"Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou coisas passadas; lembranças nostálgicas de pessoas distantes ou extintas, acompanhadas do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado a situações da privação de alguém ou de algo. (Saudade! És a ressonância de uma cantiga sentida que, embalando a nossa infância nos segue por toda a vida).
As definições acima, oriundas de lexicógrafos renomados, buscam uma maneira meio pragmática de definir o que seja uma "apertura" no peito, que nos deixa triste, flutuante e confuso, todavia um pouco deslocado ou enlevado do ambiente e do cotidiano. São, porém, no nosso entendimento menos significativos e profundas do que o cantado ou declamado, pela misteriosa, fantástica e incomparável inspiração dos cantadores nordestinos, lídimos representantes da POESIA.
Depois de adejar nas tiradas dos maiores expoentes do repente no que concerne ao tema saudade, ousamos, certo dia, grafar também, despretensiosamente, recuando aos primeiros anos de vida, o que se segue:
Oh! Meu Deus, quanta saudade;
Só, na saudade me embrenho;
Saudade do que já tive,
Saudade do que não tenho;
Saudade da minha infância,
Saudade do meu engenho.
Agora, vamos aos inigualáveis e imortais poetas nordestinos e sertanejos, cuja verve sublime e soberba continua sendo objeto de admiração e estudo:
Antônio Pereira, natural de Itapetim, compôs:
Saudade é um parafuso,
Que quando na rosca cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo não vai;
E se enferrujar por dentro,
Pode quebrar mais não sai.
Quem quiser plantar saudade,
Primeiro escalde a semente;
Depois plante em terra seca,
Onde o sol bata de frente,
Pois se plantar no molhado,
Quando crescer mata a gente.
Lourival Batista Patriota, também conhecido como Louro do Pajeú, considerado o Rei dos Trocadilhos, criou:
Saudade, velha saudade,
Saia de perto de mim,
Pois a hora da vela
Eu sei que é muito ruim;
Pois só a vela é quem vela,
Quem leva vela tem fim.
Severino Lourenço Pinto, ou simplesmente Pinto do Monteiro, sentenciou filosoficamente:
Essa palavra saudade,
Conheço desde criança;
Saudade de um amor ausente,
Não é saudade, é lembrança;
Saudade, só é saudade,
Quando morre a esperança.
A maneira metafórica usual dos poetas-cantadores envolve, tirante o rasgo do improviso, uma beleza harmônica impressionante, quase indescritível no tocante a qualquer tema ou mote abordado. Porém, quando se reportam ao da saudade, extrapolam em criatividade, musicalidade e maviosidade. Somente quem já assistiu, ao vivo, um conhecido "Pé de Parede", poderá aquilatar a geniosidade desses artistas, verdadeiros vates populares e possuidores de infinitos estros.
Literatos e texicólogos escrevem estribados na gramática ou em normas escorreitas de linguagem. Tudo bem. Mas os poetas, estes escrevem com romantismo, com a intuição, com as torrentes de inspiração, com algo do espírito ou da alma; enfim, com o coração.
Por isso, por tudo ou pelo pouco que entendemos, mas sentimos, somos mais, muito mais, as definições versejadas dos grandiosos poetas sertanejos; os mais autênticos, legítimos e puros retratadores do BELO.
Por fim, saudade não é tão somente "vontade de ver de novo". (Garanhuns, 10 de janeiro de 2004).
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