Em um certo dia da minha primeira administração (1977 a 1982) à frente do Governo Municipal de Garanhuns, em uma das constantes visitas que me fazia o jornalista Marcílio Reinaux, ele me disse: "Prefeito, Garanhuns precisa ter um Festival de Inverno". Marcílio acabara de participar do Festival Cultural de São Cristóvão, em Sergipe, como conferencista e Professor de História da Arte da Universidade Federal de Pernambuco. Antes disso, ele havia participado do Festival de Inverno de Campos de Jordão, em São Paulo. Marcílio dizia estar muito impressionado com o sucesso e a repercussão daqueles dois eventos, e por isso indagava: "porque não criar um Festival de Inverno para Garanhuns?"
Como Prefeito senti, de pronto, uma forte motivação de pensar seriamente no assunto e respondi: "Que ideia fantástica, vamos à ela". Corria o ano de 1981. Desde então, teve início, na minha gestão de prefeito, um longo caminho que seria percorrido, por mim, pelo próprio Marcílio e por uma meia dúzia de pessoas que convoquei dentre os meus principais auxiliares. O professor Jaime Pinheiro, por exemplo, que integrava a minha equipe na Prefeitura, ficou também entusiasmado com a ideia e começou a articular meios e a listar providências que pudessem viabilizar a implantação do Festival.
A Comissão era constituída pelas seguintes pessoas; os secretários Jaime Pinheiro, Luiz Henrique e Fernando Campos; os empresários Paulo Tavares e Luciano Oliveira; os jornalistas Gildson Oliveira e Marcílio Luna; os vereadores Paulo Gomes, Silvino Duarte e Audálio Ramos, e o arquiteto Marcílio Reinaux Maia (sobrinho do outro Marcílio) e que integrava a minha equipe, ocupando a Diretoria de Cultura), que se tornou um grande entusiasta da ideia, tratando, ele mesmo, enquanto arquiteto, dos aspectos espaciais e de ocupação do que viria a ser o festival. O outro Marcílio, o tio atuou como consultor da Comissão Organizadora. Não podemos esquecer a inestimável contribuição de várias outras pessoas aos trabalhos desenvolvidos pela Comissão, em especial a de minha esposa, Edjenalva, de Suzana, esposa de Paulo Tavares e de Juracy Calado e Graciete Branco.
Na audiência, o Governador ouviu tudo, atentamente, examinou os documentos apresentados e, antes mesmo de fazer indagações e se aprofundar no assunto, disse alto e em bom som: "Prefeito Ivo Amaral, eu compro a ideia". Nas conversas e entendimentos que se seguiram, o Governador dizia que aquele não seria um projeto apenas de Garanhuns.
Seria um Projeto que, se viabilizado, traria grandes benefícios para a região do agreste e para todo Estado. Para o Governador Joaquim Francisco, um festival de Inverno em Pernambuco era uma iniciativa pioneira com grande repercussão em toda sociedade. Estava certíssimo o Governador e a história do Festival de Inverno de Garanhuns é uma prova disso.
O então Secretário Estadual de Educação, José Jorge Vasconcelos, foi acionado pelo Governador bem como o então Presidente da Fundarpe, Rubem Valença Filho, o "Rubinho", que ficou maravilhado com o convite a pôs as mãos e o coração na tarefa de viabilização do Festival: uma grande contribuição. Afinal, o Rubinho tem suas origens em uma das grandes respeitadas famílias de Garanhuns, a família dos Valença, do padre Adelmar e de Amílcar (que foi prefeito do Município).
O Festival foi viabilizado e a sua primeira edição se deu em julho de 1991. Empresários, intelectuais, políticos, associações de classe, clube de serviço, escolas, colégios e faculdades formaram um verdadeiro mutirão em apoio ao evento, cada qual oferecendo a sua contribuição no somatório dos esforços que deu lugar ao Festival de Inverno de Garanhuns.
A História do Festival, que tem 29 anos, é cheia de lances heroicos. A cada ano, os desafios são maiores. Mas, é necessário que se ressalte que o nosso empenho e a disposição de dezena de companheiros, verdadeiros idealistas, fizeram com que a luta travada desde aquele dia da visita de Marcílio ao meu Gabinete, com a ideia que trazia nas mãos, não tenha sido uma luta inglória. O Festival se tornou uma realidade e veio para ficar.
Essa história de 29 anos também registra um momento triste. Após a realização do primeiro festival, um grupo de "aventureiros", cujos integrantes não eram residentes, nem tinham origens em Garanhuns, arvorou-se de "dono" do festival. E esse grupo entrou na justiça com uma Ação Popular reivindicando "direitos autorais" sobre algo que não haviam criado, que não haviam organizado e que, em verdade, não lhe pertencia. Os integrantes desse grupo apenas, em um momento, "trabalharam" naquele festival. Mas a Justiça foi exercitada. A luta desse grupo foi inglória.
Devemos ter sempre em mente que o Festival de Inverno de Garanhuns não pertence aos seus idealizadores, não pertence à Prefeitura Municipal, ao Governo do Estado, nem as empresas ou qualquer instituição, de direito público ou privado. O Festival de Inverno de Garanhuns pertence ao povo. E para isso ele foi criado, por um punhado de idealistas e sonhadores, como uma forma de demonstração de seu grande amor por Garanhuns.
*Ivo Tinô do Amaral foi vereador, vice-prefeito e prefeito por dois mandatos (1977/1982), (1989/1992) de Garanhuns e deputado estadual em duas legislaturas (1983/1986) e (1987/1990). Implantou o Relógio de Flores e criou o Festival de Inverno.
Fotos: (1) - Ivo Tinô do Amaral. (2) - Ivo Amaral e o governador Joaquim Francisco (1991). (3) - Cantor Dominguinhos no palco do 1º Festival de Garanhuns em 1991.
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