sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Augusto Calheiros: Sua arma era o violão


Foi  a boêmia inveterada, em toda a sua maior expressão, que tornou um interiorano de Garanhuns (Maceió/AL), em nome nacional.

Quero me referir nesta lembrança, à figura de Augusto Calheiros (foto), carcereiro em Garanhuns e um dos seus mais completos boêmios. Podíamos dizer sem ofendê-lo, como nos versos de Noel Rosa, em "Último Desejo", "o meu lar é um botequim...", pois sendo autoridade policial, a arma que usava, era um violão, que tocava com maestria, junto a uma voz que mais tarde, iria levar bem alto por esses brasis afora, nos discos gravados e nas apresentações do seu conjunto musical, o amor a sua terra e a sua gente, na interpretação muito pessoal da música popular do Nordeste.

Calheiros, quando não estava em serviço, se encontrava nos "botecos" daquele tempo, tocando o seu violão, cantando rodeado de amigos. Contava-se que em face de uma de suas sempre desavenças familiares, Calheiros que era ponto permanente em todas as serestas de Garanhuns, houvesse luar ou não, certo dia anoiteceu e não amanheceu no seu Garanhuns! Desapareceu da circulação, e foi aparecer muito depois junto aos boêmios, poetas e artistas do velho Recife, empunhando ainda o seu violão, mas organizando um conjunto musical de pau e cordas, que se chamou os "Turunas da Mauricéia", e saiu a percorrer este País, em festas particulares, exibições públicas nos teatros  e cinemas, cantando as emboladas nordestinas, e  a nossa canção popular. Os "Turunas da Mauricéia", marcaram época na divulgação das músicas do Nordeste.

Ainda ressoam em nossos ouvidos, nos discos da Casa Odeon, quando as vitrolas começavam a entrar nos salões familiares, os versos e a música de:

Pinião, pinião, pinião

Oi! pinto correu com medo do Gavião!

Por isso mesmo sabiá cantou

Bateu asa e avuô

E foi comer melão!...

Ou também:

Ai Helena, Helena!

é meu amor!

Melhor ainda, quando cantava, os versos da Ave Maria:

"Cai a tarde

tristonha e serena

Em macio e suave langor

despertando em meu coração

As saudades do primeiro amor!...

Sino que tange com mágoa dorida

Recordando os sonhos, da aurora da vida...

Na prece da Ave Maria

Mais modernamente, quase nos último anos de sua vida, era ainda a voz genuína do Nordeste, difícil de ser imitada, na canção.

Mané fogueteiro

Era o Deus das Crianças

Na Vila distante de Três Corações

Em dia de festa, fazia rodinha, soltava foguetes,

Soltava balão.


Mané fogueteiro, gostava da Rosa!

Cabocla bonita, no mundo não tem!

Mais o pior de tudo, era que o Zé Boticário

Gostava um pouco da Rosa também!

E assim, foi a vida de boêmio, cantor e poeta, ainda hoje lembrado, nos seus versos, canções e serestas! (Fonte: Garanhuns do Meu Tempo | Alfredo Vieira | Ano 1981 | Foi mantida a grafia da época).

Créditos da foto: Arquivo Nirez, dos anos 1920 ou 1930.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O político e as raízes de Souto Filho

Gerusa Souto Malheiros* Do poder, meu pai não sentiu jamais o desvario, nem o considerou um bem de raiz. Da sua tolerância, da moderação e d...