quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Memórias e Inquietações de Ivan Rodrigues


Trata-se de uma história rica, cujo registro não pode ficar restrito a poucas pessoas; é responsabilidade de toda a comunidade garanhuense conscientizar-se desse encargo


De tempos em tempos, vejo-me instigado a empreender a tarefa de redigir um livro que conte minhas histórias, memórias, recordações, casos e causos, estórias. No entanto, sempre hesitei diante dessa ideia, resistindo por não apreciar totalmente o que escrevo e temendo desagrados.

Subitamente, percebo que estou me transformando em um arquivo ambulante. Constato que, ao menos para preservar a memória, os mais idosos têm um papel fundamental. Se não aproveitarmos o pouco tempo que nos resta, corremos o risco de perder essa riqueza, especialmente considerando que, no meu caso, descubro ser o venerável Patriarca da Família.

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Minha estimada sobrinha Maurinha me escreve após ler um relato que fiz sobre o 1º de abril de 1964:

"Tio, li o texto e ele me deu a certeza de que o senhor precisa escrever um livro narrando não só os episódios políticos, mas todas as histórias que refletem a memória familiar. Pensei até em algumas no gênero crônica. Quero que meu neto leia um dia para sentir o ritmo de suas histórias e o quanto uma vida pode ser permeada de sentido."

Em uma visita à Secretaria de Saúde, encontro Maria Helena, filha de Sebastião Moura Lins, grande amigo de nossa família. Começo a contar as maravilhosas estórias que seu pai criava. Logo, um entusiasmado auditório se forma ao nosso redor, encantado com a capacidade criativa de Sebastião. Faço uma reclamação à família Moura Lins pela falta de registro dessas histórias. Maria Helena me desafia:

"Já que o senhor conhece tanto a obra de meu pai, por que não a escreve?"

No Facebook, onde participo como "velho amostrado" em um grupo organizado por Cora Valença chamado "Fatos e Fotos Antigas de Garanhuenses", começo a ser reconhecido como um pronto socorro para o resgate de relíquias históricas de nossa cidade. Tornou-se comum ouvir:

"Só o Ivan pode lembrar disso! Corre, Ivan, vem nos ajudar!"

Mesmo Mirandinha, filho do querido amigo Antonio Miranda de Lima, provocou:

"Acho que você não pode deixar de legar para Garanhuns o seu magnífico repertório e sua fabulosa memória."

Mesmo que Mirandinha tenha esquecido a lição de Cervantes de que "elogio em boca própria é vitupério," o que também se aplica à generosidade dos amigos, há alguns dias, me rendi aos apelos de Cora e Mirandinha:

"Minha querida Cora e Mirandinha: Rendi-me! Ao renovar minha carteira de motorista, fui advertido pelo servidor do DETRAN: Na sua idade, a validade da carteira renovada é de apenas UM ANO! Caiu a ficha, e o jeito é começar a escrever as belas e inusitadas histórias de nossa terra. O que fazer com os escritos é outra história, e depois a gente resolve se vale a pena ou não."

Como se vê, a minha expectativa de vida para os burocratas do Detran é de apenas um ano. Decidi enfrentar o encargo aprazível de contar as histórias e estórias que conheço, esperando que elas sirvam para algo além de propagar as coisas lindas de nossa terra, deixando assinaladas minhas inquietações e divergências.

Seria imperdoável deixar na obscuridade a história de Garanhuns, com figuras extraordinárias como Manoel das Estrelas, Jeitoso, Catrevage; os bêbados como Bode Cheiroso, cujo nome verdadeiro era Plínio; o Rei Simão Ramos Dantas, que se autodenominava "Rei de Portugal e do Mundo Inteiro em Geral"; o velho engraxate Borburema, correligionário fiel do Deputado Elpídio Branco até o seu último suspiro; os ícones dos carnavais, como Nestor Carrascozo e Messias Orani do Bloco Vassourinhas, Leopoldo Leite do Bloco de Macaíba e Maria Lúcia; os magníficos músicos e vozes de nossas festas e serestas, como Manoel Teles, João Correia, Manoel Gouveia, Manoel de Sargento, Pernambuco, maestro Lula Figueiredo, Professora Zulmira Fogo, mãe do brilhante pianista Ronaldo White; nossos pintores e retratistas, como Ronaldo White, Walter Vieira, Agilberto Dourado; intelectuais como Luís Jardim, Arthur Maia; atores e responsáveis pelas manifestações teatrais do Grêmio Polimático de Garanhuns, como Sr. José João de Carvalho, seu filho Arnaldo e suas filhas Esmeralda e Cremilda, Alfredo Leite, Manoel Gouveia, José Elesbão; visionários como Euclides Dourado, idealizador do Parque que leva seu nome e do bairro de Heliópolis, Ruber van der Linden, que associou seu nome a todas as inovações tecnológicas do século XX aqui surgidas; jornalistas como Dario Rego, João Domingos da Fonseca, Sátiro Ivo Júnior, José Francisco de Souza, Professor José Rodrigues, Ulisses Pinto, a sempre querida unanimidade garanhuense Humberto de Morais; educadores como Pe. Adelmar e toda a família Valença, Seu Thompson, Madame Verônica (chamada assim por serem madres do Santa Sofia) que marcaram época nos grandiosos colégios que dirigiram.

Trata-se de uma história rica, cujo registro não pode ficar restrito a poucas pessoas; é responsabilidade de toda a comunidade garanhuense conscientizar-se desse encargo.

Não sei se conseguirei, mas espero fazer a minha parte!

Crônica de Ivan Rodrigues de Apresentação do Blog  Memórias e Inquietações de Ivan , 13 de novembro de 2014.

*Ivan Rodrigues da Silva, faleceu na tarde da terça-feira, 06 de abril de 2022 em Recife, aos 94 anos, o advogado Ivan Rodrigues, natural de Garanhuns, nasceu em 13 de fevereiro 1928.

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