Época em que não se cogitava a concentração de ordem econômica. Nem títulos pomposos regiamente pagos por representantes das multinacionais. Tudo acontecia de acordo com o resultado das prévias e planos estabelecidos. Grupos de pessoas se preparavam no sentido de proporcionar meios necessários ao brilho das competições carnavalescas. Agir no presente era a missão de todos.
ENTUSIASMO CONTAGIANTE
O carnaval sempre empolgou a alma das multidões. Durante o período momesco desfilavam pelas ruas da nossa encantadora cidade do planalto, vários clubes e blocos. Homens altamente categorizados do nosso comércio dirigiam sociedades destinadas às festividades populares. Essas comunidades intermediárias plasmavam livremente o seu próprio destino. Era uma arregimentação de forças convocando a alma rebelde das ruas. O entusiasmo era contagiante.
Era muito significativo o número dos cordões, troças, pequenos e grandes estandartes ricamente confeccionados. O porta-bandeira bem vestido destacava-se pela sua indumentária conduzindo garbosamente o pavilhão do bloco. Marchava na linha de frente. Não precisava de abre-alas, por que o carnaval era participação de todas as correntes humanas que possuíam raízes e tradições. Orquestras famosas tocavam marchas saudosas como símbolo dos nossos antigos carnavais. O entrudo era praticado com certo respeito: massa, lima de cheiro e bisnaga, cujo esguicho d'água aromatizada perfumava os passistas. Todos brincavam cada um a seu modo e de acordo com o seu mundo. Era a massificação da alegria dominando a alma de um povo.
Na noite da véspera de carnaval todos se uniam como um só clube conduzidos por grandes orquestras. As ruas ficavam cheias de músicas, de risos e alegria. O prazer era jovial. Zé Pereira tomava conta da cidade. Homens de máscaras, figuras grotescas se revezavam exibindo suas excentricidades. Esses mascarados eram chamados de "papangus". Alguns eram conhecidos pela maneira de andar. Assim era variada a maneira de alegrar o povo.
LUIZ PATRÃO
Muitos clubes existiam em Garanhuns: "Leão do Norte", "Lenhadores", "Tanoeiros", dos "Ciclistas", a "Primavera", "Vinte e um de Fevereiro" e a "Cabinda Velha", este era um grupo do tradicional "Maracatu", já em franca decadência. Era de uns senhores representado por Antônio Três Quinas.
Desfilavam com pequena orquestra de percussão, vestígio dos séquitos negros que acompanhavam os reis de Congo.
Entre os mais próximos de nós, destacamos as "VITALINAS". Bloco carnavalesco muito festejado pelos jovens do nosso tempo. Moças e rapazes da nossa sociedade participavam das "VITALINAS". Figuras de destaque da nossa comunidade apresentavam-se condignamente.
Convocava toda atenção da mocidade desde os momentos dos ensaios até os dias consagrados ao Momo. Formavam-se duas alas de jovens bonitas e graciosas. Bem vestidas, por fantasias cuidadosamente trabalhadas, havia muito bom gosto nas apresentações. Orquestra composta de bons músicos. As canções eram cantadas pelos integrantes do bloco. Por sinal muito bem interpretadas. Como se fosse um "samba enredo" a letra começava assim: "Vitalina meu amor / alerta e vamos gozar / o carnaval oh! linda flor / vamos brincar / Vitalina meu amor".
Todo homem é capaz de sentir e despertar emoções. Quem cantava essa melodia era um mulato muito comunicativo, boêmio e seresteiro incorrigível: "Luiz Patrão". Possuía uma voz muito parecida com a de Francisco Alves. Voz suave entre grave e barítono.
Todavia, é de se notar, a maneira carinhosa e sentimental da inspiração do poeta, do menestrel: "Vitalina meu amor"... Alerta e vamos gozar... O carnaval oh! linda flor... vamos brincar Vitalina meu amor"... Mesmo no meio da confusão de sentimentos, destacava-se de modo marcante a linguagem dulcíssima do verso. A máscara irreverente do carnaval não consegue transformar a beleza nem a pureza dos sentimentos poéticos.
*Advogado, jornalista, cronista e historiador | Garanhuns, 2 de Fevereiro de 1980.
Foto: Banda de Pífanos na década de 1950 - Em cima da esquerda para direita: Zé Catão de paletó escuro, Manoel Teles, Pedro Ferreira, Ivan Pedrosa, Cláudio Moraes, Dr. Jeitoso "O Filósofo", Pedrosinha, Humberto Moraes, Zé dos Coros. Foto tirada em frente ao Café Avenida (Mirabô), ao fundo prédio dos Correios. Hoje Ferreira Costa Center.
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