segunda-feira, 3 de junho de 2024

Folhas secas, que caem


João Marques* | Garanhuns

A paisagem da natureza mostra-me as folhas secas caindo. Os talos secando, os frutos pendentes e amadurecendo. Mas de tudo isto que cai, comigo também, caem as folhas secas. E caio, caindo da vida, até ficar completamente estendido e seco no chão. Abismo inevitável e necessário, como são os ventos ligeiros, correndo e se nivelando às superfícies. As folhas caem, admiradas e presas aos ramos de meus olhos. E, na queda, florescem movimentos circulares, como é o balanço dos roseirais. Como é a poesia em redor do verso.

Vem rodopiando espaço abaixo, em evoluções elegantes, da coreografia que a natureza imprime em seus movimentos. E tremula igual às mãos que se abrem no adeus acenado à distância. Não me passam despercebidas as quedas das folhas secas e amarelecidas. A cor do ouro, pela idade avançada. Folhas que me despertam poeticamente a realidade da vida.

Muitas vezes, apanho-as e levo comigo. Acomodo estas folhas agonizantes em algum lugar em meu quarto. São, agora, como florescimentos da saudade. E, se as observo agora à distribuição de seus talos na superfície, mais evidentes, compreendendo a perfeição na natureza. O desenho do recorte, as bordas ligeiramente viradas para dentro, como a flor que murcha; a leveza do cair; e o silêncio perpetuado nos movimentos giratórios e na queda, que mais se dá como o pouso no chão de um farrapo da roupa do vento. Suspiro, profundo, por mim e pela folha seca, a verticalidade presente em tudo. Esta verticalidade, que se distribui nas formas e constituição dos entes, como traço inconfundível da sabedoria e da criação.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro. 

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