Pagavam-se cem réis, ou um tostão como se dizia, por cada banho, em banheiros limpos e sempre bem caiados. Também ali iam as famílias, como esporte ou como atraente passeio, acompanhadas de veranistas. Aos domingos os banhos começavam às cinco horas da manhã.
Na Vila Regina, já aquela hora, estava o Paula Lopes, sempre muito bem vestido, lendo seus romances. Pouco conversava, mas observava muito as suas roseiras e o bom comportamento dos banhistas. Serapião acostumara-se com o pai aos banhos madrugadores, ou logo após à primeira missa. Cada banhista levava a sua toalha, sabão em um estojo, e uma garrafinha para fechar o corpo. Mas enquanto aguardavam a sua vez, os banhistas davam um passeio por aqueles lugares pitorescos. O Parque da Vila Regina estava sempre muito bem cuidado, com uma variedade de crótons e outras plantas ornamentais. As senhoras preferiam um passeio até o Pau Pombo para conversarem um pouco com as lavadeiras, e saberem quais as novidades da terra...
As mais irreverentes da terra plantavam as suas barricas e junto colocavam uma tábua para bater a roupa. Eram dezenas de barricas colocadas em meio de um círculo, em espaços iguais entre uma e outras. E ai daquele que tocasse numa das barricas de bacalhau norueguês... As línguas eram afiadas. Muita roupa suja dos políticos foram bem lavadas, muito fuxico bem alinhavado, muitas horas de arregaço.
As lavadeiras mais moças batiam a roupa cantando modinhas do norte, algumas gostavam de uma reza de igreja, ou um coco sertanejo.
As obreiras mais avançadas na idade, com o seu cachimbo de um lado da boca, gostavam de fazer um mexerico inocente, contando o que sabiam da vida particular dos maridos das senhoras bisbilhoteiras. Segredos íntimos eram por elas dissecados e postos a pratos limpos. Esclarece Serapião, com certa malícia, que sempre ouviu dizer que no Pau Pombo os banhos as vezes, rendiam muito tempo e conversa.
*Serapião foi por mais de dez anos Sacristão na Matriz de Santo Antônio em Garanhuns.
Foto: Desenho de Ruber van der Linden para o Almanaque de Garanhuns de 1937.
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