Polêmico e emblemático reverendo, homem franco, a ele atribuem-lhe esse conceito:
“ – Ou nada digo ou somente digo o que sinto. Não tenho duas caras. Venço pela força moral e, sendo preciso, pelo emprego das armas”.
Recebido solenemente no despontar do século passado nas freguesias de Vila Bela e Belmonte, sertão do Pajeú, para preencher a vaga de pároco naquelas duas localidades, o Monsenhor Afonso Antero Pequeno era um homem afeito ao intelecto e também ao trabuco, como falavam alguns, as circunstâncias o levaram a se colocar ao lado da família Carvalho, e por esse motivo ele foi apontado como insuflador do famoso conflito, culminando quando aconteceu o seguinte episódio:
Aos 17 dias do mês de julho do ano de 1905, por volta do meio dia, em plena feira de Vila Bela, Antônio Quelé de Carvalho assassinou Manoel Pereira Maranhão, mais conhecido como Seu Né do Baixio. O ocorrido causou grande agitação no lugar, o sangue dos Pereiras ferveu. Antônio Quelé foi preso e submetido a julgamento três vezes, sendo enfim absolvido. Durante o júri, o monsenhor Afonso Pequeno ocupou a tribuna como advogado na defesa de Quelé. Diante de sua liberdade, a família Pereira se sentiu afrontada e em consequência, desaprovando a atitude do monsenhor Afonso Pequeno, intensificou perseguição aos Carvalhos e ao reverendo, daí, o ronco do bacamarte começou a ecoar e a sua fumaça a embaçar os olhos dos sertanejos nos quatro cantos do Pajeú. O “ódio velho” entre as duas famílias recrudesceu com toda força...
Hoje, na cidade de São José do Belmonte onde foi vigário em princípios do século passado, a história do polêmico sacerdote é desconhecida pela grande maioria dos seus habitantes, todavia, o nome do Monsenhor Afonso Pequeno foi perpetuado através de uma das ruas centrais da cidade.
O monsenhor Afonso de Ligório Antero Pequeno, nasceu no Icó, Ceará, a 24 de julho de 1871.
Fez seus estudos em Roma, no Pontifício Colégio Pio Latino Americano, concluindo-os no Seminário de Olinda.
Nomeado D. Francisco do Rego Maia, bispo de Niterói, o monsenhor Afonso acompanhou-o como seu secretário, tendo sido ordenado sacerdote em Nova Friburgo, a 19 de agosto de 1894.
Naquela diocese foi secretário e governador do bispado e distinguido pela Santa Sé com o título de Prelado Doméstico de Sua Santidade o Papa Leão XIII.
Voltando para Pernambuco em 1898 foi nomeado vice-reitor do Seminário de Olinda e em novembro de 1902, nomeado vigário de Vila Bela e Belmonte.
Transferido para Garanhuns, muito se esforçou pela restauração da vida religiosa naquela freguesia. Nessa cidade o reverendo idealizou a fundação da Diocese de Garanhuns, fundou o Colégio Santa Sofia, e, ao entregar a paróquia, ao Cônego Benigno Lyra, exigiu do mesmo o compromisso de fundar o colégio dos meninos, que originou o tradicional Colégio Diocesano.
Em 1914 voltou para o Seminário de Olinda, onde foi professor de História do Brasil, Universal e Eclesiástica.
Presbítero secular do hábito de São Pedro. Prelado doméstico de sua santidade, faleceu o monsenhor Afonso Pequeno no dia 26 de março de 1918 na cidade de Olinda (PE). Era irmão dos padres Alberto Pequeno, reitor do Seminário Provincial de São Paulo e Plínio Pequeno, vigário de Queimadas.
O padre Olímpio de Melo, natural de Floresta (PE), ex-prefeito do Rio de Janeiro, sobre o monsenhor Afonso Pequeno escreveu:
“Quem melhor definiu a nobreza de alma do Monsenhor Afonso Pequeno foi o Cardeal D. Leme, ao terminar o retiro espiritual do clero, do Seminário de Olinda. Eram passados apenas dois meses da morte daquele saudoso ministro de Deus. O Cardeal Leme quis naquele momento de emoção e espiritualidade trazer a lembrança do Monsenhor Afonso Pequeno e o chamou de “alma revolucionária do bem”. Quem o conheceu poderá afirmar a mesma coisa. Era isto mesmo e nada mas.”
*Escritor e historiador.
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