terça-feira, 22 de agosto de 2023

José Calazans de Figueiredo

Grandes Vultos de Garanhuns - Fala-se em comodidade social como  estrutura da vontade soberana de quem nascera dotado para dirigir os destinos dos  homens. Outra coisa não teria importância decisiva. Os fracos nasceram para obedecer aos bem dotados. Essa escolha preferencial era um determinismo das velhas conquistas. Não haviam condições mínimas possíveis, no sentido de qualquer modificação desse estado reinante. Em tal coisa ainda não se cogitava. Qualquer modificação seria uma  temeridade comprometedora. Não se admitia o diálogo como possibilidade de  reformulação desses rígidos conceitos. Só para se falar sobre o assunto, seria imprescindível que a pessoa tivesse muito prestígio e fosse um dos integrantes da sociedade. Contra a sua  conduta intelectual não deveria dominar qualquer dúvida. Era preciso possuir força total no sentido de sensibilizar os embrionários da política. Qualquer penetração nesse particular implicaria estratégia mental,  muito  bem elaborada. O malabarismo intelectual entrava em cena em toda sua  plenitude. O conceito de dualidade e partidos. O que  estava no poder deveria ser  respeitado como força soberana. Os que faziam oposição alimentavam esperança de governar, sem qualquer modificação. Era um revezamento do continuísmo. O que predominava de modo irreversível era o comodismo,  a mentalidade sedentária, afirmava que as coisas deveriam tomar o rumo traçado pelos entendidos; eles estavam preparados e eram valores humanos respeitáveis. Contudo, a vida não estabelece planos de preferência em favor ou contra. Cada indivíduo possui qualidade próprias. Muitas vezes é convocado no sentido de criar possibilidades. 

José Calazans de Figueiredo - Modesto filho desta terra, jornalista combativo e ousado. Muito coerente com os seus princípios sociais. Foi um dos  fundadores da "União Comercial" e do jornal "União Comercial", órgão de publicidade que circulou pelos idos de 1914 a 1915. A sua colaboração proporciona uma nova maneira de ilustrar e preparar o espírito dos leitores. Já naquela época alimentava a esperança de nova franquia democrática. Em que os homens teriam de mudar. E não ficar esperando que os seus problemas fossem resolvidos de acordo com o tempo. 

Era um reformista, até certo ponto superficial. Não se apercebia de que por enquanto o seu trabalho não abalaria a estrutura da velha sociedade. O tom democrático de sua campanha era de condições modestas porém indeclinável. Advogava distensão política e social. Foi ao seu tempo uma  alvorada de ideias inusitadas, de um socialismo que era mais um sonho. Assim, sempre colocava uma ponta de dúvida nas intenções dos  poderosos. Daí a posição de  antipatia que os poderosos mantinham contra ele. Em matéria de religião era um cético e distante.  Os problemas foram criados pelos homens e somente eles poderiam resolvê-los. A exploração do homem pelo homem era o mais cruel de todos. As  religiões prometiam um céu de existência dubitativa: Segundo uns ele existe dentro do próprio homem: segundo outros, no azul suspenso. Modesto funcionário público, não gostava da carreira burocrática. Conhecemos muito bem Celso Calazans que foi um dos nossos colegas no Instituto Martins Júnior. Foi tentar a vida ainda muito jovem no Rio de Janeiro. Lá fundou e dirigiu um jornal "O Avante" que defendia as mesmas ideias do pai. José Calazans Figueiredo foi Patrono no Centro de  Cultura Intelectual Severiano Peixoto. ocupada pelo jornalista e teatrólogo Luís Maia. O Centro de Cultura Intelectual Severiano Peixoto foi fundado nos moldes da Academia Pernambucana de Letras, cujos Estatutos nos fora fornecido pelo imortal homem de letras, professor Jerônimo Gueiros. Pertencia a Loja de Garanhuns. Morreu sem ver uma estrela cadente cortar os seus deixando uma estrela de brilhantes. O seu esquife foi conduzido pelos intelectuais da terra. E lá na Igreja o vigário, negou-se a recomendar o seu corpo; justificando que o morto: Calazans era Maçom. Esse gesto de grosseira intolerância religiosa ensejou ao poeta e  jornalista, Luiz Brasil a seguinte frase: "este pobre homem era tão bom que por isto recebe perseguições até depois de morto". E lá na Catedral uma coruja piou e, como se tivesse ficado  subitamente envergonhada do  ruído grasnou e saiu voando pela cidade. José Calazans de Figueiredo - vulto de nossa terra. Sua memória é digna de ser  assinalada pela coragem de ter sido o jornalista mais  brilhante de seu tempo.

*Dr. José Francisco de Souza / Advogado, jornalista e historiador / Garanhuns, 29 de outubro de 1977.

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