quinta-feira, 6 de junho de 2024

Maria Gecê

Luís de Barros Correia Brasil
Rinaldo Souto Maior*

Descendente direta de Zumbi, o herói negro do Quilombo dos Palmares, teve em sua pródiga vida toda majestade, grandeza suprema da sua ancestralidade africana, e portou-se, desde menina, agregada à família do professor Luiz de Barros Correia Brasil (foto), tal qual uma princesa da sua raça. Maria Gecê, que Garanhuns de antigamente conheceu, na Rua do Recife, como preceptora dos filhos de Luiz Pereira Júnior, a quem ministrou preceitos e instruções, e que, em Caetés, findou seus dias de apostolado, foi uma dama na verdadeira e real acepção do termo.

Dela falava-me com enorme carinho e reconhecimento a filha de Luiz Brasil, Dona Georgina, primeira esposa do patriarca caeteense, que teve em Maria Gecê, nos primórdios da infância e mocidade, a companheira dedicada, irmã de criação, que no decorrer existencial prestou relevante colaboração e educação de Maria Luíza (viúva Nélson Screnci), Maria Rita (Senhora Ormito Azevedo), e Rafael que está concluindo o terceiro mandato como prefeito de Caetés.

Tive o prazer de conhecê-la pessoalmente, tanto na rua do Recife, como na casa de Caetés, ao tempo em que seu Júnior comandou as hostes gloriosas do antigo PSD, ao lado de Dona Cabocla (Luiza Pereira de Carvalho), sua irmã e conselheira política.

Lembro-me da amizade e admiração que o Deputado Elpídio Branco mantinha com Maria Gecê, que foi uma mulher politizada na sua época, assim como, mais tarde, as frequentes recepções que fez ao deputado Aloísio Souto Pinto, outros políticos que frequentaram a casa de seu Júnior, em Caetés.

Quando ainda chamado de Caetano, aquele município, ex-distrito administrativo de Garanhuns, foi palco de memoráveis reuniões familiares, onde agrupavam-se muitos filhos de Dário Rego, Morse Lyra, Dr. Liberato, Elpídio, Lula Branco, Raimundo de Moraes, e outras personalidades de escol da sociedade garanhuense, que Maria Gecê, dona de casa e quituteira de mão cheia, recebia com fidalga atenção para fins de semana, que sempre encerravam-se  festivamente, com uma quadrilha dançada, marcada por Rafael, no prédio em que funcionou uma escola pública. Não importava que a semana ou o mês fossem o de São João ou do carneirinho, das fogueiras, e dos buscapés. A quadrilha esteve presente sempre em todos os meses, daquelas reuniões de jovens, como hoje em dia está o rock da atual mocidade.

Recordo-me da beleza de Neodalva e Diana, respectivamente filhas de Mário e Morse Lyra, primas sanguíneas, e do assanhamento de Cláudio Moraes e Luizinho Pontual diante do reflexo que irradiava as moças bonitas, dançando com perfeição a quadrilha bem marcada. Tudo isso, na distância da minha bem vivida mocidade, e na que separa-me geograficamente das terras agrestinas, é motivo de reflexão e saudade respeitosa sobre a majestade de Maria Gecê, que foi a princesa negra, adotada como filha de criação do professor Luís Brasil, prefeito de Garanhuns, poeta parnasiano, e um dos pernambucanos que mais sabia falar e escrever o vernáculo português.

"E à noite o primeiro górdio da serra, com os pitéus vernáculos do velho Portugal", como cantou Eça de Queiroz, em "A Cidade e as Serras" (página 198), eu também, saudosamente, canto nos versos sem rima o meu tempo, as serras do Garanhuns, onde floresceu Maria Gecê. No dia a dia, quotidianamente, da casa familiar de Luís Brasil, onde foi adotada para fazer companhia a filha primogênita e única, dona Georgina, primeira esposa do patriarca Luís Pereira Júnior.

*Jornalista e historiador / São Paulo, outubro de 1988.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um encontro de saudades

Waldimir Maia Leite "Wadô" Marcílio Reinaux* Homem ou mulher, por mais forte que seja, não escapa de momentos transcendentais na v...