Quando a efervescência do álcool subia-lhe às têmporas, trazendo-lhe à mente uma sensação de bem estar, vinha-lhe a espontaneidade que já lhe era bem peculiar. E justamente nesse momento as piadas, as gozações, as perguntas indiscretas eram-lhe dirigidas por seus companheiros que já ficavam na expectativa de suas respostas. As senhoras mais recatadas, ao tomarem ciência dos tais momentos, iam-se retirando, ficando apenas algumas jovens que, por astúcia gostavam de ouvi-las para depois se confabularem sobre seus efeitos, entre risos maliciosos que motivavam maior afogueamento àqueles que se dispunham às pulhas.
- Quando tive em São Paulo, disse Zé Candango, vi um sordado dando uma bronca danada num motorista.
- Cuma foi? perguntou um dos ouvintes.
- Ele falô prô motorista: Ei, ocê ai num viu as frechas? E o motorista arrespondeu: Num vi nem os índios, que dirá as frechas!
Algumas pessoas desataram a rir e um dos companheiros falou:
- Candango! Conta aquela dos meninos da escola!
- Um menino falô prô pai: Pai! Tô com medo da prefessora. Ela falô que vai puxá minha urêia. Entonce o pai arrespondeu: Passe vasilina!
- Asto dia, continuou Zé Candango, vi dizê que o avô do Nerson morreu. Entonce preguntei a ele se tinha lhe deixado arguma coisa. Sabe o que ele me arrespondeu?
Todos disseram nhô não.
- Ele me arrespondeu: Nove fio e duas fia.
E, a pedido de um e de outro, o dia avançava sem que ninguém se apercebesse. A bebedeira prosseguia a medida que o repertório de Zé Candango se ampliava.
Um fanfarrão que estava presente na ocasião falou:
- Ouça bem, seu Candango; no tempo das patentes um rei tocou na cabeça do meu avô com uma espada e fez dele um Duque.
Zé Candango respondeu:
- Isto num é nada. Uma vez um índio tocou com um cacete na cabeça do meu tio e fez dele um anjo.
Dentre estas piadas, inúmeras obscenidades eram igualmente focalizadas.
Num fim de tarde, Zé Candango um tanto embriagado se deixava conduzir pela mulher e, depois de um tombo, vociferou:
- O véio Cosmo foi acertá a missa de sétimo dia de sua muié. O padre cobrô trinta cruzeiro. Ele arrespondeu: Num tenho um tostão; tô arrazado; a muié morreu e a única fia foi ser frêra; tô só no mundo.
*Maviael Medeiros / Professor, escritor e cronista / Garanhuns, 05 de Julho de 1980
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