Discurso proferido por Souto Filho (foto) em sua volta triunfal à Garanhuns em 1933.
“Há pouco mais de três anos, quando eleito à Câmara Federal, dissolvida pelo poder das armas, os meus conterrâneos me ofereceram um banquete nesta cidade, no qual, diga-se de passagem, vi alguns convivas, que aqui não vejo. Naquele tempo, eu era um candidato do partido dominante e tinha nas mãos dos amigos todas as posições oficiais. Poder-se-ia dizer que ontem eu teria recebido um repasto de áulicos, mas, hoje, quando estou distante do poder, e por ele injustiçado e combatido, ninguém dirá que esta festa não seja uma viva expressão do sentimento de Garanhuns com o seu modesto filho, que, no decorrer da sua vida pública, sempre procurou honrar e engrandecer o rincão natal. É que a eloquência de agora, ressalta menos do fato em si mesmo, do que do momento e condições em que é feita.
A de hoje vale mais do que a de ontem, tanto para vós, como para mim. Com o revés de outubro de 1930, advém-nos uma quadra de pleno arbítrio, na qual, ficamos sujeitos a toda sorte de achincalhes, de perseguições, de violências, de difamações, pondo-se no pelourinho das torturas morais, a honra dos vencidos, exceto a daqueles que, por fraqueza ou conveniência, foram se engajando nas fileiras dos vencedores.
Crivaram-nos com todos os defeitos e imputaram-nos de todos os desmandos, crimes e malversações, numa orgia satânica deferir, denegrir e inutilizar, sem se lembrarem do que mais alto do que a injúria soez, há de falar a sociedade em que vivemos, testemunha incorruptível e serena dos erros e acertos dos nossos serviços e desserviços, dos nossos defeitos e qualidades dos nossos adversários esperavam, que o processo de ultraje fosse suficiente para nos incompatibilizar com a opinião pública da nossa querida terra e que os sofrimentos morais vos abatessem o ânimo viril e vos matassem todas as aspirações, decorrentes do direito de cidadania.
A todos prometo que, no seio da Assembleia Nacional Constituinte, procurarei desempenhar o mandato, com que me honraram, de conformidade com as minhas forças e de acordo tanto quanto possível, com o programa do partido, que inscreveu o meu nome no rol dos seus candidatos. Não darei lustre à investidura, mas me sinto com as necessárias forças morais para exercê-la com probidade e patriotismo, sem me deixar arrastar pelos desvarios da paixão partidária e sem me subordinar a outros interesses que não sejam do Brasil, ávido de ordem para prosperar, de direito para viver e de liberdade para respirar.
Nas resoluções desta Constituinte, que vai dar ao País politicamente desorganizado, o estatuto básico dos seus destinos, o meu voto e os meus esforços se somarão aos daqueles que propugnarem pelo restabelecimento das normas sábias e liberais da velha Constituição, que, a meu ver, só merece ligeiras modificações, reclamadas umas pela experiência da vida federativa e outras forçadas pelas circunstâncias do momento político. É possível que seja forçada a válvula fechada, como se fez na Constituinte 90/91 e a Nação possa começar a pôr seus delegados a se manifestar mais livremente.
Do anteprojeto constitucional, também mandado elaborar pelo Governo provisório pouco ou nada se conhece, mas, é de crer, que, não venham, em seu contexto, inovações exóticas ou dispositivos atentatórios da nossa crença religiosa e dos direitos de segurança, liberdade e propriedade tão caros a comunhão brasileira e tão resguardados pela Carta Política, que a revolução espatifou.
Destes-me, meus caros amigos, a vitória e ainda me festejais. Assinalas-te, assim, o ponto culminante de toda minha carreira política. Se pudesse encerrá-la hoje, recolher-me-ia à vida privada, sobranceiro e compensado de todas as suas agruras, abraçando os amigos que me elevaram e até perdoando os adversários, que, em vão, tentaram me desconceituar por todos os meios e modos. Mas isto não é possível: seria egoísmo, desprimor e fraqueza, seria não corresponder a vossa confiança e não ser digno dos vossos ingentes sacrifícios.
O meu lugar, é ao vosso lado. Agora e sempre. E já começou a falar, apesar de todas as coações exercidas contra os nossos amigos. Os nossos adversários esperavam, que o processo de ultraje fosse suficiente para nos incompatibilizar com a opinião pública da nossa querida terra e que os sofrimentos morais vos abatessem o ânimo viril e vos matassem todas as aspirações, decorrentes do direito de cidadania.
Se pudesse encerrá-la hoje, recolher-me-ia à vida privada, sobranceiro e compensado de todas as suas agruras, abraçando os amigos que me elevaram e até perdoando os adversários, que, em vão, tentaram me desconceituar por todos os meios e modos. Mas isto não é possível: seria egoísmo, desprimor e fraqueza, seria não corresponder a vossa confiança e não ser digno dos vossos ingentes sacrifícios. O meu lugar, é ao vosso lado. Agora e sempre.”
Antiga casa de Souto Filho, Praça Dom Moura, 44. Souto Filho passava horas no porão habitável, um espaço imenso tomando toda a extensão da casa, recebendo amigos e correligionários. Ali funcionava o seu gabinete, guarnecido com móveis de jacarandá e uma imensa mesa redonda. Era o seu “quartel- general”. A casa mantém as características originais e representando uma linha arquitetônica ímpar na cidade, pois sua construção era resultado do apogeu do café. Foi erguida, em 1919, por José de Almeida, seu primeiro proprietário, comerciante e ex-prefeito de Garanhuns, que contratou o arquiteto italiano Bruno Giorgio para fazer o projeto. Todo o madeiramento para o assoalho e lambri foi importado do Pará. A entrada ao porão se dá por duas passagens, sendo uma, interna, com acesso direto à cozinha da casa.
A Rua do Recife (hoje Dr. José Mariano), foi uma das mais tradicionais de Garanhuns. Ali moravam entre tantas famílias ilustres, Deusdedith Maia, Seu Belarmino (o Barbeiro), Dona Duda (a Costureira, sua nora), Anísio Pinto (proprietário do Café Glória), Antonio Reinaux e uma família do Recife (Batista Dubeux) que tinha a casa como férias de inverno. Ainda o Dr. José Lima e mais adiante a sede da AGA (Associação Garanhuense de Atletismo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário