João Marques* | Garanhuns
Chega o inverno, antecipado, nesse março breve. Conheço logo, pelos primeiros pingos, como se conhece um amigo que volta de viagem. É que nasci em plenas chuvas de julho, vivi sempre e vivo mais no inverno. Como Garanhuns, sou filho das águas. Venho das fontes, e exploro as colinas das brisas leves. Nesse tempo, admiro a paisagem que há, molhada, a cada lance do meu olhar. Tudo fica mais exposto, exuberante, preenchendo o espaço, antes vazio e morno pelas securas do verão. As cores das paredes mais vivas, os telhados ficam iguais às copas das árvores, estendidas e belas.
Chega o inverno manso, de paz e desse aconchegante friozinho de abraço. As águas escorrem, de sons orquestrais, pelas ladeiras da cidade. Um mar digamos, onde tudo se toca e se harmoniza, e se mistura como se dá com os peixes, as ramagens e as pedras lavadas e húmidas. Inverno meu, dos encantos e dos sutis mergulhos da alma. Florescido tempo das flores, das águas e das cores do verde vasto, que veste a vida. E, por essas chuvas chegadas, alongo os meus braços de água, e toco em todo mundo, cumprimentando.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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