terça-feira, 1 de agosto de 2023

Um pouco da história do Colégio Diocesano




Deixei o meu grupo Grupo Escolar Severino Ribeiro, após as férias de junho de 1927, e fui matriculado quase compulsoriamente, no Ginásio de Garanhuns, em julho do mesmo ano, quando para ali me levou o meu padrinho, Dom João Tavares de Moura, 1º Bispo de Garanhuns, cuja direção do Ginásio compartilhava com o Padre Manoel Diegues Neto. Dom Moura, a esse tempo se transferia do seu Palácio Diocesano, para morar em dependência simples do próprio Ginásio e sentir de perto os seus problemas.

Cursando inicialmente a  4ª série do Curso Primário, continuação da 4ª classe do Grupo Escolar, logo em seguida em março de 1929, fazia exames de admissão para o Curso Ginasial, já em regime de fiscalização oficial.

A publicação oficial dos 50 anos (1965) do Colégio Diocesano de Garanhuns, traz o seguinte histórico:

"Antes de nascer, o Ginásio de Garanhuns, já existia na mente do Monsenhor Afonso Pequeno, primo do Monsenhor Antero e vigário da paróquia de Garanhuns desde 1908. Conseguiu ele a fundação, em 1912, do Colégio das meninas (Santa Sofia) e, ao entregar a paróquia ao Cônego Benigno Lira, exigiu dele o compromisso de fundar o colégio dos meninos. Por esse tempo, os meninos estudavam, uns  na escola paroquial, outros no próprio Santa Sofia, outros nas escolas públicas e no colégio protestante; os mais adiantados, quase todos deixavam de estudar, pois só os ricos podiam ir para Recife, continuar os estudos. Estava em Garanhuns, desde março de 1912, como capelão do Santa Sofia e coadjuntor da paróquia, o Padre José Ferreira Antero. Ao assumir a paróquia, o Cônego Benígno Lira em janeiro de 1915, dois padres recém-ordenados - João Olímpio dos Santos e Eustáquio de Queiroz - lhe foram dados como coadjuntores, para que o Padre José Ferreira Antero pudesse ficar livre do trabalho paroquial e, assim, ser fundado o colégio dos meninos. Habitavam os quatro padres a mesma casa paroquial e, nela a 19 de março de 1915, foi fundado o Gymnasio de Garanhuns, pelo Cônego Lira, ficando o Padre José Ferreira Antero como diretor e tudo mais, pois o vigário e os dois coadjuntores, mal tinham tempo de vencer os pesados trabalhos da Paróquia. Sendo o dia 19 de março um sábado, as aulas começariam a funcionar na segunda-feira, 21 de março, conforme aviso publicado no jornal "O Sertão", de 20.03.1915. Neste aviso, foram publicados, além da notícia da fundação do Ginásio, os seus preços: curso primário, 3$000; curso ginasial até o 3º ano, 5$000; curso ginasial do 3º ano em diante, 10$000; internos, 50$000. Começou a funcionar no Chalet, primeiro prédio ao lado de cima da Rua Santo Antônio, lado direito da Catedral, de propriedade de Dona Raquel Grossi, sob aluguel. Nesse mesmo prédio - hoje, Hotel Familiar (Banco Bradesco) - funcionara, desde a fundação, o Colégio Santa Sofia. Eram utilizadas, também, as duas primeiras casas da rua Dom Luís de Brito, nos fundos do Hotel Familiar. Eram laterais as duas escadas da entrada, não, como hoje, na frente. Um dos mais belos prédios de Garanhuns, naquele tempo! Dentro dele, numa arcada ainda hoje existente liam-se as palavras: Deus, Pátria, Família, Instrução. Começaram as aulas com 15 alunos externos, número que, aos poucos, foi sendo aumentado. A disciplina impecável, a eficiência do ensino, os festivais realizados, eram coisa nunca vista em Garanhuns! Tão eficazmente o Ginásio foi dirigido pelo Padre José Ferreira Antero que, em pouco tempo, começou a gozar de ótimo conceito em todo o Estado e no Estado de Alagoas, donde vinham diversos internos, sobretudo dos lugares vizinhos à Usina Serra Grande, de propriedade da família do Cônego Lira. O fardamento usado era: farda branca com botões dourados, dragonas vermelhos e Kepi branco com uma fita verde-amarela, na qual se liam as palavras Gymnasio de Garanhuns. Tal fardamento ainda era usado a 12 de outubro de 1925, conforme se vê na fotografia de inauguração do prédio atual; só em 1927 é que o branco foi substituído pelo kaki. Eram muitas as dificuldades, pois Garanhuns pequenina, sem luz elétrica, sem água encanada, sem calçamento, sem condições de higiene, tinha muitas vezes, de enfrentar graves problemas como, por exemplo, o da célebre influenza espanhola que obrigou o Ginásio a antecipar, para setembro, as férias do fim do ano de 1918. Nessa mesma época, uma outra prova de fogo teve o Ginásio que suportar: criada a Diocese, o Cônego Lira fez opção pela  Arquidiocese e se foi. Não convinha à paróquia, com o novo vigário sem coadjuntores, a responsabilidade de um ginásio. Mas a Providência tudo resolveu: à instância do arcebispo Dom Sebastião Leme, o Padre Antero, para não ver fechar-se o Ginásio, assumiu a sua responsabilidade absoluta. Ficou, portanto, como proprietário do Ginásio, pagando aluguéis a Dona Raquel Grossi pelo prédio. Na posse do 1º Bispo, Dom João Tavares de Moura, a 26.10.1919, tinha o Ginásio 16 internos e 40 externos, o que representava, na época, grande coisa. Para dar mais vida e desenvolvimento ao Ginásio, Dom Moura comprou, em 19.01.1920, o prédio por trás da Rotunda com o seu sítio.

Essa compra foi feita ao Dr. Armínio Lalor Mota, que, 15.08.1919, a fizera ao Sr. George Henderlite. Este comprara, a 15.07.1908, a Antônio Henrique de Moura, que, por sua vez, comprara; a 12.08.1896, a Agostinho Ferreira de Noronha Branco, o sítio, e a Basílio de São João, as casas. Em fevereiro de 1920, passou o Ginásio a funcionar aí, ainda sob a responsabilidade do Padre Antero que continuou a pagar aluguel à Diocese. Nesse prédio, teve o Ginásio grande desenvolvimento, crescendo a matrícula para quase 100 externos e 60 internos. São de Dom Moura estas palavras: "A direção compensa com convencionados juros proporcionalmente ao número de alunos, o capital empregado nesse próprio diocesano. É seu diretor, desde o começo, o Revmo. Padre José Ferreira Antero, cujos esforços têm sido coroados com o desenvolvimento e o renome que vai tendo o estabelecimento". Diante das necessidades sempre crescentes, em novembro de 1923, foi iniciada a construção do prédio atual, no local de uma antiga garagem. Tudo fez Dom Moura para que esse prédio fosse construído às expensas do Padre José Ferreira Antero.

Chegou mesmo a ver aprovado pelos Consultores Diocesanos a 09.04.1924, o seu desejo de "empréstimo, sob juros e garantias, do resultado das alienações de patrimônios, ao Padre José Ferreira Antero, afim de auxiliar a construção de um prédio para o Ginásio de Garanhuns". O Padre Antero, porém, não aceitou. E, para a Diocese, administrou toda a construção, aprovada pelo engenheiro Leonardo Arcoverde, na qual foram gastos 176.000$000. Essa construção embora interrompida pelo inverno de 1924, que prejudicou quase metade da fachada, foi inaugurada a 12 de outubro de 1925. Em dezembro de 1926, por motivo de saúde, Monsenhor José Ferreira Antero deixou o Ginásio e Garanhuns. A providência o trouxera em 1912: dera a Garanhuns 15 anos de trabalhos heroicos e generosos, dos quais 12 no Ginásio que, após 38 anos de sua ausência, ainda o  tem bem presente. Substituí-lo, não foi fácil. Veio Dom Moura residir no Ginásio e, em 1927, confiou a direção ao jovem sacerdote Padre Manuel Diegues Neto. Fundado o Seminário em 16.07.1927, parte do prédio antigo lhe foi entregue; a outra metade, lamentavelmente, foi cedida ao Sanatório Carneiro Leão (hoje, Hotel Petrópolis "Em 23.05.2023  resta somente o terreno"). Em 1928, Dom Moura substituiu o Padre Diegues pelo Monsenhor José Anchieta Callou, que iniciou sua direção fazendo uma excursão, coberta de êxito, em propaganda do Ginásio, ao Recife e algumas cidades de Alagoas. Com a morte de Dom Moura, embora administrando a  Diocese, Monsenhor Anchieta Callou continuou, providencialmente, à frente do Ginásio, auxiliado, porém pelo Padre José da Sá Leitão (1928), Padre Agobar Valença (1929 e 1930), Clérigo Tarcísio Falcão (1930, 1931), Padre Francisco Lopes (1933) e, novamente, Padre Tarcísio Falcão (1934, 1935, 1936). Logo em 1926, Monsenhor Anchieta Callou, conseguiu bancas examinadoras oficiais, livrando os alunos do sacrifício de irem ao Recife, prestar exames. Em 1930, conseguiu municipalizar o Ginásio, obteve fiscalização preliminar e, finalmente, em outubro de 1932, inspeção permanente, pelo Decreto 21.922, coisa até então, não conseguida por nenhum Colégio do interior do Norte do Brasil. Em 1936, sob verificação prévia, pôde ver funcionar a primeira série do curso comercial. Em dezembro de 1936, depois de nove anos de trabalhos cheios de frutos, deixou a direção. Pôde ver, além daqueles que obtiveram certificados pelo Art. 100, seis turmas concluírem, sob sua direção, o curso ginasial. Em 1937, por Dom Manuel Antônio de Paiva, é nomeado diretor o Padre Antônio Constantino Carneiro, jovem sacerdote ainda. Em 23.02.1938, vacante a Diocese, Monsenhor José de Anchieta Callou, Vigário Capitular, nomeia  e empossa, no dia seguinte, o atual diretor (Monsenhor Adelmar da Mota Valença). A este , nada restou fazer senão conservar as grandes realizações dos seus heroicos antecessores". (Fonte: Garanhuns do Meu Tempo | Alfredo Vieira | Ano 1981 | Foi mantida a grafia da época).

Foto 1: Hotel Familiar em 1916, local onde em 19 de março de 1915, foi fundado o Colégio Diocesano de Garanhuns.

Foto 2: Primeiros alunos do Colégio Diocesano de Garanhuns em 1915.

Edição do Diário de Pernambuco de 29 de novembro de 1915, publicou a relação dos primeiros alunos do Ginásio de Garanhuns, àqueles que sob a direção do Cônego Benigno Lyra e do Mons. José Antero e Padres Eustachio de Queiroz e João Olympio, iniciaram as atividades no dia 21 de março de 1915.

1º ano ginasial: Adalberto Brasileiro, Alceu Godoy de Mendonça, Heronides Nunes de Arruda, João Vieira, José Cyríaco Bezerra das Neves, Miguel Dantas, Satyro Ivo da Silva Filho, Sebastião Brasileiro.

3ª classe primária - Deoclides Rezende Pereira, Emmanuel Vianna, Humberto Pontes Lyra, José Aryl Pontes Lira, Manoel Gomes Baptista, Milton Maciel, Ruben de Oliveira.

2ª classe primária - Antonio Teixeira Ribeiro, Edízio Rezende Pereira, Heronides de Barros Campello, João Ferreira Caldas, Napoleão de Barros Campello.

1ª classe primária - Alberto de Barros, Elpídio Brasileiro Cavalcante, Francisco de Barros, Hermillo da Costa e Silva, José Maria Dourado Souto, Júlio Galvão, Pedro Galvão, Pedro Paulo da Silva Telles.

Fonte: Blog Instituto do Garanhuns e Diario de Pernambuco.

Foto 3: Inauguração do novo prédio do Colégio Diocesano, realizada em 12 de outubro de 1925, posteriormente chamada de  Praça da Bandeira, atual Praça Monsenhor Adelmar da Mota Valença.

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