terça-feira, 1 de agosto de 2023

"Ode" ao professor Letácio


Genivaldo Almeida Pessoa* (foto) | Garanhuns, 2006

Seu crepúsculo de vida terrena foi "lento e terno" sem a rudez da agonia do fim...

Pai morreu antes de o natal chegar, do meu natal mais triste..., aguardando os netos de Maceió, que chegariam para compor a família em noite de festa...

A mesa ornamentada pelo balaio natalino, era  completada pelo bolo ainda quente que Dona Lalinha, minha mãe, se orgulhava de ter feito; O peru temperado ainda seria comprado para almoço do amanhã que para ele chegou em outro reino...

O seu último presente foi um par de meias pelas mãos de Simone, sua neta mais velha: ainda apalpou o pacote envolvido em papel colorido, sem conseguir desembrulhar, quando seu queixo arriou de encontro ao peito onde minha mãe desesperada e trêmula procurava os baques do seu coração parado... E, sua vida esvaiu-se de vez em um dos quartos da "Clinicor" sem ver as lágrimas do meu irmão Carlos Alberto e nossas faces de desespero...

Meu pai, meu professor, meu companheiro de todo dia, foi assim de encontro a Deus...

Aqui nos deixa um vazio, algo estranho, difícil de explicar na sua ausência..., só a saudade perene e dolorosa que a sua falta nos traz.
Sertanejo! Nascido na zona rural da Caraíba das Flores, já na divisa à paraibana Princesa Isabel, onde foi batizado; menino Letácio, chegava com os pais e mais sete irmãos, fugindo da "seca dos anos 1920".

Aqui foi estudar... Religioso procurou o vigário da paróquia da Boa Vista, onde encontrou guarida e, ainda novo com seus dezesseis anos, começava a ensinar em sua escolinha, onde permaneceu durante 40 anos...!

Do seu amigo e compadre, Dr. Celso Galvão, recebeu várias "comendas" como servidor municipal exemplar, atestando sua  dedicação e amor à missão que lhe foi confiada; Das mãos do ex-prefeito Ivo Amaral recebeu Diploma de Honra ao Mérito de Garanhuns na festa do centenário de município.
Orgulhava-se de desfilar com seus alunos no dia 07 de setembro e dos seus parceiros políticos; Francisco Figueira, Deputado Elpídio Branco, e prefeito Aloísio Souto Pinto; pedia apenas a cessão de mais um instrumento, "um surdo ou tarol", para compor a banda da escola.

Emotivo, seus olhos lacrimejavam quando recebi diploma na  Faculdade no término do curso de letras, e já ensinava no Colégio Municipal Agobar Valença; seu filho assim também um professor seguia os passos do pai...

Sua hombridade era também estampada no seu  comportamento de respeito e honestidade resguardando, sobretudo a família...

ATÉ UM DIA MEU PAI...

*Professor, escritor e poeta.

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