sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A Rotunda de Garanhuns

A Rotunda na década de 1940

Alberto da Silva Rêgo*

Diz o dicionário que Rotunda é uma praça de forma circular. Mas a nossa Rotunda não era uma praça, nos idos da década de 30. Havia simplesmente, uma área descampada, que ficava defronte ao Ginásio Diocesano de Garanhuns e, no lado oposto, delimitava com os muros de residência de rua Dantas Barreto, tendo por limite, no lado esquerdo, o girador utilizado pela  Great Western a fim de manobrar suas "maria-fumaça" e, no lado direito, uma ladeira, tendo, numa esquina a firma Pinto Alves e, na outra, o Posto de Higiene do Estado.

Dos homens, faz-se, geralmente o perfil; das cidades, relatam-se os encantos; das sociedades, os triunfos; dos esportes, as alegrias, das músicas, os enlevos; das pinturas, as  graças das formas; e da Rotunda - lugar das pedaladas de estudantes, o que relatar? A algazarra dos colegiais, no  corre-corre, atrás de uma bola, o grito g-o-o-o-o-l, ecoando, em  uníssono de uma plateia, acocorada, com livros debaixo do braço ou servindo de assento, é o que relembra, o seu nome -  Rotunda.

Sim, rever-te, é o retorno às manhãs festivas, onde a  garotada, largando o paletó da farda e os livros, em qualquer canto, deste logradouro, rumava para o "bate-bola", naquele lugar, sem grama, terra batida e onde jé estavam fincadas, em  lados opostos, duas "barras" e, no centro do campo improvisado, uma bola.

No alvoroço, querendo todo mundo jogar, fazia-se uma divisão de dois times, cabendo a primazia aos mais velhos e dos mais moços eram aproveitados os bons "dribladores".

Não havia juiz, nem cartão amarelo ou vermelho, ninguém era expulso, todo mundo cumpria as regras da "Fifa".

Os embates duravam cerca de 1/2 hora, até o badalar da sineta do colégio, que não falhava nos "15 para às oito".

Ao toque da sineta a turma corria para pegar os livros e paletó da farda e procurava arrumar-se direitinho, pois na porta do educandário estava a nos esperar o Diretor, prestando atenção aos que chegavam desalinhados e, então, candidatos a um puxão de orelha.

Feita a fila, entrávamos na direção das respectivas salas de aula onde esperava sempre um bedel que ali permanecia até a entrada do professor, para dar começo às aulas. Ali, acabavam-se as alegrias das manhãs. A Rotunda voltava ao seu sossegado silêncio.

*Jornalista, poeta, agrônomo e escritor.

Foto: A Rotunda na década de 1930.

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