presse,  que enviava a vários parentes, em sua lista de endereços.

Faleceu em 2001, com 98 anos de idade. Por sua vontade, de incansável batalhador, teria continuado labutando por muitos anos ainda, pelos menos escrevendo seu jornal Fuzy Press. Foi de pessoas, símiles a ele, que sem dúvida, escreveu o rei Salomão em seu Provérbios: "Viste o homem diligente em sua  obra? Perante os reis será posto, não com os de baixa classe".

Fonte: Vieira, David Gueiros, 1929 -

Trajetória de uma Família:

História da Família Gueiros / David G. Vieira -Brasília, 1ª edição

2008. 622 p.

Foto: Ruben da Silva Gueiros.

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