sábado, 26 de agosto de 2023

Renato Pantaleão

Humberto Alves de Moraes

Humberto Alves de Moraes*

Renato Correia da Silva, depois que passou a prestar serviços na mortuária da família Pantaleão em Garanhuns, teve substituído o sobrenome, ficando popularmente conhecido por Renato Pantaleão. Escultor e pintor, deixou excelentes trabalhos, destacando-se a imagem do Cristo crucificado no Mirante do Magano, entre outros trabalhos. Pessimamente remunerado, passava por privações. De estatura de aproximadamente um metro e cinquenta, apresentando envelhecimento precoce, meio feioso, o artista conviveu com mulheres bonitas. Era portador certamente de beleza interior que o tornava atraente para as mulheres.  Nos fins de semana costumava frequentar a pensão de Sebastiana na zona do meretrício. Localizada na travessa entre as ruas D. José e Dr. Dourado. Envergando terno formado por um paletó de tecido quadriculado, aberto atrás, camisa com gravatinha de laço, calça de pernas estreitas e botinhas de meia perna, e salto alto para melhorar a altura, chapéu de abas curtas e uma peninha colorida, o diferenciavam dos demais frequentadores. 

Conversando, às vezes com amigos, deplorava a situação de certas jovens que terminavam por viver naquela situação. E, apontando para  uma delas, chamava a atenção.

- Olhem! Aquela menina de corpo escultural parece uma deusa. Se tivesse condições a levaria para casa. É um excelente modelo para uma escultura ao nu...

Referia-se a uma jovem de 17 anos que passara a ser mulher da vida que dançava no salão.

Álvaro Santana, o enfermeiro mais antigo do Dom Moura, vitimado por problemas  cardíacos, faleceu. O sepultamento foi realizado no Cemitério São Cristóvão, saindo o cortejo de sua residência, à avenida Djalma Dutra, bairro de Heliópolis, por volta das 14 horas.

No trajeto, pela rua Francisco Branco (na época conhecida por Rua do Sossego) chamava atenção a grande quantidade de meninas pobres em número muitas vezes superior ao de meninos que ao lado de adultos presenciavam a passagem do enterro.

O cemitério São Miguel não dispunha mais de espaço para novas sepulturas, ocasião em que chegou um enterro de uma jovem que morava na zona rural. O administrador informou que  não havia onde abrir a cova, devendo o sepultamento ser feito no Cemitério São Cristóvão, que fica a mais de cinco quilômetros do "São Miguel". Exaustos da viagem até aquele local, vez que o cortejo, como de praxe era feito a pé, os responsáveis queriam deixar o ataúde no necrotério. O administrador resolveu fazer uma proposta para solucionar o problema. Dirigindo-se aos responsáveis, formulou uma proposta:

- Há um meio de sepultá-la. É melhor do que deixá-la decompondo-se no caixão. Há uma cova onde há um homem sepultado. Vocês não fazem questão de enterrá-la sobre o defunto?

Pensando em se livrar do cadáver, todos concordaram indagando como seria, o sepultamento.

- Como a cova é profunda cavamos um pouco e antes de descobrir o caixão, colocamos este em cima, - esclareceu o administrador. E assim foi feito. A jovem falecida foi sepultada sobre o esquife do escultor Renato Pantaleão que, mesmo depois de morto continuou atraindo mulheres para o seu convívio mesmo para a eternidade. (Jornalista, radialista e cronista | Garanhuns, 5 de agosto de 1994).

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