Fortunato Guerra
- Não sei se como eu, você vê
Clara, perfeita e completa
Essa realidade malogra
Que à frente se coloca
- Como vês?
- Como vejo?
Vejo nada a mais, nada menos
Do que sempre vi.
Vejo a fuga, o êxodo
De uma gente, de um povo
Que emigram com medo.
- Escuto o que dizes...
- Mas o que quero é que vejas,
Enxergues com teus próprios olhos
Os muitos que roubam
Levando tudo que é nosso.
- É isso o que resta.
Desta vida arrastada e patética.
- Quem ficou?
- Filhos legítimos.
Os da clara e da gema.
Alguns artistas,
Alguns poetas,
Alguns pintores,
Alguns literatos,
Alguns escultores,
Alguns músicos,
Alguns políticos.
- Políticos?
- Sim, alguns políticos.
Estes também ficaram...
Tínhamos um lento, manso
Ocaso.
Às cinco o céu ardia em fogo
Com os raios do sol quase morto
Gritando por um socorro
Era lindo...
É lindo,
Pois mudamos nós.
A noite chegava
E sentávamos numa praça pouco florida
Porém silenciosa.
Lá para as tantas,
Falávamos de nós.
Uma música suave soava. Era Gil
Cantando Juliana,
Falando de um amor.
Um Gil louco, mas gente,
Que nos contava da vida
Experiências exóticas, bizarras...
Garanhuns, 18 de agosto de 1979.
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