terça-feira, 15 de agosto de 2023

Em defesa e exaltação do escritor


Por João Marques* 

As boas vindas. Minha cidade está mais embelezada. Não apenas agora as coisas bonitas que se fizeram. O ar, as cores e  este chão histórico. Aqui, índios, negros e fazendeiros de gado abriram as primeiras trilhas. Caminhos de chegada. Sertanistas valentes desbravando campos. Chegando, para ficarem na história. E a terra se foi civilizando. Assim. Para receber sempre. As vindas, as chegadas. E um povo hospitaleiro se criou. Cidade da espera. Norte para a busca de uma pousada entre jardins. Belezas de praças, paisagens e colinas. Os poetas, também, que edificam a poesia da terra. Poetas, artistas e  escritores, se permeiam nesta cidade. E mais os que chegam. As boas vindas aos que vieram e se tornam aqui íntimos. Sejam dos braços abertos destas colinas. O afetuoso enlace. E sejam, enfim, a saudação do II Festival de Literatura de Garanhuns.

E o que faço como anfitrião, senão exaltar.  Honrados sejam aqui, pois, os escritores. É o que propondo, à abertura de um festival de  literatura. O FLIG 2007. Uma conclusão. Brado que lanço desta cidade altaneira. Aqui, onde se reúnem os credos da beleza e da inteligência. O escritor é sábio. Ele sempre foi o corifeu do pensamento dos homens, Atestam isto as civilizações. Os filósofos celebrando a   vida. Atingindo concepções elevadas do ser humano. A história do  pensamento relaciona nomes de estudiosos. Homens ilustres, que se  ocuparam do tino e da lógica. O pensamento, a palavra. Inventores da  comunicação, com a superioridade de inteligências divinais. Escritores, artífices da palavra. Homens dedicados à elevação humana. Abnegados filósofos e homens de sabedoria. Como sonho, o ideal de dizer. Fazer livros. Nomes, desde as antiguidades, que dignificam a existência. A galeria é vasta. São maravilhas. Capítulos, os mais  eloquentes, de suas existências passadas. De Horácio a Marcus Accioly, aos escritores e aos poetas que se constituem aqui legítimos representantes. Dos que passaram aos que estão passando. Todos, gigantes. Gloriosos homens das letras a organizarem o mundo em seus livros. Páginas benditas à iluminação dos povos.


Reunidos neste teatro filósofos e poetas. Eu os conclamo para mobilização. Aqui e agora. Movimento que se deflagra em Pernambuco, pela valorização do escritor. E invoco, pela abertura solene deste II Festival de Literatura - FLIG, as tradições guerreiras de Pernambuco. A sanha de um Frei Caneca. A luta de Pernambuco pelas questões da liberdade. A bravura de seus filhos. As grandezas históricas de seu Hino e de sua Bandeira. Inscrito o escritor na galeria das glórias nacionais. Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira - os maiores talvez. Retendo-se neste instante de conscientização  do escritor de hoje. E conclamo, invoco e excito-os para esta campanha.   

Os poetas já não têm espaço nos grandes jornais. Os suplementos culturais são pobres em literatura. Raras são as oportunidades. O escritor tem ficado ausente das páginas de jornal, com a crítica e seus produtos literários. A televisão, por sua vez, tem excluído o escritor. Nas suas enquetes, não são eles escutados. Canais de televisão dão preferência a jogadores de futebol. Atletas, atores e costureiros são quem opinam nas discussões. Assuntos importantes, que são influentes no seio do povo. Tem a distinção da palavra, equivocadamente, os  que são hábeis com os pés. A inteligência, rainha do ser, é subvertida. Acima da inteligência do escritor, são colocados os pés, ou qualquer outra coisa abaixo da cabeça. Desprestígio e desrespeito ai filósofo e ao poeta. E, raramente, o livro atinge os devidos encaminhamentos. Em muitos lugares, o escritor é tido como um abestalhado. A sua opinião, a sua criatividade, elas não são levadas em conta. O ignorante é  colocado acima. Métodos rudes e irrelevantes são escolhidos e assumem até níveis de comando. O ínfimo é engrandecido e colocado em  destaque. É uma lástima.

Garanhuns, das  flores e das colinas, é também dos escritores que  chegaram. Ilustres visitantes. A mensagem de Garanhuns, pois, nesta celebração das letras. O despertar e a valorização do escritor. Clama minha voz e espera contar com a receptividade dos senhores. É vez de  pensar, de reunir, de planejar os novos rumos. A inteligência há de  retomar o lugar perdido. Descer das prateleiras empoeiradas e luzir como o sol. Proponho fortalecimento. O mundo lamentavelmente assiste à inversão de valores. Caminha a passos largos para nulidade. A todos nós cabem, reações. Estão em nossas mãos meios, os mais  sábios. Lutar pelo livro, pela sua maior divulgação. Lutar pelo escritor, para que o mundo não venha a perder a fala. (Abertura do II Festival de Literatura de Garanhuns - FLIG / 2007).

*Escritor, poeta, jornalista, editor/redator do jornal O Século, autor do Hino de Garanhuns e ex-presidente da Academia de Letras de Garanhuns - ALG.

Foto: Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcante - II Festival de Literatura de Garanhuns - FLIG - Ano 2007.

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