quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O que sou, e a formiguinha


João Marques* | Garanhuns

Sou um ser humano e faço parte da construção do mundo. Cultivo a esperança de que a humanidade melhore, compreendendo a vida, praticando a paz.  E me projeto espiritualmente na eternidade... Observo tudo e acompanho a existência de outras formas de vida...

A formiguinha, vejo-a caminhando sobre a mesa, como um ponto vivo que vai e vem. Naturalmente, ela não me vê. E se percebe perto o dedo de minha mão, não sabe o que é. Não me conhece, como sei a graça de sua existência. Ela é minúscula, em todas suas aparências. Pequena, e criada, porém, por uma grande inteligência. Como eu, da mesma vida da formiguinha, existindo por uma vontade grande e poderosa. O que faz, em seus itinerários, não faço. Também, ela não conhece os meus caminhos...

Mas sinto, ao vê-la assim, uma expressiva intimidade que nos aproxima. Eu, ser humano; ela, formiguinha. Criatura da mesma criação de tudo. Seres diferentes, mas regulados por condições próprias da existência. Vidas à parte... mas vida. Penso, por ser o que é, ela não pensa como eu. Não tem os meus questionamentos, as minhas convicções e os meus desvios do saber. Bom grado, pela sua maior e mais profunda limitação, é um serzinho inocente. 

Chamo-a de formiguinha, mas, digamos, poderia chamá-la de Quitéria. Não tem personalidade, certamente. Não tem identificação pessoal... A sua importância é existir, na condição de igualdade. E conscientizo-me de que somos dois seres distintos. Ela em seu universo de pequenez e naturalidade; eu em meu mundo de grandeza, de tantos dissabores e incertezas.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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