Já doente, fazendo hemodiálise em média três vezes por semana, magro e andando ajudado por uma bengala, José Inácio Rodrigues escreveu um livro e se preparava para lançá-lo ainda neste primeiro semestre. A morte veio antes, mas a obra ficou pronta, editada graças ao patrocínio do Grupo Sobral Modas.
"Relendo o Passado", este é o título do livro, traz poesias, um pouco de prosa e depoimentos de algumas personalidades de Garanhuns sobre o ex-prefeito. José Antônio Sobrinho, Manoel Neto Teixeira, João Marques, José Hildeberto Martins, Jodeval Duarte e Bahia Filho estão entre que os escreveram a respeito de José Inácio. O prefácio foi de Evaldo B. Calado.
"O mal chegou em forma de um derrame, fruto de pressão alta. Calou a voz de Revendo o Passado e Sempre Nelson. Calou o bom orador dos comícios, capaz de emocionar grandes multidões. Calou o criminalista, agora entregue ao silêncio, sob o domínio de males graves que exigem o tormento da hemodiálise. E, no entanto, ainda é possível ver e ouvir o homem na forma como chegou ao poder municipal com mais bens - físicos e materiais - do que quando chegou ao poder", escreveu Jodeval no artigo que está no livro.
OS POEMAS - A poesia de Zé Inácio é fácil e boa de se ler. Sem grandes preocupações com a técnica e normas literárias, o escritor fala como o coração e revela grande sensibilidade. Em muitos momentos confessa ter saudades de sua mocidade, quando fazia serestas pelas ruas de Garanhuns e tinha o vigor da juventude. Lamenta a doença, mas reconhece que tem um anjo ao seu lado, cuidando de si. Muitos dos poemas são dedicados a ela, a sua amada Eliane, com quem viveu os últimos anos de vida na casa simpática na Rua do Magano.
José Inácio canta a Boa Vista, as ladeiras de Garanhuns, relembra pessoas que já se foram, recorda de uma maneira muito forte a sua mãe, também já em outro plano e faz versos até para o Cedro, plantado próximo ao prédio da prefeitura, pela então prefeito Celso Galvão.
No curso daquela edificação
Entendeu-se que a árvore, incipiente,
De tão bela, era um talismã do oriente,
E no ubérrimo terreno, ficasse então
Para que, no futuro, todos admirassem
Um lindo cedro e uma ingente construção.
Cheio de amor a terra que o acolheu ainda bebê, ele dedica o poema mais extenso do livro a sua Garanhuns, batizado com o mesmo nome da cidade:
Nasceste entre belas colinas,
Ludicamente, vive a Cidade colossal,
Boa Vista, Magano Altaneiro!
São José, o Majestoso Arraial,
Onde Euclides e Pipe Dourado,
Anteviram nossa aurora boreal.
Cidade dos meus ancestrais.
Berço e casulo dos mochileiros!
Garanhuns, mãe dos meus filhos,
Terra dos Meus sonhos primeiros.
Zé Inácio foi locutor de serviço de som, apresentou programas na Difusora, se fez advogado e professor. Trabalhou no Ciretran, exerceu três mandatos de vereador e esteve prefeito por seis anos, de 1983 a 1988. O homem que conheci já marcado pelo tempo era sobretudo um homem bom, um sonhador, um poeta. Por isso que seu último ato foi este livro, com versos dedicados a uma cidade, um povo, uma mulher.
*Jornalista, blogueiro e escritor / Texto transcrito do Jornal Correio Sete Colinas de Junho de 2012.
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