sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Fecharam as Mercearias


João Marques*| Garanhuns

"Seu" Góis na rua do Cajueiro, "Seu" Cândido na rua Siqueira Campos, Ribeiro na Sete de Setembro, José Mariano na esquina de cima, da praça da Bandeira

José Maurício num esquinão, entre a praça Irmãos Miranda e rua Capitão Tomaz Maia. A mercearia recebia, como clientes, o pessoal dos sítios. Várzea, Jenipapo, Monte, Cruz, Traíras, um mundo de gente. Eu menino, morando perto, na travessa Sete de Setembro, comprava açúcar e pão. Anos 50, passaram de 50, e, 60 até 70, começaram a fechar as mercearias. A de José Claudino na rua Severiano Peixoto. Antes disso a dos irmãos italianos Diletieri, na Avenida Santo Antônio (foto).

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Um balcão longo de madeira. Outras vezes, em forma de "L", prateleiras pelas paredes, do chão até o teto. E de frente, para quem fosse entrando, as prateleiras cheias de garrafas em pé. Nas garrafas, rótulos coloridos e com nomes assim, de aguardente: Chora na Rampa, Galo Preto, Cabeçada, "5x2", Tupy, Caranguejo, Saideira... E, nas mercearias, as menores, as dos sítios e das ruas modestas, havia um canto do lado do balcão, onde ficavam os bebedores de aguardente. Três ou  quatro de pé ali, mantendo alguma conversa e bebendo. Ah! como lembro, com alguma saudade, de alguns bêbados: Antônio Chalegre, Apolônio, Zé Casquete, Senhorzinho, Borborema! Este último costumava fazer discursos políticos. E saía às ruas, e da ponta alta de uma calçada, estendia os braços e gritava: Elpídio Branco! O deputado de Garanhuns, conhecido por todos.

Mercearias, foram-se todas! os supermercados baniram-nas. Se alguma ainda existe, é desconhecida e não tem as mesmas características. "Seu" Góis na rua do Cajueiro, "Seu" Cândido na rua Siqueira Campos, Ribeiro na Sete de Setembro, José Mariano na esquina de cima, da praça da Bandeira, recebia funcionários do Banco do Brasil. Poetas, como Dirceu Rabelo,  que declamava lá. E quase todo o dia o grupo de bancários se encontrava na mercearia, preferindo o lado do balcão a bares ou lugares melhor organizados. Mercearias inesquecíveis! (Fonte: Jornal O Século).

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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