quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O legado de José Inácio Rodrigues

Roberto Almeida*

Já doente, fazendo hemodiálise em média três vezes por semana, magro e andando ajudado por uma bengala, José  Inácio Rodrigues escreveu um livro e se  preparava para lançá-lo ainda neste primeiro semestre. A morte veio antes, mas a obra ficou pronta, editada graças ao  patrocínio do Grupo Sobral Modas. 

"Relendo o Passado", este é o título do  livro, traz poesias, um pouco de prosa e depoimentos de algumas personalidades de Garanhuns sobre o ex-prefeito. José Antônio Sobrinho, Manoel Neto  Teixeira, João Marques, José Hildeberto Martins, Jodeval Duarte e Bahia Filho estão entre que os escreveram a respeito de José Inácio. O prefácio foi de Evaldo B. Calado.

"O mal chegou em forma de um derrame, fruto de pressão alta. Calou a voz de Revendo o Passado e Sempre Nelson. Calou o bom orador dos comícios, capaz de  emocionar grandes multidões. Calou o  criminalista, agora entregue ao silêncio, sob o domínio de males graves  que exigem o tormento da hemodiálise. E, no  entanto, ainda é possível ver e ouvir o homem na  forma como chegou ao  poder municipal com mais  bens - físicos e materiais -  do que quando chegou ao poder",  escreveu Jodeval no artigo que está no livro.

OS POEMAS - A poesia de Zé Inácio é fácil e boa de se ler. Sem grandes preocupações com a  técnica e normas literárias, o escritor fala como o coração e revela grande sensibilidade. Em  muitos momentos confessa ter saudades de  sua mocidade, quando fazia serestas pelas ruas de Garanhuns e tinha o vigor da juventude. Lamenta a doença, mas reconhece que tem um anjo ao seu  lado, cuidando de si. Muitos dos poemas são dedicados a ela, a sua amada Eliane, com quem viveu os últimos anos de vida na casa simpática na Rua do Magano.

José Inácio canta a Boa Vista, as ladeiras de Garanhuns, relembra pessoas que já se foram, recorda de uma maneira muito forte a sua mãe, também já em outro plano e faz versos até para o Cedro, plantado próximo ao prédio da prefeitura, pela então prefeito Celso Galvão. 

No curso daquela edificação

Entendeu-se que a árvore, incipiente,

De tão bela, era um talismã do oriente,

E no ubérrimo terreno, ficasse então

Para que, no futuro, todos admirassem

Um lindo cedro e uma ingente construção.

Cheio de amor a terra que o acolheu ainda bebê, ele dedica o poema mais extenso do livro a sua  Garanhuns, batizado com  o mesmo nome da cidade:

Nasceste entre belas colinas,

Ludicamente, vive a Cidade colossal,

Boa Vista, Magano Altaneiro!

São José, o Majestoso Arraial,

Onde Euclides e Pipe Dourado,

Anteviram nossa aurora boreal.


Cidade dos meus ancestrais.

Berço e casulo dos mochileiros!

Garanhuns, mãe dos meus filhos,

Terra dos Meus sonhos primeiros.

Zé Inácio foi locutor de serviço de som, apresentou programas na  Difusora, se fez advogado e professor. Trabalhou no Ciretran, exerceu três  mandatos de vereador e  esteve prefeito por seis  anos, de 1983 a 1988. O homem que conheci já  marcado pelo tempo era sobretudo um homem bom, um sonhador, um poeta. Por isso que seu último ato foi este livro, com versos dedicados a uma cidade, um povo, uma mulher.

*Jornalista, blogueiro e escritor / Texto transcrito do Jornal Correio Sete Colinas de Junho de 2012.

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