Maria Elza Cumaru - Ex-aluna
"O que conta não é fazer coisas grandes ou pequenas, vistosas ou insignificantes, mas somente o amor com que são realizadas" (João XXIII).
Sempre procuramos palavras que possam expressar tudo aquilo que temos guardado nas nossas lembranças, dar sentido aos gestos, às frases e penetrar vez mais no interior. Hoje estou em uma missão grande, mas deliciosa. Falar sobre Monsenhor Adelmar. Isso fácil, o difícil é encontrar no meio de tantos feitios, escolher alguma passagem que ligue esta pessoa a todos nós. O Padre Adelmar austero e cheio de sabedoria, incrível como ele conseguia esconder uma docilidade atrás daquele rosto inquietável, porém um coração bem maior do que ele. Viveu um momento de grande zelo e obediência na hierarquia sacerdotal. No dia da chegada do nosso Bispo, Dom Irineu, eu estava na comissão de recepção ao clero na Catedral de Santo Antonio.
Alguns Padres não vieram para Igreja por motivo de saúde. Acompanhei o Monsenhor Adelmar até o local que lhe seria destinado. Ele olhou para mim e disse: "Estou muito feliz por receber mais um Bispo nesta Diocese. Posso me sentar em qualquer lugar, não precisa se preocupar." Fiquei um pouco ao seu lado e continuei com o meu trabalho. Depois da cerimônia de posse, o Sr. Bispo foi até o Santíssimo onde fez sua oração particular. Os Padres se encaminharam para cumprimentá-lo. Na hora do Monsenhor, ele respeitosamente se curvou ante o Bispo para beijar-lhe o anel. Dom Irineu lhe disse: "Eu que devo me curvar diante do Senhor". Cada vez mais eu descobria uma dedicação a Igreja que ele tinha na pessoa de cada Bispo.
Existe um fato na sua vida de educador que não esquecerei. Há tempos atrás, estudar e trabalhar era muita grande dificuldade para muitos. Não havia ensino gratuito para os jovens que sonhavam com um futuro melhor. Somente o Colégio Diocesano funcionava no horário noturno. O sonho de tantos era acesso de poucos. Apesar das bolsas de estudos, para alguns, a mensalidade ainda pesava. E o desejo de desfilar garbosamente no dia 07 de Setembro e no dia 12 de Outubro, com uma bandeira, era cobiçado por muitos.
No dia de seu velório, eu ouvi disfarçadamente de pessoas que se fizeram presentes, para render-lhe a última homenagem ou uma oração. Naquele espaço que era tão seu, um senhor que falava baixo, dizia: "estudei, me formei, sem ter condições, graças a este homem". Outros diziam: "Tive um tio, um primo, um amigo, um irmão, que tiveram a oportunidade de ter estudado, graças à generosidade do Padre Adelmar". E assim seguia-se a conversa entre um e outro.
Lembrei, naquele instante, de agradecer a Deus por recebê-lo no paraíso e com tranquilidade percebi que, naquele momento, na casa do "PAI" ele comunga do mesmo privilégio dos nossos Santos. Tomei emprestado citação de João XXIII para iniciar estes escritos por um motivo muito especial: a criação do "Ginásio do Arraial". Foi uma obra realizada por AMOR, com a participação do Padre Adelmar, este discretamente no meio de orações e reflexões diante do Santíssimo, onde ele sempre estava nos poucos momentos de privacidade. Sinto orgulho de ser ex-aluno do Colégio Monsenhor Adelmar, de ter convivido em suas missas em dias festivos, na Capela do Ginásio. Nesta casa aprendi a dar sentido aos sonhos, enfrentar os desafios e ver que é possível ser feliz. Obrigada, Irmãs Cândida e Mirtes por este espaço. Acrescento ainda, o que conta não é pregar o amor, mas praticá-lo. (Fonte: Monsenhor Adelmar da Mota Valença - Vida e Obra | Centenário de Nascimento 1908 - 2008 | Irmãs Cândida Araújo Corrêa e Maria Mirtes de Araújo Corrêa).
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