Vejam como, mais de cem anos depois, observamos o lá distante comportamento de uma sociedade simples, despojada das sofisticadas novidades tecnológicas; com conversas na calçada ao invés dos rádios e televisões; saudáveis saraus nas residências com apresentação dos músicos, cantores, poetas e declamadores em notável apuro de suas qualidades artísticas; do convívio de famílias que se apresentavam em visitas protocolares quando chegavam à uma rua para residir e, do mesmo modo, visitas formais de despedida quando se mudavam; a quase obrigatória liturgia de pedir na casa vizinha uma xícara de açúcar ou uma colher de pó de café emprestados para atender uma falta ocasional; como uma vez me ensinou meu querido amigo e vizinho Estevão, já falecido: “vizinho que não incomoda não é vizinho!”; dos papos habituais mantidos nas lojas de então por grupos de amigos, sem contar com os jogos de gamão de Minervino, na entrada de sua loja “Veneza Americana”; o ritual cumprido à exaustão pela figura habitual de D. Nazinha percorrendo o dia inteiro a loja de Ferreira Costa, como hoje faz Ciro na loja da Imbiribeira (fiquei um dia de parte observando e lembrando os antigos tempos da loja secular); o sucesso de um rádio à bateria, no início da década de 40, instalado por Seu Matos (Arcelino Matos), na entrada de sua loja “A Atractiva” para divulgação ansiosa das notícias da guerra então em curso; as improvisações engenhosas dos nosso grêmios teatrais amadores; as tradicionais festas promovidas pelos três colégios, revelando valores artísticos; enfim, todos se conhecendo e se tratando pelos pré-nomes e até pelos apelidos.
Na sua singeleza e simplicidade, era uma sociedade suficientemente romântica capaz de sustentar sonhos coletivos e alimentar os delírios de um louco maravilhoso que almejava, e conseguia, colher e vender estrelas em nossa amada Garanhuns.
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