sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Revelação


João Marques* | Garanhuns

Quando me atiro a pensar na existência, conduzo o pensamento para a origem da vida. Toda sabedoria está no princípio. E penso imediatamente que não me fiz, nem quem veio antes de mim se fez. O mundo não se faz, é desdobramento de um princípio, que está ainda muito além dos avanços do conhecimento da ciência. E satisfaz-me observar a natureza, as coisas que cabem na compreensão.

Tem de haver um princípio único e harmonioso. Uma inteligência grandiosa, universal, que estabelece em si uma unidade, esta abrangente a sua manifestação ou criação. E em cada ser, por sua vez, essa mesma unidade, de forma individual. Contemplo a perfeição da natureza, dos céus, da vida que me alcança. Compreendo as assertivas e a beleza expressa em tudo. A flor, o seu encanto. O animalzinho, a sua graça. A musicalidade nos movimentos da existência, a medição e os efeitos do tempo, o equilíbrio dos astros, a luz. E tudo me convence que predomina na vida uma sabedoria superior. Uma manifestação do belo, que se espraia nas paisagens e nas formas. E compreendo que há uma dinâmica no mundo, e um domínio imenso de amor. 

Ante essas reflexões, penso que a morte não é terminal. A vida, de muitos ciclos, não acaba na grande unidade nem na individual. A vida verdadeira está em sua essência, que se concebe como uma substância energética. E assim como atrás da flor existe, invisível, outra flor de essência energética; no ser humano, há outro corpo rarefeito e vivo, da vida essencial, que não acaba. Tudo tem sua duplicidade... nos seres vivos, mais que a história da hereditariedade, a natureza da inteligência, que se manifesta de diferentes modos ou intensidades. Enfim, não me sinto só e abandonado a uma vida de sacrifícios e subordinação ao tempo, que é inteiramente parcial. Sei, assim, que a vida é universal e eterna.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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