Por Clovis de Barros Filho*
São Paulo (SP) - Trabalhei durante muito tempo numa empresa química aqui em São Paulo. Naquela oportunidade, tínhamos como parceiro e fornecedor uma grande fábrica alemã cujo diretor técnico era um senhor muito sério e competente chamado Sr. Canais. Falar com o senhor Canais não era tarefa fácil. Primeiro porque era difícil entender seu português enroladíssimo. Segundo, porque ele era muito protocolar se fazia de difícil era como se fosse dono (no fundo mandava mesmo). O sujeito para falar com ele tinha que passar antes por duas senhoras, a recepcionista e em seguida a secretária. Seu Canais não ria nunca, tratava os assuntos com a maior seriedade era sempre uma reunião tensa fosse qual fosse o assunto. Tratava a secretária com todo respeito e quando era para pedir que servisse um cafezinho, a moça entrava na sala e percebia-se o medo que tinha do chefe. Tive muitas reuniões com o Seu Canais todas sempre com esse nível de formalidades. Sem piadinhas, sem conversas amenas.
Isso foi lá pelos meados dos anos 80, tempo que ainda solteiro costumava ir sempre ao Rio de Janeiro de férias. Foi numa dessas belas manhãs de domingo céu azul, sol causticante na praia do Leblon lotada, com muita gente bonita que resolvi ficar. Primeiro, sentei no calçadão da orla e fiquei observando o vai e vem das pessoas principalmente na quantidade de mulheres bonitas que literalmente enchiam a praia. Passado um tempo, decidi ir a um bar nas proximidades comer algo e tomar um chopp gelado. Sentei numa das mesinhas estrategicamente voltadas para o mar, bem na divisa com a calçada. Ali permaneci muito tempo comendo um delicioso sandwiche e tomando chopp. As mesas ao redor estavam todas tomadas. O frenesi dos garçons trazendo as bebidas e comidas misturava-se com o barulho dos fregueses já pra lá de altos.
Via-se muitos turistas estrangeiros quase todos acompanhados de nativas da cidade. Tinha uma das mesas afastada da minha no entanto, onde a animação parecia bem maior. Havia um senhor gordo sem camisas, de shorts já com a pele branca bem queimada pelo sol àquela hora, acompanhado de duas tremendas mulatas tipo passista de escola de samba na maior algazarra como se estivessem num ambiente reservado. A coisa estava quentíssima por lá. As duas mulheres pareciam muito à vontade e se divertindo muito com o seu acompanhante o qual com certeza deveria ser o patrocinador da festança. Bem, fiquei curioso observando no que ia acabar aquilo. O senhor gordo estava de costas, portanto não conseguia ver de quem se tratava. Repentinamente, ele pediu a conta e os três levantaram-se para ir embora. Qual não foi minha surpresa ao ver que aquele senhor de idade, festeiro e sem nenhum escrúpulo no momento era nada mais nada menos que o respeitoso diretor da empresa alemã que nunca ria. O senhor Canais. Por pouco não engasguei com o que acabara de presenciar e o que sobrara do sanduiche. Seu Canais levantou-se com suas duas mulatas a tiracolo, pagou a conta e desapareceu na multidão. A partir daquela data nunca mais tive qualquer contato ou vi o festeiro Canais.
*Clovis de Barros filho, nasceu na Serra da Prata (Iatecá). Estudou no Colégio Diocesano de Garanhuns do Admissão ao Científico onde concluiu em 1968. Reside em São Paulo desde 1970. É Licenciado e Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Guarulhos e Químico Industrial Superior pelas faculdades Osvaldo Cruz - SP.
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