Dom Gerardo Wanderley | Garanhuns, 9/03/1985
Podemos imaginar as mãos do Mestre acompanhando suas alocuções ao povo: mãos a prolongar, reforçar a até mesmo especificar sua palavra de vida.
Subiriam, elegantes e firmes, como as mãos de um maestro, exigindo da orquestra ou do coro um "Crescendo" apoteótico; indicariam "Meso forte", "Andante Moderado", pianos ou pianíssimos nas passagens que traduzissem bondade, misericórdia, perdão, ternura. Podemos surpreendê-las atentas, cuidadosas e precisas nos trabalhos de carpintaria em Nazaré, manejando martelos, plainas, serrotes. Longo tempo de preparação e espera, durante os trinta anos de vida oculta, para lançar-se aos voos, e às lutas penosas e duras, por vezes, da vida de pregador do Evangelho.
AS MÃOS DO MESTRE
As mãos do Mestre eram compassivas e misericordiosas com as carentes, os aflitos, os humildes, as crianças...
Eram mãos, a cujo contato leprosos se purificavam, cegos recobravam a luz de seus olhos, surdos passavam a ouvir, mudos a falar...
Ao seu contato, paralíticos se punham a caminhar: "Felizes os pés que anunciam sobre a montanha o evangelho da paz"...
Ao contato dessas mãos ou por indicação delas, redes foram lançadas ao mar, tanto no sentido simbólico como sentido prático, real.
Mãos afeitas aos trabalhos de carpintaria em Nazaré, calejaram-se sem dúvida, mas não se embruteceram.
MÃOS GENEROSAS E COMPASSIVAS
Mãos possuidoras de uma energia que se revelou calorosa e quase afoita, quando, no Templo, Jesus, indignado pelas profanações ali praticadas, empunhou o azorrague, e chicoteando os culpados, expulsou da Casa de Deus (Casa de Oração e não covil de ladrões).
As mãos do Mestre, generosas e compassivas, ergueram-se aos céus e os pães e os peixes foram multiplicados e distribuídos às multidões famintas.
As mãos de Jesus, naquela ocasião, antecipavam (de certo modo) e anunciavam a oferta, a consagração e a partilha do PÃO DA VIDA. Eram mãos eucarísticas, isto é: mãos cantando ações de graças.
As mãos do Senhor se transfiguraram um dia, no alto do Tabor para confirmar os discípulos na fé e fazer com que eles não desanimassem quando as vissem raspadas pelos cravos e fixadas na cruz. E ali ainda, benditas e abençoando os homens que Ele viera salvar, elas, juntamente com os braços abertos parecem atrai o mundo inteiro para o grande abraço da reconciliação.
Depois da Ressureição, essas mãos de apresentaram juntamente os pés e a chaga do lado, trazendo os sinais da crucificação, para que Tomé e os outros discípulos não duvidassem. Mãos que conduzem à fé. E eram mãos sempre a anunciar a paz, acompanhando a palavra do Mestre, quando aparecia aos discípulos.
Como na cena da cura do leproso (Mc. 1,40-45), à palavra segue-se a oração, em indissolúveis núpcias. Coisa tão urgente para todos nós que em Jesus crucificado, morto, sepultado e ressurrecto, estamos comprometidos de modo definitivo, com a verdade de nossa vocação batismal: Mensageiros da Paz, como Jesus, que confiou aos discípulos a propagação do seu Reino de Amor. A mão de Nosso Senhor, que acompanhou sua palavra salvadosos pecados e fazendo-nos sempre mais fiéis e disponíveis para colocar nossas pobres mãos a serviço do Evangelho e dos Irmãos, de tal modo que no dia do encontro final elas não estejam vazias e sim cheias dos frutos do testemunho do amor, que pela graça de Deus, nos foi dado produzir nesta peregrinação terrena.
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