Pedro Jorge Silvestre Valença*
A população de São Pedro tem uma atração pelo Centro Sul do País. Muitos não conhecem o Recife, mas a maioria já esteve no Estado de São Paulo, a exemplo do nosso vizinho da Várzea Comprida que fez um "estágio" por lá e depois foi ser Presidente do Brasil. Mas nossa história remonta aos anos 40, quando João de Tôca, deixou nossa Vila em direção ao Sul e como ainda não existia o "Pau de Arara" foi a pé e sem dinheiro, trabalhando de cidade em cidade. Quando chegou em Minas Gerais, ganhou um dinheiro mais avultado, e resolveu melhorar a "bóia", acrescentado umas guloseimas, e na suas compras pediu uns confeitos, mas o vendedor não entendeu o seu pedido. João de Tôca então mostrou o depósito repleto de confeitos, e o comerciante retrucou - O Senhor quer é bala! Nosso conterrâneo saiu em disparada, deixou o resto das compras e só foi comer na outra cidade a frente. Não me lembro se João de Tôca disse quantos dias demorou na sua viagem.
Manoel "Fava Pura", carregador de caminhão por profissão e "Peru" de jogo de baralho por inteligência. Nosso conterrâneo resolveu ir para São Paulo; conseguiu a passagem, mas o dinheiro para as despesas era pouco. Com toda malandragem "Fava Pura" entrava nos restaurantes e como se fosse motorista de caminhão, ordenava aos garçons que "juntassem" as sobras dos pratos, que ele levaria para o seu cachorro, que vigiava a carga do seu veículo. Chegou em São Paulo de barriga cheia e lá usou a sua profissão de "traçar baralho", ganhando dinheiro, até a saudade apertar, quando voltou para São Pedro.
Vespasiano Vasconcelos, "Seu Vespa", sobrava em inteligência e lealdade. Contador de "causos" e de histórias do passado de São Pedro. A melhor foi a despedida da Água de Fogo e da Vergonha, que resolveram tomar destinos diferentes.
A Vergonha perguntou a água como poderia encontrá-la novamente.
- Me procure perto das baixadas cobertas por sombras, com plantas, que eu estarei por lá.
- E compadre Fogo como posso encontrá-lo?
- Me procure nos lugares secos com muito calor, cheios de cascalho e bagaços secos, que eu estarei por perto!
- E comadre Vergonha como poderemos lhe encontrá-la?
- Quem me perde, nunca mais me encontra!
Dizem que em Brasília, é muito fácil de se encontrar o Fogo e a Água, mas a Vergonha está ficando rara por aquelas bandas. Vamos ver se melhora!
José de Júlia, mulato de 1 metro e 80 de altura, só não foi jogador profissional de futebol porque gostava de dar uma "tapa no beiço". Apesar de pouco letrado é um humorista nato e tem resposta para tudo. Era festa em Jucati e Zé de Júlia não queria perder e ficou apelando por uma carona. Foi quando Valdinho apareceu com sua caminhonete e nosso herói se candidatou a uma vaga no veículo. Valdinho explicou que ia carregado de bolacha, mas na volta seu lugar estava garantindo. Ai Zé de Júlia entrou com a frase lapidar:
- Valdinho como é que vou voltar, se eu não fui? José de Júlia deixou de beber, e para tristeza do folclore, diminuiu o seu bom humor.
Firmo Broca, vacinava, fazia parto, descornava e tudo que o gado precisa-se. Veterinário prático. Mas tinha um despeito com Dr. Warner Silva, Veterinário de renome.
Uma dia uma garrota teve um problema: Não enxergava, botava sangue pelo nariz e estava caída. Firmo deu logo o diagnóstico: - Foi o "calango"! (a tradição determina que não se deve dizer a palavra: cobra, pois o ofídio está por perto e vai voltar para completar o serviço). Não acabou de falar vai passando Dr. Warner, que também deu o seu parecer: - Os sintomas são de picada de cobra!
A reação de Firmo Broca foi imediata, virando para o lado, disse:
- Cobra, Cobra, isso é Doença da Ponta! Mudou de diagnóstico e escolheu uma doença que os livros não registram, só como sintoma de uma deficiência orgânica, que deixa a ponta cheia de gases e as vezes com um líquido putrificado.
Um aviso "Doença da Ponta" nos humanos é uma realidade mas tem outros sintomas!
João Joaquim trabalhou comigo por mais de 20 anos, uma pessoa correta e responsável, mas era cheio de cacoetes: Depois de tomar café, ficava com a boca fechada para não entrar vento, tomava o seu banho diário, só que frio, independente da baixa temperatura do dia, não acreditava que o homem tinha ido na "Terra da Lua" e que não havia cobras que não fossem venenosas e dizia: - Só deixo de matar, se não encontrar uma pedra ou uma vara.
Como Diretor da Mafisa, viajava por todo o Nordeste. Além do motorista Dinho, sempre levava João Joaquim e outros amigos de São Pedro para mostrar a Região. Por exigência da Mafisa, tinha que manter a "pose", e só escolher restaurantes e hotéis de primeira linha.
João Joaquim se comportava impecavelmente e usava toda mordomia, apesar de no princípio estranhar o ar condicionado na hora de dormir. As piscinas eram "curtidas", com direito a trampolim e dar "patada" com toda categoria.
No Hotel da Bahia, 5 Estrelas, frequentado por artistas e empresários, chamei João Joaquim para a sauna. Quando ele viu a temperatura e os vapores do ambiente, deu uma "ré", e declarou que não era doido para morrer cozinhado. Ficou do lado de fora. Quando eu e Dinho, saímos e entramos no banho frio, nosso companheiro não aguentou e disse que morreríamos de congestão!
De São Pedro, participaram das mordomias de viagens pelo Nordeste: José Nunes, Zequinha, Zi Ferreira, Paulinho do Papa Terra, Luizinho e Dedé. Outro companheiro, quase permanente, era Duque de Constantino que devido ao seu bom humor, onde chegava ficava contando vantagens. Parecia que éramos os donos de Garanhuns.
*Economista, agropecuarista e escritor.
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