sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O personagem


João Marques* | Garanhuns

Quando se morre, a coisa mais intima que se deixa é o nome. O nome é tão forte representação em vida, que não morre, e fica muitas vezes por décadas ou centenas de anos. Fica marcando presença, oficial ou popular, onde for invocado. Não é mais, mas continua representando a pessoa. Um personagem, digamos, ou uma entidade do que foi. E o nome carrega, mais que antes, a imagem, viva, do morto. Um personagem que desempenha o próprio papel. Uma imortalidade já, independente do plano infinito. Um drama póstumo, em que, na realidade  são protagonistas os que ficam. Na Literatura, lembremos aqui, muito oportuno, a obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Uma vida revivida pelo finado Brás Cubas, ao romancear sua vida nos capítulos da lembrança. E acontece com todo o mortal, como na imaginação do escritor, a representação maior ou menor, romanceada ou não. E ante as duas realidades, a certeza de que o drama representativo da vida continua, nos domínios das existências plurais. Por fim, penso nas representações de toda vida eterna, são inesquecíveis como são as saudades da vida de criança.

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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