quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Prefácio do Livro 'Relendo o Passado - Em Linguagem Poética' de José Inácio Rodrigues

Livro "Relendo o Passado - Em Linguagem Poética" de José Inácio Rodrigues

Evaldo B. Calado 

Lembro ainda - "Uma voz amiga dentro da noite". ZYK23 Rádio Difusora de Garanhuns, pioneira no interior do Estado. Dali suas antenas levaram por décadas, a voz poética, singular, romântica, enternecedora, no programa Revendo o Passado, apresentação inconfundível de José Inácio Rodrigues. Não o conheci aí; foi muito antes. Jovem, atuando na Empresa de Propaganda A Antena, de propriedade do Sr. Humberto Granja, situada inicialmente na parte posterior do Cine Teatro Jardim, de propriedade do senhor Agenor Moraes, mudando posteriormente para a Cooperativa dos Cafeicultores, na Avenida Santo Antônio, proximidades da Alfaiataria Cury. Iniciando-se na Antena como locutor comercial, e nela, despertando vocações, deu preciosas lições a outros jovens que o admiravam e manifestavam um interesse acendrado para a radiofonia. Foram muitos a sorverem dos seus conhecimentos juntamente com os de J. Soares, seu companheiro de lide.

O moço inquieto e laborioso não ficaria apenas na "A Antena". Decidido e inteligentemente, retomou seus estudos no Gigante da Praça da Bandeira, absorvendo as  preciosas lições de civilidade pela palavra sábia de um dos maiores educadores da Terra de Simôa Gomes. Mons. Adelmar da Mota Valença.

O que vivenciamos em comum: Jovem ainda, pairava com frequência na Empresa de Propaganda  A Antena, atraído pela camaradagem deste homem exemplar. Mais tarde, estudamos no mesmo colégio, em dado momento, ele namorou minha amiga, neta de Ruber van der Linden, a qual era bastante amiga de minha namorada e até hoje esposa e companheira de meio século. Na linha do tempo, fui convidado por José Inácio para compor com ele, candidato a Prefeito, como seu Vice. Ele, como o amigo Iran Pessoa, enquanto radialista chegou a ler ao microfone de  seus programas alguns de meus modestos versos. O que temos de mais comum e que relato com imenso prazer e até certo orgulho, é que somos avós de Byanca e Ryan aos quais amamos incondicionalmente.

José Inácio tornou-se, fez-se diretor da Ciretran de Garanhuns, foi eleito vereador, conseguiu mandato de Prefeito, projetou-se na política contribuindo para o desenvolvimento da sua Garanhuns querida. Mas, os anos de ouro deste ser humano admirável, segundo minha ótica, foram mesmo os anos de sonhos, poesias, leituras de peças literárias, declamações de trabalhos maravilhosos e produções de suas próprias composições poéticas.

Lembro com saudade daqueles tempos, quando Ele pronunciava ao microfone da emissora, aquele peculiar "Amigo meu, amiga minha" e quando enviava seu abraço fraterno não para Garanhuns, para todos os bairros, como também para todo o agreste meridional ou até aonde chegavam às ondas da Emissora.

No cerne de sua programação, grande destaque, a famosa sessão "Nelson Convida", para os apreciadores da boa música de Nelson Gonçalves, que ele conheceu quando aqui "aportou" o famoso Seresteiro. Seu lirismo radiofônico era a marca indelével, de sua maneira de apresentar com sentimento o que lhe pairava na alma notívaga de homem do rádio. Noites impregnadas de sonhos... Liames fortes entre os amantes. Declarações apaixonadas que eram apropriadas pelos ouvintes a partir das declamações envolventes de "Zé Inácio" como era conhecido.

Quem matou o romantismo? A tecnologia? A transmutação cultural? A mudança de valores que aliena pessoas para não enxergarem como antes a beleza das flores, o belo do sorriso da criança, ou a simplicidade e a doçura num olhar feminino?

Por certo deixaram fenecer muito do esplendor deste universo maravilhoso. Relegaram a segunda plano o que mais impressionava nosso sensorial, ora privilegiando o imediatismo, o sensualismo e as coisas de somenos importância, mas existe, sempre existiram e existirão, ainda por muito tempo, pessoas como José Inácio Rodrigues, que resistiu e resiste à sanha da engenharia reversa na literatura, na poesia e nas artes, até o último verso do poema lírico de sua nobre existência.

Deus seja contigo, meu Amigão.

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