Nasceu Alfredo Correia da Rocha no dia 8 de agosto de 1912 no lugar conhecido por Muniz, vizinho do povoado de Santa Quitéria de Freixeiras, então pertencente ao Município de Garanhuns. Filho de humildes agricultores de velha família de boa cepa garanhuense e honrada vivência desde o século passado, de suas raízes genealógicas brotaram descendentes que enriqueceram nossos bons costumes, de homens ligados umbilicalmente às atividades agrárias/comerciais.
Logo cedo emigrou para São Paulo, onde radicou-se na cidade de Santos, consequência de ter para ali seguido na qualidade de militar, na Revolução Constitucionalista de 1932. Cessadas as hostilidades da sedição, passou a trabalhar nas Docas do porto de Santos, exercendo ainda misteres vários, inclusive o de contabilista.
Passou logo depois, a trabalhar no jornal "Tribuna de Santos" na época o maior jornal do interior brasileiro, inicialmente, como "copidesk" e em continuação, colaborou nas lides jornalísticas, escrevendo em apurado estilo e poder de síntese. O jornalismo, segundo assegurou Alceu Amoroso Lima, grande escritor e crítico nacional, é nesta seara Alfredo Rocha trouxe à luz o seu pendor para as Letras. Era um autodidata. Não o autodidata definido por Olívio Montenegro, como aquele "que entende um pouco de tudo e tudo do nada" sua obra nega solarmente este conceito do notável crítico paraibano.
Foi naquela cidade paulista aflorando a veia artística de Alfredo Rocha, pari passu com a sua busca diuturna de conhecimentos intelectuais que o aprimorasse na formação básica necessária para a expressão poética. Peregrinou na leitura de todas as obras-primas da literatura mundial e nacional. Abeberou-se nos grandes escritores dos movimentos literários representativos do País: Olavo Bilac e Olegário Mariano, no parnasianismo (movimento literário este de sua preferência); Cruz e Souza, no simbolismo, Machado de Assis, no realismo e outros autores, no romantismo. Conviveu com os clássicos do Pensamento universal, como o vocacionado, o sedento que busca a fonte.
Embora produzindo uma vasta e expressiva obra poética dispersa e variada, na forma de publicação, só editou ordenadamente, dois livros - "Peregrinação", uma compilação de belos sonetos, poemas e trovas, vindos e lume no ano de 1961, na cidade de Santos e o intitulado "Imagens e Ritmos no Tempo" editado no Recife, em 1974, com prefácio do escritor Mauro Mota, quando ele residia nesta cidade. Nessa época preparava, com dedicação, a elaboração de outra obra, a qual daria o nome de "O Porto da Expiação", vida romanceada dos trabalhadores portuários, classe que tão bem conheceu no seu cotidiano labor. Porém a morte interrompeu seu desiderando, privando os admiradores da boa literatura da alegria de participarem da expressividade esperada de sua prosa romântica, que na poesia e no conto já se prenunciava.
Ao chegar em Garanhuns, no ano de 1972, Alfredo Rocha mostrou seu talento e sua atuação eficaz no ambiente da arte literária, promovendo o renascimento do Grêmio e galvanizando as atividades inerentes desta agremiação. Cultuamos a memória do poeta, gratos que somos.
Versos indicativos da intuição criadora de Alfredo Rocha, sentimos no poema sob o título ANTAGONISMO - a seguir escrito:
Impossível, distante, minha vida
Não consegue, jamais unir-se à tua...
Quando muito, o problema se atenua
Porém a solução nunca é sabida
Quando vagas em Marte, eu estou na Lua
Quando desces, me encontro na subida
Quando chegas, me encontro de partida,
Quando em casa te encontras, saio à rua
Gostas do dia, me conforta a noite
E talvez... e talvez, eu não me afoite
A resolver um dia esta questão
Entre a dúbia existência que levamos
São bem poucos os bens que desfrutamos
Se quando digo SIM... tu dizes NÃO.
Ainda sobre o livro "Imagens e Ritmos no Tempos", lançado nesta cidade, sob o patrocínio deste Grêmio, observa-se que Alfredo Rocha, também incursionou com maestria no gênero da prosa, onde surgem crônicas de conteúdo satírico, tendo a ironia como tema recorrente.
Enfim, o garanhuense Alfredo Rocha, se destacou na literatura como verdadeiro poeta e prosador, sempre lembrado por todos que leram seus escritos primorosos e encantadores. Foi um grande de Garanhuns, nos meios em que predominam as coisas do Espírito, a beleza, o sofrimento humano, pois fazer poesia é angustiar-se e sofrer.
Faleceu Alfredo Rocha no dia 23 de agosto de 1977, em plena reunião desta Associação, que se realizava na Sede do SESC desta cidade. Findou-se, como viveu a maior parte de sua vida, no convívio intelectual, fascinando naquele instante com a pulsão fecunda da poesia que lhe dominou a existência.
*Jornalista e historiador / Texto lido na reunião do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, de 7 de janeiro de 1995.
Foto: Alfredo Correia da Rocha, ao centro, por ocasião do lançamento de seu livro "Imagens e Ritmos no Tempo", em 20 de agosto de 1974. A sua direita Dr. Aurélio Muniz Freire e, à esquerda o advogado José Francisco de Souza.
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