Os caminhos são a vida também, acontecendo ao longo da existência. Não esqueço os caminhos que conheci desde a infância. E como são bonitos e cheios de significação os primeiros caminhos. Não tinha 5 anos, e andei por um caminhozinho que nunca esqueci. À minha frente caminhavam 2 ou 3 mulheres. Para acompanhar os passos longos eu precisava correr. Corria numa carreira agradável, não cansativa, e como quem vai sem pensar em chegar. Caminhava como quem já havia chegado. O chão do caminho, alvo, mas tão alvo, que era como uma miragem de luz. A areia macia, igual a um tapete colocado ali, para a passagem de um menino sem pressa. Mil anos teria sido o tempo da passagem. Imensa a emoção, de quem reinicia a viagem, por caminhos alvos. Estreitos, mas alvos. Santos caminhos que ensinam a caminhar.
Estradas em outros cantos e mais velhas. Poeirantes e esburacadas. Enfrentei depois do caminhozinho alvo, estradas altas e baixas, com muita lama. E cansavam. Felizmente, quando menino, tive que andar sempre por veredas e chãos embaraçosos. Fui feliz porque foi a primeira escola, o ensinamento para, depois, subir montanhas. Caminhos, que se abrem à passagem do homem e que guardam as marcas de suas pisadas, sofridas e indecisas muitas vezes. E, mesmo que não sejam deixadas marcas nas trilhas do chão, do ar e do mar, hão de ser desenhados na alma os roteiros percorridos na vida. Que lição maravilhosa nos dão os riachos e os rios! Depois de percorrerem distâncias, refrescando as várzeas, enverdecendo os prados, acabam na imensidão das águas, e viram mar. Bem aventurados os que não estancam, e têm sempre caminhos se abrindo para continuar, mesmo nas situações mais difíceis. O meu caminhozinho alvo nunca se afasta dos meus pés, e me leva a pensar nestas coisas bonitas. É a poesia que me faz poeta e caminheiro andando muitas vezes por vales e encostas íngremes, mas decidido. Afinal, penso, o primeiro caminhozinho, alvo, será meu sol futuro, acima do próprio mar e das montanhas. (Fonte: Jornal O Século, Garanhuns, 2016).
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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