quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Memórias de Elpídio de Noronha Branco | Parte IV

Elpídio de Noronha Branco
Em busca de uma nova colocação, toda manhã, o meu primeiro cuidado era ler os jornais, na parte em que se anunciava o oferecimento de empregos. Até que um dia, deparo-me com uma vaga de guarda-livros, na firma White Martins S. A., filial do Recife. Botei os pés para lá, na rua dos Coelhos, e com coragem infinita apresentei-me, exatamente, com credenciais idênticas às do tipo do funcionário de que a firma estava precisando. Todavia, eu não sabia patavina do ofício, mas precisava ganhar o meio de subsistência para a família.

Ali, por felicidade minha, encontrei trabalhando, naquele setor, o meu velho amigo Rodrigo Carneiro. Ia retirar-se da firma e estava encarregado, pela direção, de apresentar um substituto. Chegou a minha vez, e com sorte. Apresentado ao gerente, fui, imediatamente, aceito e, no dia seguinte, procurei enfronhar-me na árdua função de guarda-livros, hoje chamada de contador, na nova  "ténica", (espanhola) expressão do meu querido amigo Sebastian Sierra, operoso gerente da filial da Hoechst do Brasil S. A.., nesta cidade.

- Seiscentos  mil réis de ordenado - adiantou o gerente.

Era ordenado pra mais do contrato. Estava salvo o barco. 

Tomei o leme da coisa e passei, de fato, a ser o guarda-livros de White Martins S. A. Uma surpresa, porém, quase entorna tudo, quase faz o barco ir ao fundo das minhas novas ilusões. Foi quando, no dia seguinte, o Carneiro me passa às mãos um calhamaço prenhe de documentos, afim de serem, devidamente, escriturados, encontrando-se, entre eles, dois em língua e moeda estrangeiras. Tive uma espécie de passamento... Mas, como a necessidade tem cara de herege - repito - não me dei por achado... Abri os livros (Razão, Diário, Caixa, etc.), embromei a coisa, no primeiro dia, para, nessa mesma noite, sair de rota batida para  a casa de um velho professor de contabilidade que residia à rua da Saudade, esquina com a Avenida Riachuelo, afim de obter, daquele educador, ensinamentos  com os quais pudesse me desvencilhar das primeiras dificuldades contabilísticas...

Contratei com o mestre um curso de, pelo menos, dois meses de aprendizagem. A coisa corria muito bem. Eu ia me saindo mais ou menos e os meus chefes satisfeitos comigo e com o meu serviço...

Falece, porém, o governador do Estado, José Rufino Bezerra Cavalcanti. Assumiu, então o Governo, na qualidade de presidente do Senado Estadual, o Sr. Severino Marques de Queiroz Pinheiro. Aí, por intermédio, ainda, do deputado Souto Filho, sou nomeado juiz municipal, desta capital, na vaga interina, aberta com a indicação do Sr. Jonatas Costa, titular daquele cargo, para a chefia de polícia do Estado.

Deixei, por isto, o lugar na White Martins S. A. Sucede, porém que, sendo eleito o novo governador, o Sr. Sérgio Barros de Lins Lôreto, a chefia de polícia passa a ser ocupada por outro magistrado, o desembargador Silva Rêgo. E, assim, o Jonatas volta ao seu cargo. E eu? Ao lugar, novamente, de dar de pernas nas ruas, encangando os mesmos grilos de outrora...

Memórias Brancas / Elpídio Branco / Recife /1963.

Foto: Elpídio de Noronha Branco.

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