quinta-feira, 27 de julho de 2023

Monsenhor Afonso Pequeno e a velha desavença de Carvalho e Pereira

Valdir José Nogueira*

Filho do coronel Antônio Teixeira Pequeno e de dona Maria Antero Pequeno, ambos naturais de Icó (Ceará), o Monsenhor Afonso nasceu nessa cidade no dia 24 de julho de 1871. Sacerdote exemplar e culto assumiu a Paróquia de Belmonte no dia 06 de janeiro de 1903, ficando encarregado também das Paróquias de Vila Bela e Floresta.

Desde o distante ano de 1901, inaugurou-se no Cariri, sul do Ceará, um período de inquietação política e social, que perdurou por duas décadas. Naquele mundo de canaviais, os “coronéis” alimentados pela rapadura, fizeram valer a força das armas, porquanto os mais fortes eleitoralmente nem sempre tinham como evitar a sanha dos seus adversários (inimigos), quase sempre mais fortes pelo bacamarte.

Proveniente daquele mundo de caudilhos, mas precisamente do Crato, quando chegou à Vila Bela e Belmonte, o Monsenhor Afonso Antero Pequeno, logo pediu as lideranças políticas locais armas, munição e cangaceiros para ajudar ao primo “coronel” Antônio Luiz Alves Pequeno na luta pela deposição do “coronel” José Belém de Figueiredo, que na época ocupava o cargo de vice-presidente (vice-governador) do Estado do Ceará.

O “Coronel” Antônio Pereira, líder na época da família Pereira, negou-se categoricamente a participar dessa bravata.

A família Carvalho concordou com o Monsenhor em tudo e decidiu mandar Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé) com um grande contingente armado, tendo à frente o próprio sacerdote.

Iniciado o tiroteio, em dias do mês de junho de 1904, só após 55 horas de combate, o “coronel” Belém recuou e fugiu.

Vitorioso, o Monsenhor Afonso  volveu à Belmonte e Vila Bela, decidido a hostilizar a família Pereira. Logo participou da eleição municipal de Vila Bela, elegendo-se prefeito. Numa visita que lhe fizera, Antônio Quelé assassinou em praça pública o delegado de polícia Manoel Pereira Maranhão. No júri de Quelé, além do advogado que contratou, o Monsenhor participou pessoalmente da tribuna de defesa. O Monsenhor renunciou ao mandato de Prefeito e retirou-se para Garanhuns. Antes, porém, segundo alguns, o sacerdote conseguiu reacender a fogueira de ódio entre as famílias Pereira e Carvalho.

As gestões políticas do Monsenhor Afonso Pequeno em Vila Bela e Belmonte foram com toda evidência, as grandes responsáveis pelo estado beligerante deflagrado na ribeira do Pajeú, “a ribeira medonha”.

Alguns historiadores afirmam que tudo degenerou em banditismo, com a formação de grupos de cangaceiros para defender a própria família e por fim, o de Lampião, que perturbou a vida dos sertanejos em 07 estados da federação. Outros afiançam que foi o Monsenhor Afonso o responsável pela fase do obscurantismo no Pajeú  no período de 1904 a 1930.

O Monsenhor Afonso Antero Pequeno permaneceu na Paróquia de Belmonte até 12 de março de 1907, tendo falecido na cidade de Garanhuns no dia 26 de março de 1918. Para homenageá-lo, uma das antigas ruas de Belmonte possui o seu nome.

Fonte: http://blogdosilvalima.com.br/o-monsenhor-afonso-pequeno-e-a-velha-rixa-de-carvalho-e-pereira/

Foto: Mons. Afonso Pequeno.

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