terça-feira, 26 de novembro de 2024

José de Anchieta Callou

José de Anchieta Callou

Dr. José Francisco de Souza*

Grandes Vultos de Garanhuns - A missão espiritual do sacerdote aqui na terra é  uma determinação de sua  livre escolha. Constitui-se de uma espécie de ponte suspensa entre dois mundos, que se integram sob as  bênçãos de Deus. É um excelente plano de trabalho para os que se dedicam à  preparação espiritual do homem. Essa função sublime, exige alta qualificação moral, e sobretudo desprendimento de espírito. A sua  conduta deve ser retilínea em todas as suas atividades religiosas. A conduta significa muito no ser humano. O bom exemplo é o maior argumento. Todos os seus  atos devem ser pontilhados de amor e justiça. Isto porque não se deve desprezar a condição precária de ser  humano. O reconhecimento de suas limitações já é uma conquista no campo moral. O apercebimento desperta a consciência de que ninguém está imune do pecado. As suas tentações podem ser sublimadas pelos deveres espirituais. A integral parcela de suas atividades é concentrada no sentido de bem conduzir as ovelhas para o redil do Cristo. Não deve cruzar os braços no meio da exaltação humana; nem participar confundindo os interesses em choque. No meio deles pode estar a verdade que não foi  alcançada por carência de ângulo. Nesses momentos o sacerdote representa um centro de sanidade espiritual. Para que a finalidade dessa atitude seja realmente benéfica à criatura, é imprescindível que o seu  comportamento como pastor seja o efeito eficaz da seara divina. Por imperativo de sua honestidade intelectual tem que sentir a presença da transitoriedade de todas as coisas, para não lhe dar demasiada importância e permanecer tranquilo. Só na ordem  espiritual da outra dimensão da vida, o homem, sacerdote especialmente, deve procurar uma  eternidade para cada coisa. Aqui na terra, nestes dias tumultuosos, basta a consciência de que estamos vivos, já é uma grande vitória porque outros poderiam estar vivendo em nosso lugar. O conceito do dever, com efeito, a sinceridade, a lisura dos propósitos e a  sublimação dos motivos - são condições indispensáveis e necessárias ao desempenho vocacional do sacerdócio. Mons. José de Anchieta Callou - foi um exemplo de trabalho e abnegação. Como vigário da  Diocese de Garanhuns prestou as mais importantes tarefas de inconteste valor moral e intelectual. Nele se conjugavam as mais vivas expressões de sentimentos e virtudes. Foi o terceiro diretor do Ginásio Diocesano; "trazia já experiência, pois fora diretor do Ginásio de Triunfo. Quatro meses após, sofre o Ginásio o rude golpe da morte de Dom Moura. Mons. Callou soube, porém, enfrentá-lo. Em 1929, conseguiu bancas examinadoras, municipalizando o Ginásio. Até então os alunos concluintes iam ao Recife, prestar exames. Em 1930, conseguiu equiparação preliminar e, em 1932, depois de ter ido ao  Rio de Janeiro, equiparação permanente, oficializando, portanto, a  vida do Ginásio. Satisfazendo as pesadas exigências do Ministério da Educação. Mons. Callou adquiriu material suficiente para o Laboratório. Fundou grêmios culturais. Conseguiu no último ano de sua direção, verificação prévia para o curso comercial. Pôde ver, ao deixar o Ginásio, seis turmas concluírem o curso ginasial aqui no próprio  colégio. Vigário Geral, pároco da Catedral, professor no Santa Sofia, no Seminário e  no próprio Ginásio, não se sabe como Mons. Callou dirigia, como dirigiu, este Educandário. Caridoso, jamais deixou ser prejudicado um  aluno por falta de pagamento (grifo é nosso). 

Não  se pode dizer que ele deixou o Ginásio, porque nunca o  deixou: tendo se afastado em dezembro de 1936, voltou, como Inspetor do Ministério da Educação, em setembro de 1939. Os seus  alunos, a ele se referem com amor, gratidão e saudade. Não é só o Ginásio que muito lhe deve: deve-lhe muito toda a Diocese de Garanhuns. Aqui chegando em  setembro de 1922, deu a Garanhuns tudo e merecia um  descanso. Não o quis, porém. Fez-se sacerdote para servir. Na verdade, Mons. Callou sempre fez tudo para todos. Completou a 23 de abril de 1966, cinquenta anos de Padre: desses, quarenta e quatro foram dedicados a Garanhuns. Foi fiscal do ensino junto ao Colégio XV de Novembro, onde conquistou simpatia e confiança de gregos e troianos. A nossa Câmara de Vereadores lhe concedeu o título de Cidadão de Garanhuns. Mons. José de Anchieta Callou - foi um sacerdote honrado. Portador de grandes conhecimentos teológicos. Orador sacro de muito recurso dialético. Pedagogo de renome. Consagrado obreiro e devoto da Santíssima Virgem Maria. Era de  uma lealdade comovente. Nas circunstâncias mais difíceis da nossa vida, sempre contamos com o seu apoio incondicional. O seu desenlace aconteceu na cidade do Recife, já em idade bem avançada. Foi um dos vultos de nossa cidade que  muito trabalhou  pela instrução e pela cultura intelectual da nossa encantadora terra.

*Advogado, historiador, cronista e jornalista / Garanhuns, 19 de novembro de 1977.

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