terça-feira, 29 de agosto de 2023

Um breve diálogo

Fortunato Guerra 

- Não sei se como eu, você vê

Clara, perfeita e completa

Essa realidade malogra

Que à frente se coloca

- Como vês?

- Como vejo?

Vejo nada a mais, nada menos

Do que sempre vi.

Vejo a fuga, o êxodo

De uma gente, de um povo

Que emigram com medo.

- Escuto o que dizes...

- Mas o que quero é que vejas,

Enxergues com teus próprios olhos

Os muitos que roubam

Levando tudo que é nosso.

- É isso o que resta.

Desta vida arrastada e patética.

- Quem ficou?

- Filhos legítimos.

Os da clara e da gema.

Alguns artistas,

Alguns poetas,

Alguns pintores,

Alguns literatos,

Alguns escultores,

Alguns músicos,

Alguns políticos.

- Políticos?

- Sim, alguns políticos.

Estes também ficaram...

Tínhamos um lento, manso

Ocaso.

Às cinco o céu ardia em fogo

Com os raios do sol quase morto

Gritando por um socorro

Era lindo...

É lindo,

Pois mudamos nós.

A noite chegava

E sentávamos numa praça pouco florida

Porém silenciosa.

Lá para as tantas, 

Falávamos de nós.

Uma música suave soava. Era Gil

Cantando Juliana,

Falando de um amor.

Um Gil louco, mas gente,

Que nos contava da vida

Experiências exóticas, bizarras...

Garanhuns, 18 de agosto de 1979.

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